sábado, 21 de março de 2015

EXISTE ERRO, SIM, DE PORTUGUÊS! UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DA IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA GRAMÁTICA



MAGALHÃES, Francisco Mário Lima

RESUMO

Alguns afirmam que não existem erros de Português, mas apenas há um preconceito linguístico. Por causa disso, muitos têm receios de falar essa palavra quando se trata de Língua Portuguesa. Isso acontece porque há algumas discrepâncias entre a linguagem formal usando a Gramática Normativa com mais rigor e a linguagem informal que a usa de uma forma intuitiva e natural. Esse artigo tem como finalidade demonstrar que a Gramática Normativa é importante e que o erro de Português existe, pois a linguagem está em desenvolvimento. Se ela assim está, não se deve afirmar que a aprendizagem da Gramática é obsoleta ou desnecessária. Portanto, o que se pode notar é que a Gramática Normativa sempre estará inserida no cotidiano das pessoas, pois ninguém fala desassociado totalmente das construções sintáticas e morfológicas da língua por ser necessário entender a sua organização. 

Palavras-chave: Gramática. Linguagem. preconceito linguístico

1 INTRODUÇÃO

A tarefa de um estudante ou pesquisador é analisar se de fato as teorias ou as várias vertentes teóricas são, de fato, coerentes, procurando falseá-las dentro do escopo argumentativo que elas deixam expostas como contradições, incoerências e vácuo de argumentos.

A expressão “erro” no estudo da gramática tem sido um tabu e alvo de muita polêmica. Por causa disso, muitos professores de Língua Portuguesa têm evitado de, pelos menos, falar a expressão erro e a trocam por “linguagem incoerente”, “não contextualizada”, “não apropriada”. Esse preconceito curioso tem vindo exatamente por influência de alguns linguistas por entenderem que a língua, por ser dinâmica e compreensível aos seus falantes, é suficiente, e o ensino da gramática normativa engessa e prejudica o seu entendimento formando o chamado “preconceito linguístico”.

O objetivo desse artigo é exatamente demonstrar que, apesar de reconhecer que a língua é dinâmica e sujeita a várias modificações durante o tempo, existem, sim, erros de Português. Por isso, precisa-se de um estudo sistemático da Gramática Normativa para que se possa ter uma compreensão completa da língua, já que esta não somente inclui a fala, mas a escrita e as várias vertentes que a língua em todos os tempos passa.

Por isso, a relevância desse artigo está em sanar a dúvida de vários estudantes de Língua Portuguesa se a Gramática Normativa é relevante, e trazer um equilíbrio à ideia sociolinguística do estudo da Gramática Normativa, pois na ânsia de defender a liberdade da fala e da gramática interna, vai-se para outro extremo do preconceito fazendo um discurso questionável.

Pretende-se, neste artigo, analisar alguns outros temas de linguistas, gramáticos e o livro considerado best-seller de Marcos Bagno, “Preconceito Lingüístico”, fazendo algumas considerações, e buscando analisar, de uma forma científica e lógica, que a Gramática Normativa é ainda importante.

2 EXISTE ERRO EM LÍNGUA PORTUGUESA?

Há um grande preconceito com a palavra “erro” quando se trata de Língua Portuguesa. Os professores dessa área vivem um dilema e até escolhem expressar-se com as palavras “linguagem incoerente”, “não contextualizada”, “não apropriada”. Esse dilema começa na universidade nos cursos de Letras quando os alunos começam a estudar Linguística e leem livros que ensinam que a Gramática Normativa é apenas um artifício de uma classe dominante e opressora. Se a base para percepção do erro é a Gramática Normativa, logo se perceberá que a expressão “erro” será questionada. É isso que Marcos Bagno quer demonstrar quando questiona o que ele chamou de “Gramática Escolar”. Ele afirma: “A gramática escolar, no entanto, desconhece essa transformação porque a língua está passando e insiste em considerar “erradas” construções como ‘Eu conheço ele’, ‘Você viu ela chegar’ etc” (2007, p. 25).

Marcos Bagno, ao falar sobre alguns mitos que trazem o que ele chama de “preconceito lingüístico”, admite que a palavra “errado” é mal empregada devido à grande incidência das expressões “Eu conheço ele” e “Você viu ela chegar”.

Marcos Bagno, ainda, faz um difícil trabalho de convencer que erro não existe porque a Língua se difere da ortografia oficial. Ele afirma em seu mesmo livro no tema “O que é erro?”:

Como vimos na primeira parte do livro, o Mito 6 expressa a prática milenar de confundir língua em geral com escrita e, mais reduzidamente ainda, com ortografia oficial. A tal ponto que uma elevada porcentagem do que se rotula de “erro de português” é, na verdade, mero desvio da ortografia oficial. (2007, p. 122).


Para Marcos Bagno, a ortografia não é Língua Portuguesa e o seu argumento se baseia que ela vem apenas por um decreto e gesto político. Ele afirma ainda: “A ortografia oficial é fruto de um gesto político, é determinada por decreto, é resultado de negociações e pressões de toda ordem (geopolíticas, econômicas, ideológicas)” (2007, p.123). Para ele, o simples fato de algo ser resultado de um gesto político e determinado por decreto desqualifica-o fazer parte da Língua Portuguesa propriamente dita.

No entanto, não é difícil perceber incoerência e falácias nesses argumentos. Primeiro, porque o autor faz uso, no seu livro, de uma ortografia impecável. Se ele fez uso da ortografia no seu mais alto rigor, ele admite a sua importância de comunicar devidamente a um determinado público. Não obstante, precisa-se entender que a ortografia é uma representação de signos que são completamente convencionais. Por isso que existem letras gregas, orientais, hebraicas, árabes. Fica claro que todas essas letras passam a fazer parte das respectivas línguas. Por exemplo: eu nunca conheci pessoalmente esse autor e nunca o ouvi pessoalmente, mas o que sei do que ele pensa é através dos signos representados que são as letras e palavras na Língua Portuguesa. O simples fato de ser um decreto oficializado não tira a sua importância na Língua Portuguesa e nem a deixa de demonstrar que faz parte da língua, tornando-se uma falácia não inteligente porque todas palavras e letras são naturalmente convencionadas pelo povo que assume determinada língua.

Outro exemplo importante é que até o sétimo século a língua hebraica não era representada por vogais por ser uma língua composta somente por consoantes. Os chamados “massoretas” passaram a dar representação das vogais às letras hebraicas para que os seus sons fossem preservados. Hoje, quando se estuda a língua hebraica, faz-se necessário usar esses símbolos para que se saiba a sua real pronúncia e significado, já que as pronúncias e consoantes têm sons tênues e parecidos. Se alguém afirmar que esses símbolos massoréticos não fazem parte da gramática ou da língua hebraica para qualquer judeu será um absurdo. Outro exemplo são os manuscritos em grego e em latim. O que temos da língua é apenas a representação das palavras e ortografia da época. Hoje, o grego moderno tem palavras com ortografia diferente do grego koinê e clássico. Todas elas foram convencionadas, mas não implicou que deixaram de fazer parte da língua.

Na Língua Portuguesa, a ortografia inclui significados e referenciais que, se trocados, podem dificultar a significação. Por isso, a ortografia se torna mais exigente. Imaginemos que tenha em uma placa luminosa em um ambiente com a seguinte frase: “Concerto a noite”. O leitor não vai saber se aquele ambiente é uma oficina, pois há “conserto à noite”, ou se tem toda noite um “concerto de música”, ou se é uma poesia que alguém quis dizer que “consertava a noite”. A simples dúvida leva a prejudicar a comunicação que os linguistas tanto valorizam demonstrando que a ortografia faz parte da Língua Portuguesa.

Vigotsky tinha uma consciência que a Gramática estava intrinsecamente relacionada com as palavras na língua. A Dra. Elisabeth Ramos da Silva analisa isso no seu ensaio sobre o ensino de Gramática à luz das concepções de Vigotsky:

Cabe lembrar que, ainda segundo Vigotsky, a escrita exige uma ação analítica intencional, o que não ocorre na fala. De fato, para escrever um texto é preciso consciência fonológica, capacidade de ordenar sequências de palavras e orações, obediência deliberada aos princípios gramaticais da língua, bem como a certas regras, quando se deseja utilizar a língua padrão. (SILVA, 2004, p. 72)

Segundo Vigotsky, seria difícil desvincular a gramática das palavras, pois as funções como a sintaxe depende delas e essas precisam ser representadas de uma forma que seja oficializada pelos falantes ou pela etnia. Porém, pode-se entender por que o lingüista Marcos Bagno teve o cuidado de explicar sobre a ortografia, pois ela é uma evidência indubitável que existe erro de português como foi demonstrado na frase ambígua “concerto a noite”.

Um dos conceitos de “erro” no moderno dicionário Houaiss é: “desvio do caminho considerado correto, bom, apropriado; desregramento” (HOUAISS, 2009). Segundo Houaiss, o erro inclui em fazer ou agir de uma forma não apropriada, em total desregramento. Negar isso é anular os padrões da língua que se estabelecem nos dicionários. Fica óbvio que alguém que não usa uma linguagem apropriada com a gramática em um lugar que a maioria das pessoas tem como base as regras de regência verbal, uso correto dos pronomes pessoais e concordância nominal pratica uma inadequação na língua. Se for defendido que essas pessoas não têm compromisso com os que levam o uso da gramática em conta, comete o mais terrível do preconceito linguístico, pois o preconceito não tem mão única, mas mão dupla que abrange a todos. Tanto aqueles que não levam em conta a Gramática como aqueles que a levam.

Dr. Helênio de Oliveira, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro em seu artigo “Como e quando interferir no comportamento lingüístico do aluno” escreve:

O outro extremo (atitude laissez-faire) baseia-se no mito romântico da espontaneidade da linguagem, segundo o qual não se deveria interferir no comportamento lingüístico do estudante, nem lhe ensinando técnicas narrativas, argumentativas, poéticas etc., corrigindo sua linguagem. Boissinot (1994:11) critica a “ideologia neo-romântica da espontaneidade do sujeito falante, da liberação da palavra, incompatível com abordagem técnica e metódica da arte do discurso” (2000, p. 1).

Segundo o professor, quando não se interfere na linguagem do aluno ensinando-lhe uma linguagem correta e adequada à situação, entra-se em outro extremo e passa a viver um mito romântico, entrando-se também em uma contradição palpável do tipo que critica o rigor da linguagem sugerindo a quebrar mitos e barreiras, mas, ao mesmo tempo, escreve-se com uma perfeição gramatical impecável como o autor do livro “Preconceito Lingüístico”. Ou seja, “faça o que eu digo, mas não faça da forma que eu faço”. O professor ainda escreve em seu artigo sobre “Tipologia dos erros de comunicação”:

Em qualquer país, o aprendizado da variedade formal culta do idioma se dá gradualmente na fase de aquisição dessa variedade: o aluno comete erros. Num país como o Brasil existe ainda a agravante de que a distância entre formal e informal é,  como vimos, bastante acentuada. Se o erro de linguagem existe, é pedagogicamente desejável que seja corrigido, isto é, que se tome um conjunto de providências didáticas destinadas a levar o aluno a adquirir as habilidades cuja não aquisição o leva a errar, o que não se deve confundir com uma atitude prescritiva grosseira. Tal “correção” pode consistir inclusive em atividades que desenvolvam prazerosamente o hábito da leitura, pondo o aluno em contato com a linguagem padrão. (2000, p. 4)


Segundo ainda o Dr. Helênio, a ideia de erradicar qualquer erro vem da Semana de Arte Moderna, onde seus autores procuraram enfatizar uma linguagem solta de regras e trazer os vícios de linguagem popular. Ele demonstra que os erros devem ser corrigidos na sala de aula para que o aluno possa conhecer as várias habilidades da linguagem. Ele se baseia que em qualquer país o “erro” é uma realidade na língua e que a escola treina os alunos a estarem preparados para todas as linguagens.
O “erro” de Português é algo tão óbvio e claro que o próprio Marcos Bagno admite em seu livro que ele existe, embora que afirme, logo depois, que é impossível alguém cometer tais erros. Ele afirma:

Assim, podemos até dizer que existem “erros de português”, só
que nenhum falante nativo da língua os comete! Por exemplo, seriam “errados” os enunciados abaixo (o asterisco indica construção agramatical):
 (1) *Aquela garoto me xingou
 (2) *Eu nos vimos ontem na escola
 (3) *Júlia chegou semana que vem
 (4) *Não duvido que ele não queira não vir aqui
 (5) *Que o livro que a moça que Luís que trabalha comigo me apresentou escreveu é bom não nego. (2007, p.125)


Não precisa ser muito inteligente para perceber a total contradição de Marcos Bagno. A primeira contradição é que ele afirma que existe, de alguma forma, erros de Português. No entanto, Marcos Bagno usa a falácia da “autoridade”, isto é, o argumento dele que esses erros não existem está baseado apenas na sua palavra e nada mais. No entanto, pergunta-se: ele se baseou em pesquisa para afirmar isso? Ele teve a chance de conversar com crianças (que mais erram dessa maneira) de todo o Brasil e dos demais países que falam a nossa língua? E se houver um nativo da língua que cometa um desses erros, Marcos Bagno admitiria a importância da Gramática? Na verdade, esse argumento destruiu tudo o que ele tinha construído que erro de Português é apenas uma ideia preconceituosa.

A frase (1) que fala “aquela garoto me xingou” é quase imperceptível se alguém cometer esse erro, como existem várias crianças que costumam fazer quando estão aprendendo a falar. Mesmo assim, existem momentos da informalidade que cometemos erros por falar mais rápido ocorrendo esses tipos de erros. No entanto, mesmo levando em conta o que Marcos Bagno escreveu que não ocorre, coisa que não pode ser provada, jamais a mensagem dessa frase perderia o seu teor de comunicação, pois a pessoa que ouvir vai saber que foi um garoto que o xingou, embora que comece com um pronome demonstrativo feminino. Ele afirma: “Ao recebermos um texto escrito por alguém (ou ao ouvir alguém falar), vamos procurar ver, antes de tudo, o que ele/ela está querendo comunicar” (2009, p.138). Afinal de contas, quem não saberia o que se está dizendo com essa expressão? Portanto, o que Marcos Bagno afirma que é erro está dentro dos critérios que ele mesmo defende para não ser, pois a pessoa entenderia muito bem ao falar ou ao escrever essa frase.

A frase (5) é um erro muito freqüente entre alunos de primeiro ano do ensino Médio. Eu mesmo já presenciei vários textos que têm erros semelhantes de coesão. Não obstante a tudo isso, mais uma vez se vê a carência do bom uso da Gramática na escrita, pois os erros da frase (5) implicam em coesão textual com um bom uso de conjunções, conectivos e pontuação que incluem alto conhecimento da Gramática.

Embora que Marcos Bagno não considere que esses erros específicos sejam possíveis, ele tem que admitir que a essência deles é uma realidade – uma total incompatibilidade gramatical de regência e inadequação da linguagem, mesmo que haja compreensão. Para se notar a incoerência e a falácia do argumento de Marcos Bagno, imagine que eu diga que não exista erro de Matemática, mas poderia até ter, como o exemplo de 2 + 2 = 5. Logo depois, eu afirmasse, sem nenhuma falseabilidade, que esse erro ninguém cometeria. No entanto, a essência do erro existe da mesma forma que alguém resolvesse de uma forma errada a conta 2+2x4=16, pois o erro tem exatamente a mesma essência de 2+2=5, ou seja, é o que Houaiss conceituou, que os dois têm o desregramento ou um desvio que se convencionou correto, pois os números são completamente convencionais. Por isso que os números, tanto em latim como em grego, eram representados por letras.

Portanto, erro de Português existe, confirmado pelo próprio Marcos Bagno, pois a essência do erro é a mesma, mesmo que não tenha a mesma estrutura frasal no período.

3 REFERENCIAL LINGUÍSTICO E A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA GRAMÁTICA NORMATIVA

A Gramática Normativa tem sido minimizada por muitos lingüistas e, consequentemente, o seu uso nas escolas e universidades. Alguns professores de universidade passam uma ideia que a Gramática Normativa é facultativa e que ela é somente para uso acadêmico específico, não sendo necessário aprofundar-se. Por isso, não é raro perceber, em muitos estudantes do curso de Letras, erros primários de Português como “seje”, separando sujeito e predicado com vírgulas em textos, errando em regência verbal, sem falar nos graves erros de coesão textual.

Precisa-se admitir que alguns aspectos da Gramática de uma língua correm o risco de se tornar obsoletos, mas jamais toda ela. Por exemplo: Quando uma pessoa fala: “Nos faça um favor: ouça o que temos para falar e nós vamos entrar num acordo”. O que se pode notar é que o uso da próclise aconteceu no começo de uma expressão quebrando a regra da Gramática Normativa. No entanto, foram usadas as regras em todo o restante da oração. Isso significa que a Gramática não é totalmente descartável nem se pode afirmar que ela é dispensável, pois isso acontece em toda língua. Além do mais que a linguagem formal ou culta ainda é usada na escrita e em ocasiões formais.

Percebe-se, no entanto, a importância da Gramática quando se nota que sempre falamos com base em referencial lingüístico da língua que é a sua Gramática, seja consciente ou não. Quando não se fala dentro desse referencial que se adota, constitui-se uma inadequação da linguagem que os dicionários chamam de erro; seja verbal ou escrito. O “erro”, pois, precisa de um referencial como base, pois ele é sua distorção ou a sua inadequação. Esse referencial está na pessoa que o adota, ou seja, o erro sempre dependerá do referencial da pessoa. Por exemplo: se alguém estiver em um ambiente que todas as pessoas somente falam em uma linguagem informal, eles não têm como referencial as normas, signos e sintaxe conscientes, embora que as use. No entanto, se houver uma pessoa que tem como referencial linguístico as regras da Gramática normativa em alguns aspectos, mesmo que em outros não, aquela pessoa vai analisar a linguagem dos demais com o referencial de normas, signos e sintaxe de uma forma consciente, podendo haver um bloqueio na empatia de comunicação.

Portanto, aqueles que não estiverem adequados à Gramática errarão na concepção daquela pessoa, como para os demais não há erros. Por isso, o erro sempre dependerá do referencial que se adota. A professora Elisabeth Ramos em seu artigo com o nome de “O ensino da gramática à luz das concepções de Vygotsky” afirma: “A gramática teórica permite ao falante entender sua língua como um sistema organizado, lógico e coerente, tornando-lhe possível a reflexão sobre as regras e os princípios da língua”. Para a professora, a Gramática permite ao falante ter um referencial, pois a língua é um sistema organizado, lógico e coerente. Ela, ainda, afirma o que Vygotsky pensava sobre o ensino da Gramática:

Já se chegou mesmo a dizer que o ensino de gramática na escola poderia ser abolido. Podemos replicar que a nossa análise mostrou claramente que o estudo de gramática é de grande importância para o desenvolvimento mental da criança. [...] Ela pode não adquirir novas formas gramaticais ou sintáticas na escola, mas, graças ao aprendizado da gramática e da escrita, a criança realmente torna-se consciente do que está fazendo e aprende a usar as habilidades conscientemente. [...] A gramática e a escrita ajudam a criança a passar para um nível mais elevado do desenvolvimento da fala (SILVA, 2004, p. 72).

Para Vygotsky, o estudo da Gramática é essencial porque é importante para o desenvolvimento mental da criança. A Gramática a torna consciente na escola ensinando-a a usar as habilidades conscientemente. Isto quer dizer que, segundo Vygotsky, o que a criança sabe, através da aprendizagem natural e dos hábitos, ela desenvolve através do estudo da gramática na escola conscientemente e, com isso, passa a criança a desenvolver-se para um nível mais elevado da fala. Para isso, é necessário ter um referencial gramatical, mesmo de uma forma inconsciente, pois quando se usa um pronome na primeira pessoa do plural para falar de muitas pessoas incluindo-se, mesmo errando a conjugação do verbo, não se deixa de ter um referencial gramatical. No entanto, quando a criança aprende na escola algumas normas da Gramática, ela passa a tê-las como referencial em sua linguagem.

Varias vezes, como professor, percebi alunos criticando seus colegas por alguns descuidos gramaticais na sala de aula. Isso demonstra que alguns têm a Gramática, mesmo sem dominá-la, como referencial nas suas falas no ambiente escolar. Foi exatamente isso que Chomsky demonstrou em seu livro “Aspectos da Teoria da Sintaxe”. Ele fala sobre a importância da Gramática como também sobre os referenciais intrínsecos que ela nos forma. Ele afirmou:

Se uma frase como “flying planes can be dangerous” for apresentada num contexto construído apropriadamente, o ouvinte interpretá-la-á imediatamente de um modo único, e não conseguirá detectar a ambiguidade. Na realidade, ele pode rejeitar a segunda interpretação, quando esta lhe é indicada, como sendo forçada ou pouco natural (independentemente da interpretação que ele escolheu originalmente sob a pressão do contexto). No entanto, o seu conhecimento intuitivo da língua é tal que ambas as interpretações (correspondendo a “flying planes are dangerous” e “flying planes is dangerous” são atribuídas à frase pela gramática que ele, de uma determinada forma, interiorizou. No caso agora mencionado, a ambiguidade pode ser bastante transparente. (CHOMSKY, 1975, P. 103)

Para Chomsky, a Gramática é interiorizada e ela passa a ser exatamente como um referencial linguístico, pois o significado da frase depende de como a concebemos. Chomsky dá outro exemplo para demonstrar a importância da Gramática, tendo-a como referencial lingüístico. Segundo ele, a frase “João, Luís e Maria saíram” precisa-se ter um referencial da gramática para tirar a ambigüidade. Se usar o verbo no singular “saiu”, dará a entender que somente Maria saiu, sendo apenas citados o João e Maria. No entanto, o verbo no plural demonstra que as três pessoas saíram. Chomsky, com esse exemplo, demonstra que a Gramática é importante como também ela precisa ser conscientemente usada dependendo do contexto que a oração for empregada. Por exemplo, se essa frase vier como resposta de uma pergunta: “quem saiu?”, a resposta será compreendida mesmo falando: “João, Luís e Maria saiu”. No entanto, se essa frase vier como uma afirmação inicial, pode haver um problema de comunicação na fala e muito mais se for na escrita.

4 A TRANSIÇÃO DA LINGUAGEM E DA GRAMÁTICA

Um aspecto que se deve levar em conta é que, em toda linguagem, existe transição porque ela é dinâmica. Essa transição se manifesta nas variações linguísticas até chegarem em dialetos ou em outra língua.

Em todas as épocas, a linguagem teve esse processo de transição. As línguas gregas e latinas são exemplos disso. Havia uma variação grega que chamaram de koinê como do latim que chamaram de vulgar. Todas essas variações vieram por que havia a linguagem formal e a informal. Na Língua Portuguesa do Brasil, apesar de terem muitas peculiaridades, ainda se preserva as formalidades da linguagem bem como o uso adequado de pronomes e regência de verbos por que a língua está em plena transição. Quando se exclui a importância de falar dentro de critérios da gramática normativa, está-se negando ou ignorando a transição que acontece em toda língua. Por exemplo, pessoas que não têm escolaridade costumam empregar os pronomes oblíquos errados em expressões como “nós se decepcionamos”, em vez de “nós nos decepcionamos”. No entanto, quem os emprega, mesmo de uma forma errada, não deixou de usar corretamente o verbo conjugado conforme o pronome-sujeito, combinando o número da primeira pessoa do plural. Isso demonstra que não foi abandonado totalmente a estrutura gramatical normativa, pois a língua está em transição e isso pode ter acontecido pela falta de conhecimento de uso dos pronomes devidos.
John Lyons, em seu livro “As Idéias de Chomsky”, afirma:

Chomsky e seus colaboradores chegaram à conclusão de que o significado das sentenças poderia e deveria ser submetido à mesma espécie de análise precisa e formal a que são submetidas suas estruturas sintáticas e que a semântica deveria ver-se incluída como parte integrante da análise gramatical das línguas. (1970, p.79)

Para Chomsky, a semântica está incluída na análise gramatical da língua, pois, mesmo que a pessoa não domine algumas regras da gramática normativa, ela vai procurar ajustar-se com o conhecimento intrínseco gramatical que ela tem da prática e da fala.

Portanto, ao excluir a importância da gramática normativa, afirma-se, com isso, que não existe transição, mas uma língua formada, e isso não condiz com a realidade, já que em alguns casos as pessoas levam em conta a linguagem formal e culta. Seja para escrever, seja para falar. Chega-se, pois, à conclusão que a língua é composta sempre de uma linguagem em transição, juntando a língua culta com a língua informal aprendida no dia a dia.

Roberto Gomes Camacho, em seu ensaio sobre Norma Culta e Variedades Lingüísticas, escreve sobre a necessidade de ter consciência que a língua não está associada com a homogeneidade. Ele afirma que, ao contrário do que muitos pensam, ela tem necessidade de variação, pois é uma característica inerente. Assim ele escreveu:

Por que é possível fazer essas adivinhações com grau considerável de acerto? A resposta mais natural é porque, por um lado, toda língua varia, isto é, não existe comunidade linguística alguma em que todos falem do mesmo modo e porque, por outro lado, a variação é o reflexo de diferenças sociais, como origem geográfica e classe social, e de circunstâncias da comunicação. Com efeito, um dos princípios mais evidentes desenvolvidos pela linguística é que a organização estrutural de uma língua (os sons, a gramática, o léxico) não está rigorosamente associada com homogeneidade; pelo contrário, a variação é uma característica inerente das línguas naturais. (CAMACHO, 2012, p. 35)

A linguagem necessita de uma abordagem heterogênea porque ela é viva e está sempre em transição. Se ela é assim, por que tratar uma em detrimento da outra ou por que não levar em conta a Gramática Normativa que é base para um tipo de linguagem? Precisa-se sempre lembrar que nunca se está totalmente desassociado da Gramática, pois sempre se buscará regras que sejam compatíveis com a linguagem. Nenhuma pessoa, mesmo a mais analfabeta, jamais diria: “Mim quer comer!”ou “Mim quero comer”. Ele, com certeza, irá usar o pronome pessoal correto ou, se usá-lo de uma forma Elíptica, colocará o verbo no tempo e conjugação corretos. Isso não se dá somente pela prática, mas também pela necessidade gramatical aprendida pela fala.

Portanto, pela necessidade da transição da linguagem que sempre relacionará o uso informal com os conhecimentos adquiridos da Gramática Normativa é que o estudo da Gramática Normativa se torna importante.

5 A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR A GRAMÁTICA NORMATIVA PARA SE ENTENDER ASPECTOS DA LINGUAGEM

O estudo da Gramática é essencial para que se entenda o funcionamento da língua. Todas as línguas têm semelhanças sintáticas, embora que elas tenham diferenças dos signos ou significando. Por exemplo, toda língua tem um sujeito, um verbo, objetos e adjuntos adverbiais, nominais e prepositivos. Quando se estuda a Gramática, tem-se uma visão mais ampla da estrutura da linguagem de qualquer outra língua. O sujeito sempre vai ter a função do agente do verbo, ou aquele que vai sofrer a ação, ou até fazer as duas. Uma língua pode ter gramáticas bem diferentes como as línguas orientais, hebraicas, árabe ou grega, mas todas elas apresentarão estruturas semelhantes de sujeito-verbo-objeto.

Quando se estuda a Gramática da Língua Portuguesa, está-se estudando a estrutura da língua e levando o aluno a entendê-la de uma forma mais lógica e profunda. Percebe-se que os alunos que mais têm dificuldade de aprender outra língua ou entender a sua estrutura são aqueles que não conhecem aspectos da gramática do vernáculo, pois existem coisas comuns a todas as línguas.

Vygostsky entendia que a Gramática era muito útil para o desenvolvimento mental da criança e que ela a leva entender a sua língua como um sistema organizado, lógico e coerente, tornando-lhe possível a reflexão sobre as regras e os princípios da sua própria língua. Ele afirma:

Já se chegou mesmo a dizer que o ensino de gramática na escola poderia ser abolido. Podemos replicar que a nossa análise mostrou claramente que o estudo de gramática é de grande importância para o desenvolvimento mental da criança. [...] Ela pode não adquirir novas formas gramaticais ou sintáticas na escola, mas, graças ao aprendizado da gramática e da escrita, realmente torna-se consciente do que está fazendo e aprende a usar as habilidades conscientemente. [...] A gramática e a escrita ajudam a criança a passar para um nível mais elevado do desenvolvimento da fala. (SILVA, 2004, P. 72)

Segundo Vygotsky, a Gramática levará a criança ou o estudante a racionalizar as regras linguísticas da fala desenvolvendo-as quando a estuda. Para ele, a Gramática é de grande importância, pois ela amplia o raciocínio cognitivo da estrutura linguística. Por exemplo, quando uma criança chama sua mãe, ela coloca o sujeito antes do verbo. No entanto, ela não racionaliza que o sujeito age em torno do verbo. Somente com o estudo da Gramática, a criança entenderá que a estrutura frasal está formada de uma forma lógica segundo a sua língua e seus signos. Ela verá ao estudar, portanto, que todas as línguas terão um emissor formado de um sujeito em torno do verbo. Por isso, Vygotsky entende a Gramática como um meio de habilidade consciente para o desenvolvimento da fala. Segundo Silva (2004, p.72), Vygotsky ainda tem a ideia que a escrita necessita de uma ação analítica intencional, o que não ocorre na fala. Isso significa que ao escrever temos que agir com mais análise que a fala. Para isso, a Gramática será indispensável. Na fala, a ação é intuitiva e automática; já na escrita, ela é analítica e envolve estrutura mais consciente da Gramática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O erro de Português é uma realidade, pois existem várias linguagens e, dentre elas, a língua culta ou formal que ainda é usada em todos os tempos. Os professores precisam perder o medo de corrigir seus alunos na sala de aula explicando-lhes que precisam conhecer não somente a estrutura da língua, mas como também as várias linguagens e, dentre elas, a linguagem culta e formal que é muito usada nos meios acadêmicos e trabalhistas, sem falar que a gramática não é abandonada totalmente mesmo na linguagem informal.

O aluno precisa entender que as demais pessoas se chegarão a ele com um referencial lingüístico que julgará a sua linguagem mediante isso e que, caso ele não esteja dentro desse referencial, será criticado e corrigido, dependendo da ocasião. Não é suprimindo o erro que ameniza a falta de aceitação de pessoas que não falam conforme o nosso referencial, mas é levando-os a entender que existem pessoas que devem ser aceitas, embora não falem dentro de nossos referenciais ou que não tenham tido oportunidade de estudar melhor a língua culta. Da mesma forma, esses devem entender que aqueles que estudaram são mais exigentes e que eles irão sempre esperar que se fale dentro dos padrões mínimos gramaticais em um discurso. Esses precisam perceber que a linguagem está em profunda transição e que jamais houve uma língua que eliminasse de vez a língua culta ou a importância da sua gramática.

A estrutura da linguagem é mais organizada, sistematizada e melhor entendida quando se estuda a Gramática Normativa como Vygotsky percebeu muito bem. Negar isso a estudantes da língua é negar a capacidade de percepção além de sua própria linguagem; é deixar de levar a transcender a sua própria linguagem entendendo a sua universalidade.

Portanto, os professores como os alunos devem perceber a importância da Gramática, bem como também da linguagem culta para a sociedade. Precisa-se ter todo o cuidado de que, na busca de evitar o chamado “preconceito lingüístico”, não se faça outro mais cruel – o preconceito de estudar e entender a estrutura de sua própria língua.

P.S: Caso queira o artigo em PDF, vá para esse endereço aqui.

REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. São Paulo: Loyola, 2007.

CHOMSKY, Noam. Aspectos da Teoria da Sintaxe. Coimbra: The MIT press, 1975.

CAMACHO, Roberto Gomes. Norma Culta e variedades lingüísticas. São José do Rio Preto: UNESP, 2012.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss. São Paulo: Objetiva LTDA, 2009.

LYONS, John. As ideias de Chomsky. São Paulo: Cultrix, 1970.

OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. Como e quando interferir no comportamento linguístico do aluno. UFRJ: Rio de Janeiro, 2000.

SILVA, Elisabeth Ramos da Silva. O Ensino de gramática à luz das concepções de Vygotsky. Janus Lorena, ano 1, n. 1, 2o semestre, 200

quinta-feira, 19 de março de 2015

UMA REFUTAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO DE WILLIAN CRAIG SOBRE ROMANOS 9






O texto de Romanos 9 traz um incômodo contundente àqueles que aderem à doutrina arminiana ou semipelagiana. Por isso, é muito comum ter nos sites e blogs arminianos textos que tentam interpretar Romanos 9 refutando o que eles dizem a “interpretação reformada”.

O site “Pentecostais Verdadeiros” teve o cuidado de expor a refutação de Roger Olson a uma afirmação de John Piper que, segundo ele, John Piper, ao ser questionado se algum teólogo arminiano o influenciou em algum momento da sua vida, respondeu que nenhum teólogo arminiano o influenciou, pois “eles têm uma exegese decepcionante”.

Eu tenho o mesmo ponto de vista do Dr. John Piper. Os teólogos arminianos têm uma exegese completamente deficiente e, facilmente, um estudioso atento pode perceber e demonstrar isso.

O site Ministério Apologético colocou um texto de autoria de William Lane Craig respondendo a questionamentos de um jovem ateu que inclui o texto de Rm 9. O Dr. Craig é um bom apologista, mas tenho que admitir que quando o Dr. Craig vai para as Escrituras, nesse assunto, demonstra uma total inabilidade exegética ratificando o que o Dr. John Piper afirmou.

O Dr. William Lane Craig tenta responder a um jovem ateu por nome Darrin que o escreveu de uma forma muito sincera sobre alguns problemas que ele tinha sobre a existência de Deus. O primeiro problema lida sobre a ressurreição de Cristo que não vou tocar, pois nisso andamos juntos e a sua reposta foi bem satisfatória. No entanto, a segunda dificuldade do jovem ateu, Darrin, deixou-me impressionado com a sua visão do texto. É nessa resposta que me dedicarei para demonstrar a distorção de alguns aspectos exegéticos que não foram levados em conta no texto do Dr. Craig.

O que me impressiona é que o ateu coloca, como uma dificuldade, o caráter de Deus e usa o texto de Romanos 9 e João 6.65 para afirmar que Deus, segundo ele, é “tirânico e indigno de adoração e de fato é difícil para alguém de fora da fé responder à interpretação calvinista de Romanos 9 com algo menos que ódio”. O mais interessante é a seguinte declaração do ateu: “Muitos reformados pensam que esta passagem mostra a dupla predestinação e a eleição incondicional, e sou forçado a concordar com eles – como também Cristo em Jo 6.65!”.

Ele colocou a dificuldade do texto quando Paulo afirma em Rm 9.17: “‘Eu o levantei exatamente com este propósito…’ e então discute a ideia que os vasos que Deus fez para ‘uso comum’ existem somente para o propósito de mostrar sua paciência aos seus vasos mais especiais.”

O jovem ateu admitiu sobre o texto o que qualquer pessoa honesta intelectualmente, que tenha um certo conhecimento de leitura, literatura e lógica linguística chegaria: o texto diz o que realmente ele quis dizer – Deus é totalmente soberano em sua salvação.

A resposta do Dr. Craig passou por vários problemas que gostaria de destacar:

O Dr. Craig responde esse segundo questionamento dizendo que:

devido à teologia reformada, temos a tendência de ler Paulo como que limitando o escopo da eleição de Deus a uns poucos escolhidos, e aqueles que não foram escolhidos não podem reclamar se Deus em sua soberania os despreza. 


Ele conclui dizendo que acredita que é uma interpretação equivocada do capítulo que não leva em conta o contexto da carta. No entanto, percebe-se que quem não levou em conta, não só o contexto da carta, mas o contexto imediato e a analogia das Escrituras foi o Dr. Craig como vou demonstrar nesse texto.

O Dr. Craig não levou em conta que quem limita o escopo da eleição não são os reformados, mas a própria Bíblia. Há duas grandes evidências sobre isso: a exegética e a textual com analogia de outras passagens.

A evidência textual e etimológica:

O Verbo grego usado para “eleger, escolher” é ἐκλέγω. Esse verbo é um composto de duas palavras: a preposição ἐκ “sair de” mais o verbo grego λέγω, “falar”. Implicava em escolher algumas pessoas de um determinado grupo apontando. Por isso a preposição ἐκ na etimologia da palavra. Portanto, quando se afirma que essa palavra é usada para “escolher a todos”, está fazendo a declaração mais patética que se possa ver ou ouvir.

Esse verbo é usado cerca de 19 vezes no NT, e todas as vezes que ele é relacionado à Igreja ou aos convertidos jamais quis demonstrar uma escolha de todas demais pessoas.

Os textos que são usados para outras escolhas, todos eles demonstram que a escolha não inclui o todo, mas escolhe-se DE um todo. Por exemplo:

Luke 10:42  2 Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.

ενος δε εστιν χρεια μαρια δε την αγαθην μεριδα εξελεξατο ητις ουκ αφαιρεθησεται απ αυτης

Notemos que την αγαθην μεριδα está em completa ênfase demonstrando o que Maria escolheu εξελεξατο, que era estar com Cristo em vez de ajudar sua irmã.

Portanto, quando o Dr. Craig e os arminianos afirmam que a eleição inclui todas as pessoas, eles estão colocando em vulnerabilidade a capacidade exegética, lógica e cognitiva deles.

Imaginemos que um professor dissesse em uma sala de aula: “eu resolvi escolher da sala quem deve fazer a minha prova no próximo mês!”. Os alunos ficariam perplexos esperando o professor falar os nomes. Depois, o professor fala: “eu escolhi todos vocês”. O mínimo que aconteceria era que a turma toda riria desse professor ou pensaria que ele tinha um raciocínio deficiente, e se ele continuasse a defender isso, seria diagnosticado como esquizofrênico. Como alguém que diz que vai escolher o todo? Isso seria completamente redundante e patético.

Ou imaginemos que toda a mídia apreensiva esperasse o técnico da Seleção Brasileira dizer os nomes daqueles que iriam fazer parte dos jogos da Copa. Ele senta na cadeira e afirma: “eu escolhi todos os jogadores”. Os repórteres ficariam da mesma forma quando um calvinista lê ou ouve de um arminiano que afirma que Deus escolheu todos para a salvação. Realmente é de sentir dó!

2. A evidência da analogia das Escrituras

A segunda evidência que temos é a mais contundente, pois fala da analogia das Escrituras que é um princípio básico da Hermenêutica, ou seja, a Bíblia interpreta a própria Bíblia.

Comecemos pelo VT:

Isaiah 41:8-9   8 Mas tu, ó Israel, servo meu, tu, Jacó, a quem elegi, descendente de Abraão, meu amigo,  9 tu, a quem tomei das extremidades da terra, e chamei dos seus cantos mais remotos, e a quem disse: Tu és o meu servo, eu te escolhi e não te rejeitei,

O profeta Isaías está se referindo ao povo de Israel, pois Deus personifica esse povo chamando-o de “servo meu”, Israel e Jacó, pois eram descendentes de Abraão, Israel e Jacó. No texto, Deus fala que escolheu o seu povo de todos os povos da terra. O verbo hebraico בהר bachar está no qal perfeito que quer dizer “escolher, eleger”. Os rabinos judeus da LXX traduziram com o mesmo verbo grego ἐκλέγω do NT. E assim, vários outros textos que fazem o uso das mesmas palavras e demonstram que Deus escolheu o seu povo e não todas as pessoas.

Isso confirma o que Deus já tinha falado a seu servo Abraão:

Genesis 18:17-19  17 Disse o SENHOR: Ocultarei a Abraão o que estou para fazer,  18 visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra?  19 Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito.

Nesse texto, Deus demonstra que a escolha é individual para chegar a uma nação. Deus escolheu Abraão, e dele viria uma grande nação. Isso vai contra a ideia que a eleição é apenas a nação e não o indivíduo como vou abordar isso mais na frente.

No NT, são contundentes mais ainda os textos:

Matthew 22:14  14 Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos.

Essa expressão se repete de Mt 20.16. A palavra grega εκλεκτοι usada para “escolhidos” vem do mesmo verbo grego ἐκλέγω. Portanto, Jesus afirma claramente que poucos são escolhidos. Jamais a escolha inclui todas as pessoas.

No entanto, uma das falácias dos arminianos é dizer, quando não têm respostas, que o texto não se refere à salvação. No entanto, o contexto é de paráboras demonstrando a escolha soberana de Deus em escolher um povo que não fosse judeu, portanto, relacionando-se à salvação dos gentios também.

John 15:16  16 Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.

ουχ υμεις με εξελεξασθε αλλ εγω εξελεξαμην υμας και εθηκα υμας ινα υμεις υπαγητε και καρπον φερητε και ο καρπος υμων μενη ινα ο τι αν αιτησητε τον πατερα εν τω ονοματι μου δω υμιν

Esse texto é bem forte em demonstrar que a eleição e escolha de Deus não são para todos. Jesus afirma que não foram eles que o escolheram. Isso quer dizer que não houve nenhuma ação vindo do “livre arbítrio” vindo dos discípulos para com Jesus. Ele os escolheu.

Para a falácia dos incautos em afirmar que não se trata de salvação, mas essa escolha se refere somente aos discípulos em específico, devemos lembrar que se tirarmos esse verso somente para os discípulos, tiraremos os demais. Portanto, o ensinamento de Jesus em dar fruto e estar na Videira cai por terra para a Igreja também. No entanto, os apóstolos quando escreveram os Evangelhos tinham a intenção de falar à Igreja e eles sabiam que se referia ao povo de Deus. Em todo caso, de alguma forma, Cristo que os escolheu e não o contrário.

Para falar ainda do que o Dr. Craig interpretou de Romanos 9, vamos tentar responder algumas más interpretações dos arminianos quando lidam com esse texto porque, em suma, eles seguem pelo mesmo caminho.

O Dr. Craig começou a expor que Paulo tinha a intenção de mostrar que judeu não era somente os da carne e que a justiça de Deus não vinha das obras da Lei. Ele reconhece que Paulo queria mostrar aos judeus que Deus escolheu também os gentios, que eram considerados “cães” pelos judeus.

Com isso, Dr. Craig afirma que o capítulo 9 de Romanos é para explicar que Deus tem misericórdia dos gentios também por que ele escolhe quem ele quer. Ele escreveu:

“A resposta de Paulo é que Deus é soberano. Ele pode salvar quem ele quiser, e ninguém pode objetá-lo. Ele tem liberdade para ter misericórdia de quem quer, até mesmo dos execráveis gentios, e ninguém pode reclamar de que Deus está sendo injusto.”

O Dr. Craig começou bem. O problema é que ele esqueceu ou não levou em conta que os exemplos que Paulo deu em Romanos 9.1-24 foram somente de indivíduos judeus e não gentios. Isso significa que Paulo queria mostrar que os judeus, apesar de terem o privilégio de serem responsáveis pelos oráculos de Deus (Rm 3.2) e de descenderem o Cristo (Rm 9.4), precisavam também de um ato soberano de Deus para responder com fé, e não somente os gentios.

Paulo jamais queria ensinar nesse texto que a escolha soberana de Deus era somente os gentios, pois ele começou com os judeus (Rm 9.1-23) para depois falar dos gentios (Rm 9.24-26).

Para aqueles que afirmam que Romanos 9 é somente para os judeus ou para a nação de Israel comentem erro gravíssimo de Hermenêutica, pois Paulo tem exposto nesta epístola desde do primeiro capítulo que a igreja (de Roma) era composta de judeus e gentios, e que ambos precisavam de fé para a salvação.

Romans 1:7  A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Depois, Paulo, várias vezes, ensinou que a Salvação de Deus, desde o VT, incluía a fé e não somente um critério étnico. (veja meu texto na Fides Reformata sobre a interpretação de Rm11.26)

Paulo, então, argumenta e deixa bem claro que o propósito de Deus era a sua igreja composta do seu povo do VT e que se uniu aos gentios pela promessa:

Romans 9:6-8  6 E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas;  7 nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência.  8 Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa.

Paulo mostra que a igreja é composta dos “Filhos de Deus”, que são os filhos da Promessa que são compostos de judeus e gentios. Notemos que Paulo escreve que os filhos de Deus não são propriamente os da carne. Ele se refere aos judeus que tinham apenas a geração étnica. No entanto, quando ele fala sobre os filhos da promessa, ele se refere tanto a judeus como também a gentios.

Romans 3:30  30 visto que Deus é um só, o qual justificará, por fé, o circunciso e, mediante a fé, o incircunciso.

Por isso que Paulo ensinou que a igreja herdou a bênção de Abraão, e não somente os judeus:

Galatians 3:13-14  13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro),  14 para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido.

O outro engano do Dr. Craig é quando ele faz a seguinte afirmação: “Ele tem liberdade para ter misericórdia de quem quer, até mesmo dos execráveis gentios, e ninguém pode reclamar de que Deus está sendo injusto”.

O Dr. Craig dá a entender que se Deus não escolher alguns, a justiça de Deus fica em evidência como se as pessoas merecessem a salvação podendo “reclamar” de Deus. Mais uma vez, como sempre, o Dr. Craig tropeça porque não levou em conta que ninguém merece a salvação. Foi exatamente isso que Paulo quis demonstrar na epístola aos Romanos que a salvação é SOMENTE PELA FÉ:

Romans 3:10-19  10 como está escrito: Não há justo, nem um sequer,  11 não há quem entenda, não há quem busque a Deus;  12 todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.  13 A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios,  14 a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura;  15 são os seus pés velozes para derramar sangue,  16 nos seus caminhos, há destruição e miséria;  17 desconheceram o caminho da paz.  18 Não há temor de Deus diante de seus olhos.  19 Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus,

Portanto, ninguém tem o direito de reclamar de Deus caso ele não o escolha porque não há nenhum justo que reivindique esse direito de salvação. Esse foi o argumento de Santo Agostinho ao citar o texto de Mt 11.20-22, pois o texto nos deixa claro que Deus não quis salvar Tiro, Sidom, Sodoma e Gomorra, pois se os milagres que Jesus fez ocorressem nessas cidades, eles teriam sido salvos.

Matthew 11:20-22  20 Passou, então, Jesus a increpar as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de não se terem arrependido:  21 Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza.  22 E, contudo, vos digo: no Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras.

Se Deus quer salvar a todos, por que ele não fez os milagres nessas cidades para que eles se arrependessem? Deus deixou de ser justo por não salvar os habitantes de Sodoma e Gomorra ou de Tiro e Sidom? Mesmo que pensemos antes da fundação do mundo, Deus é o soberano e quem somos nós para questionar o seu plano? Deus escolheu agir de uma forma que ele escolhesse aqueles a quem ele quer (Ef 1.5)?

É isso que Paulo tenta mostrar nesse capítulo:

Romans 9:20-24   20 Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?  21 Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?  22 Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição,  23 a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão,  24 os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?

O Dr. Craig chega a uma conclusão que é de todo arminiano: a escolha de Deus dependerá dos que creem. Ou seja, Deus escolhe apenas aqueles que ele sabe que iriam crer. Ele escreve:

“Então – e este é o ponto crucial – quem é que Deus escolheu salvar? A resposta é: aqueles que têm fé em Cristo”

O Dr. Craig não levou em conta vários fatores lógicos e escriturísticos. Se Deus escolhe salvar dependendo da fé que ele previu, isso não é escolha soberana segundo o pleno prazer da sua vontade (κατα την ευδοκιαν του θεληματος αυτου) conforme Paulo escreveu aos efésios (Ef 1.5). Nesse caso, não é uma eleição soberana, mas um acerto de contas porque a promessa é que aquele que cresse seria salvo (Hc 2.4; Jo 3.36)

Imaginemos que um dono de uma empresa de chocolates fizesse uma promoção de doar uma casa a todos aqueles que guardassem a capa do bombom de chocolate. Ele percebe que em uma cidade de 180.000 habitantes, 50.000 guardaram essa capa do bombom de chocolate. Depois, ele chega e afirma: “eu escolhi dar por livre espontânea vontade a esses 50.000 habitantes uma casa”. Todos iriam entender que ele estava querendo se aproveitar da situação, porque o que ele tinha de fazer era apenas cumprir o que foi prometido e por méritos daquelas pessoas que guardaram o papel do bombom.

Assim seria a eleição de Deus. Se ela dependesse da fé, Deus não escolheria livremente segundo o “beneplácido da sua vontade ou o bem-querer da sua vontade (Ef 1.5), mas o critério seria a fé como primordial para a salvação antes mesmo da sua escolha, sendo um merecimento.

Foi essa a conclusão que Paulo chegou quando falou da fé de Abraão:

Romans 4:2-4  2 Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus.  3 Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.  4 Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida.

Paulo demonstra que, se Abraão fosse justificado por obras, ele poderia se gloriar porque seria como se fosse um salário. Notemos que Paulo além de demonstrar que a fé de Abraão estava relacionada a obras, esta não vinha dele mesmo, pois a fé sempre deve vir acompanhada de obras para que esteja viva, pois sem obras a fé está morta:

Tiago 2:20-22   20 Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante?  21 Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?  22 Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou,

Portanto, Tiago completa o raciocínio de Paulo quando afirma que a fé de Abraão incluía obras também, só que obras como resultado da fé. E se essa fé viesse do próprio Abraão, seria apenas como se fosse um salário e nada mais.

Depois, em muitas passagens, a Bíblia nos ensina que a fé não procede de nós ou que não está em nós mesmos:

Ephesians 2:8   8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;

τη γαρ χαριτι εστε σεσωσμενοι δια της πιστεως και τουτο ουκ εξ υμων θεου το δωρον

Notemos que τουτο é neutro demonstrando que Paulo se refere tanto à graça (que é óbvio, se não, não seria graça), como também à fé – τουτο ουκ εξ υμων

O outro texto está:

Romans 12:3   3 Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um.

Notemos que a fé é repartida por Deus a cada um.

O outro texto demonstra que Cristo é o autor da fé:

Hebrews 12:2  2 olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.

O substantivo αρχηγον tem como significado de autor contrastando com a palavra consumador τελειωτην.

Depois, o Dr. Craig erra gravemente quando não leva em conta o contexto do próprio capítulo 9 do livro de Romanos. Vejamos:

Paulo defende que os filhos de Abraão não são os propriamente da carne, mas aqueles que descendem das promessas (v.8). Depois, ele usa o exemplo de Sara e Rebeca para falar da salvação soberana da Igreja (gentios e judeus) (v.9).

Paulo, então, dá o exemplo do nascimento de Jacó e Esaú, pois deles descenderia a descendência da promessa. Paulo começa a mostrar a total soberania em escolher Jacó e não Esaú dizendo que:

Romans 9:11   11 E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama),

Quando Paulo fala que os meninos ainda não tinham nascidos nem praticado o bem ou mal, Paulo estava falando da fé, pois o mal de uma pessoa inclui a incredulidade. Por isso, ele afirma que Esaú não tinha praticado o bem ou o mal para que o propósito de Deus com respeito à eleição prevalecesse.

Isso significa que Deus os elegeu levando em conta a antecipação do nascimento e não, como afirmam os arminianos, que ele previu que iam crer ou não. O texto é bem claro em afirmar que a eleição das crianças veio antes dos seus nascimentos, não levando em conta nem o bem e nem o mal que eles fariam. Portanto, pelo texto, Deus levou em conta as crianças antes de nascer e não o que ele previu quando crescessem e desenvolvessem fé.

Paulo continua seu raciocínio afirmando que:

Romans 9:13  13 Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú.
καθως γεγραπται τον ιακωβ ηγαπησα τον δε ησαυ εμισησα

Alguns tentam amenizar esse texto afirmando que o verbo traduzido para “aborreci”, que não deixa de ser amenizado, é “amar menos”. Podemos até entender aqueles que traduzem assim, pois a maioria dos arminianos não conhece o original e passam a dar interpretações próprias. No entanto, é a tradução mais desonesta e absurda que alguém possa conhecer da Bíblia.

Tanto o verbo hebraico sane’, como o verbo grego μισεω na LXX de Ml 1.3, como também no NT,  pois é o mesmo verbo grego que Paulo usou na epístola, querem dizer mesmo “odiar”, “irar-se contra”.

Portanto, Deus desprezou, irou-se contra Esaú e escolheu a Jacó. Daí vem todas aquelas perguntas e declarações arminianas que não creem nesse tipo de amor de Deus dos calvinistas e que não aceitam que Deus fizesse isso, pois seria injusto.

No entanto, por causa desses questionamentos que Paulo escreve os versos 14 a 23

Romans 9:14-16  14 Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!  15 Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.  16 Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.

Paulo deixa claro que Deus tem misericórdia e compaixão de quem ele decidir ter misericórdia (assim está no original). Ele termina jogando por terra o livre arbítrio, pois Paulo afirma que não depende de quem quer, mas de Deus. Isso tem que acontecer porque o nosso arbítrio está corrompido pelo pecado e jamais escolheríamos a Deus se ele não intervir.

Além do mais, esse texto também vai contra a ideia de alguns que afirmam que Romanos 9 é para a nação de Israel e não para indivíduos. Paulo dá o exemplo de Abraão, Esaú, Jacó, e Faraó, como exemplos que estava tratando de indivíduos. Na verdade, em todo o contexto da epístola aos Romanos, Paulo tratou sempre de indivíduos porque a salvação é individual.

Depois, essa ideia de eleição de nação e não de indivíduo não é inteligente porque uma nação é composta de indivíduos e a salvação é individual. Se uma nação é composta de indivíduos e a salvação é individual, é óbvio e coerente que Paulo estava falando de indivíduos que constituiriam a igreja que é composta de judeus e gentios.

Quanto a João 6.65, Dr. Craig não falou muito, pois não tinha muito que falar diante da clareza do texto. No contexto, Jesus falou esse texto porque alguns não criam e ele conhecia essas pessoas, inclusive quem iria traí-lo. Por causa disso, ele afirma que ninguém pode vir a ele se não for concedido pelo Pai. O verbo grego διδωμι / δεδομενον está no perfeito passivo que demonstra que o sujeito sofre a ação, ou seja, uma pessoa somente vai a Jesus se sofrer a ação de ser concedida pelo Pai.

Jesus já tinha falado nos versos anteriores:

John 6:44   44 Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.

O verbo grego ἑλκω traduzido para “trazer” é mais forte no original. Significa “arrancar, puxar”. Jesus está afirmando que ninguém pode vir a ele se o Pai não o arrancar, puxar, demonstrando a total soberania de Deus na salvação e a nossa resistência de ir a Deus por conta própria. Portanto, o texto é bem claro acerca da soberania de Deus na salvação.

A resposta à acusação que Deus é um tirano:

Tirano é alguém que usurpa o poder; que adquire o poder de uma forma injusta. Deus, não. Deus é o supremo Senhor e Soberano legítimo, e mais ainda digno de adoração por ser esse Senhor soberano e Deus.

Quando afirmamos que a eleição de Deus o torna indigno de adoração, estamos tentando afirmar que temos mais justiça que ele ou mais sabedoria que ele. Quanto a isso, os profetas respondem que não passamos de cacos de barro ou vasos nas mãos do oleiro (Is 45.9; Rm 9.20-21).

Mesmo assim, nada disso vai contra a sua existência, mesmo que ele fosse realmente um tirano ou qualquer que seja seu caráter. Quanto mais que Deus é o único Deus e Senhor Soberano Legítimo do Universo.