sábado, 12 de setembro de 2015

O HOMO NALEDI: O CALCANHAR DE AQUILES DA CIÊNCIA




Dois temas têm sido o calcanhar de Aquiles da Ciência. O primeiro é quando se refere à Biogênese. Quando a Ciência começa a especular com teorias mirabolantes de como a vida começou apenas vindo de forças naturais. O segundo tema é exatamente quando se trata de Hominídeos.

Talvez, não se tenha descoberto mais fraudes na ciência do que nas descobertas dos hominídeos. Um dos exemplos disso é o fóssil achado em 1975, e ainda inserido nos livros didáticos, chamado de Lucy. Segundo os cientistas que o descobriram, esse fóssil deveria ser considerado a “primeira família de Hominídeos” e considerado como uma das grandes descobertas da Ciência. A partir disso, foi feito uma reconstituição por computador de como seria o rosto de Lucy. Apesar de muitos cientistas discordarem da conclusão como dois cientistas anatomistas da Universidade de Nova Yorque, Jack T. Stern e Ronald Susman, que afirmavam que não eram hominídeos, mesmo assim, continuaram afirmando que era a grande descoberta da Ciência.

Em 1999, a revista científica Francesa Science & Vie publicou um artigo com o nome Adieu, Lucy (Adeus, Lucy) onde afirmava que Lucy não passava de um fóssil de símio. Porém, mesmo assim, os livros didáticos de Biologia ainda insistem em colocar o fóssil de Lucy como prova da evolução do homem (veja mais detalhadamente em meu livro: Design Inteligente: a metodologia de convergência das Ciências sob a ótica da criação – editora Reflexão).

Outro exemplo foi Reiner Rudolph Robert Protsch, professor de Antropologia da universidade de Frankfurt que foi demitido em 2004. Ele falsificou fósseis afirmando que tinha descoberto um elo entre o Homo Sapiens e Homo Neanderthal. Essa fraude abalou todas as descobertas do chamado Homo Neanderthal a ponto do arqueólogo Thomas Terberger fazer a seguinte declaração: “A antropologia terá que revisar completamente sua visão do homem moderno de 40.000 a 10.000 anos atrás” (veja melhor em meu livro)

O motivo de tantas fraudes é exatamente porque as descobertas dos chamados hominídeos dependem apenas de interpretação daqueles que acham os fósseis. Basta encontrar um fóssil de um dente diferente para interpretarem imediatamente que era de um hominídeo como foi o caso do Homem de Nebraska e que não passava de um dente de porco. Vejamos o abstract do artigo do Homo Naledi:

Homo Naledi é uma espécie previamente desconhecida de hominídeo extinto, descoberto dentro da Dinaledi Chamber do sistema de cavernas Rising Star, Berço da Humanidade, África do Sul. Esta espécie é caracterizada pela massa corporal e estatura semelhante a pequenos corpos de populações humanas, mas um pequeno volume endocranial semelhante ao Australopithecos. Morfologia craniana do H. Naledi é única, mas é muito semelhante à espécie Homo Erectus, incluindo os primeiros Homo, o Homo Habilis ou Homo Rudolfensis. Embora primitivo, a dentição é geralmente pequena e simples na morfologia oclusal. H. Naledi tem adaptações de manipulação humanóides da mão e do pulso. Ele também exibe um pé humanóide e membro inferior. Estes aspectos humanoides são contrastados no postcrania com mais uma primitiva ou aparência de tronco de Australopitecos, ombro, pelve e fêmur proximal. Representando pelo menos 15 indivíduos com a maioria dos elementos esqueléticos repetidas várias vezes. Esta é a maior reunião de uma única espécie de hominídeos já descobertos na África .

Notemos que o abstract interpreta a partir de ossos encontrados de humanos do que eles chamam “pequenos corpos de populações humanas” incluindo pés, mãos e membros inferiores, com outros encontrados do que eles interpretaram de “morfologia craniana única”. Todos os achados de hominídeos são interpretados dessa forma: acham ossos de membros parecidos com humanos, calota craniana macacoide e maxilar humano, então, montam para formar um novo Homo.

Vejamos ainda o que afirma o artigo:

Nós não definimos H. Naledi estritamente com base em uma única mandíbula ou no crânio, porque todo o corpo do material tem nos ajudado a entender a sua biologia.

Percebam que as pesquisas são completamente distantes de qualquer falseabilidade, já que não se tem nenhum outro fóssil indubitável do que chamam de hominídeo Naledi ou próximo dele para comparar se, de fato, são essa espécie. Por isso, são chamados de “únicos”. Portanto, esse artigo e conclusão não passam de uma Tautologia como afirmava Karl Popper. Assim está na introdução do artigo:

A coleta é uma amostra morfologicamente homogênea que não pode ser atribuída a nenhuma espécie de hominídeo anteriormente conhecida. Aqui nós descrevemos esta nova espécie, Homo Naledi.

Notem que as conclusões são completamente indutivas e interpretativas sem nenhuma chance de qualquer falseabilidade. Para Karl Popper, esse achado seria apenas uma declaração de fé em interpretar que esses ossos poderiam ser de seres macacoides vindos de uma só ancestralidade comum. O que se pode notar é que não tem como analisar e acompanhar através de algo que possa falseá-los com observação crítica.

Portanto, em outras palavras, essa descoberta não passa de uma interpretação com base, apenas, em pressupostos indutivos. Então, até que se traga um método confiável científico que seja falseável, não se deve confiar em descobertas científicas que apontem para hominídeos. A Lucy, o Homem de Piltdown e o homem de Nebraska agradecem.


quarta-feira, 15 de julho de 2015

COISAS QUE EDIR MACEDO E ALGUMAS IGREJAS DO GÊNERO JAMAIS GOSTARIAM QUE VOCÊ SOUBESSE







1. Existem muitas pessoas que estão há muito tempo no "Templo de Salomão" e nessas igrejas que jamais receberam os seus pedidos ou mudaram de situação financeira.

Veja essa reportagem


2. Os testemunhos são editados e escolhidos para que só apareçam aqueles que se enquadrem nas suas doutrinas errôneas ou para não espantar os ouvintes iniciantes com o seu materialismo.

Veja um exemplo gravado recentemente na TV 


3. As bênçãos de Deus jamais estão condicionadas a um lugar ou a qualquer ação humana (Efésios 1.3; Gálatas 3.13-14) .


4. Deus ouve a oração. Isso é bíblico, mas existe também a graça comum, ou seja, a ação de Deus na vida de pessoas mesmo que não creiam nem que peçam alguma coisa a Deus. Portanto, a gratidão não será a uma igreja nem porque foi a determinado lugar, ou porque fez algum ritual, ou porque deu alguma oferta, mas somente porque Deus assim quis fazer (Mateus 5.45; Hebreus 6.7; Tiago 1.17). A prova disso é que existem muitas pessoas nessas igrejas que participam do mesmo culto e das mesmas campanhas que não recebem seus pedidos e não acontece nada do que pedem.


5. Existem muitas pessoas que jamais acreditaram em Deus e estão muito bem de vida na sociedade e na família. Portanto, condição financeira ou estabilidade social e familiar jamais significam bênção, porém, a grande bênção de Deus é a reconciliação com ele em Cristo Jesus com humildade.


6. Deus nem sempre dirá sim às petições de alguém. Portanto, quando algum pastor convidar dizendo que tem certeza que Deus vai responder os pedidos de oração de alguém, ele fará uma propaganda enganosa (Tiago 4.13-17).


7. O copo d'água depois da oração não tem valor nenhum porque a nossa fé deve estar firme na obra de Cristo e não porque tomamos água. Por isso que falamos: "em nome de Jesus" (João 14.13-14).


8. Podem existir verdadeiras mudanças de vida em vários aspectos nessas igrejas, mas isso jamais seria por causa de algum ritual ou por que se deu alguma oferta, porém, porque Deus em sua misericórdia age na vida dessas pessoas pelo poder de sua Palavra quando creem. Da mesma forma que existem outras pessoas com as quais isso não acontece (João 3.8).

9. O problema de ação de espíritos e demônios não se resolve somente com um culto, uma oração, ofertas ou rituais de exorcismo, mas com a conversão, pois a Bíblia somente dá garantia desse livramento quando há conversão genuína (Efésios 2.1-2).


10. Os demônios também podem enganar através de um falso ensino que misture verdade com mentira e que desvie a glória de Cristo. Portanto, nem toda igreja e nem todo aquele que fala de Cristo, faça milagres ou expulse demônios é, realmente, de Cristo (Mateus 7.15-23).

domingo, 31 de maio de 2015

EM DEFESA DA EXPIAÇÃO LIMITADA E UMA REFUTAÇÃO AO TEXTO DE ZWINGLIO RODRIGUES – ANÁLISE DE 1 JOÃO 2.2 E 1 TIMÓTEO 2.4




As controvérsias teológicas são importantes porque elas nos fazem ver os lados obscuros que determinado teólogo não demonstrou. Seja por falta de conhecimento, que, nesse caso, seriam de Hermenêutica e Exegese, seja por desonestidade intelectual vindo de uma defesa apaixonada por determinado assunto, seja por não querer se aprofundar no outro lado da questão.
O texto da revista Obreiro Aprovado, ano 36, nº 68 de autoria do Pr. Silas Daniel trouxe uma resposta do renomado teólogo batista Franklin Ferreira demonstrando as falhas históricas, teológicas e exegéticas desse autor (veja aqui).
Como resposta ao teólogo Franklin Ferreira, um teólogo arminiano chamado Zwinglio Rodrigues, cujo blog dedica-se a escrever e defender essa doutrina, tenta refutá-lo com o tema “Comentários e respostas à crítica de Franklin Ferreira ao artigo ‘Em Defesa do Arminianismo”.
A resposta do teólogo no blog me causou admiração por vários motivos. Primeiro, pela frase de Tomás de Aquino no blog ao lado: “Para mim, tudo que escrevi parece palha”. Na verdade, essa frase me livrou de dar algum parecer sobre o seu texto, senão, de apenas concordar com essa frase no seu blog.
Depois, admirei-me também pela falta de referências, sendo que estava trazendo uma refutação histórica, teológica e exegética a uma refutação de um teólogo. O que impressiona mais ainda é que o autor se justifica por afirmar que o seu texto era apenas informal. No entanto, não se trata de formalidade ou informalidade, mas de credibilidade das citações, mesmo que sejam informais. O próprio Franklin Ferreira, apesar de ter postado em seu Facebook, não deixou de colocar referências, mesmo de uma maneira informal. Demonstra-se, com isso, que o autor tem uma debilidade muito grande em perceber esse aspecto.
O outro motivo que me impressionou foi o simplismo e a superficialidade dos argumentos exegéticos desse autor (com todo respeito). O autor critica a frase de Franklim Ferreira que afirmou: “exegese, exegese e mais exegese” e, pareceu-me, que o autor, com isso, quis mostrar que ele, sim, a partir daquele texto, faria uma exegese. Ele escreve:

Ferreira crítica Daniel por apresentar textos-prova para suas afirmações e não oferecer nenhuma discussão léxical e/ou exegética. Não vou entrar no mérito da reprimenda. Mas, entendendo (acredito que Daniel também) a importância de uma abordagem exegética dos textos bíblicos, conforme destaca Ferreira. Por isso, desejo apresentar aqui duas referências bíblicas pinçadas do artigo de Daniel que atestam a doutrina da expiação ilimitada, uma doutrina cara ao arminianismo clássico.


Tais escrituras não serão dadas apenas como textos dos quais se presume a expiação ilimitada, mas sofrerão uma análise exegética e lexical.

O autor citou dois textos-chave para a doutrina arminiana que nega a expiação limitada. Com isso, ele deu a entender que a partir daquele momento iria fazer uma exegese começando por 1 Timóteo 2.4. Porém, parece que o autor não sabe o que é exegese, pois, para a sua exegese de 1 Timóteo 2.4, ele simplesmente cita a opinião de Charles Spurgeon. Isso mesmo: apenas a opinião de Spurgeon. Se ele trouxesse a exegese de Spurgeon, seria mais compreensivo. No entanto, o autor traz apenas a sua opinião.
Esse tipo de argumento faz parte de uma falácia chamada “falácia da autoridade”. Essa falácia demonstra que o argumento está apenas baseado na opinião de uma autoridade e nenhum argumento lógico é desenvolvido para demonstrar o contrário.
A base exegética de Spurgeon do texto é apenas superficial da expressão “todos os homens” sem nenhuma exegese do texto em questão e o autor Zwinglio apenas o reproduz sem desenvolver absolutamente nada e sem dar nenhuma referência.
No entanto, o problema da falácia da autoridade é que, se o autor se baseia apenas na autoridade da pessoa que usou como base, ele também deve aceitar outras afirmações do mesmo autor, já que ele o tem como base de argumento, inclusive da mesma área que é a Soteriologia. Então, vamos ver o que Charles Spurgeon pregou e escreveu sobre o assunto. Afinal de contas se Spurgeon está certo na sua interpretação de 1Tm 2.4, por que não estaria nas demais, já que não houve argumento por parte do autor? Vejamos o que Spurgeon pregava e escrevia, pois esses textos vêm de suas pregações.

1. Sobre o livre-arbítrio:

Já foi provado além de toda controvérsia que o livre-arbítrio é uma tolice. A liberdade não pode pertencer ao arbítrio como a ponderação não pode pertencer à eletricidade. Podemos crer em um agente livre, porém, o livre-arbítrio é simplesmente ridículo. É bem conhecido de todos que a vontade é dirigida pelo entendimento, movida por motivos, conduzida por outros componentes da alma e considerada como algo secundário.


Tanto a filosofia como a religião descartam de uma vez a ideia de livre-arbítrio: e eu vou tão longe quanto Martinho Lutero, em sua forte afirmação, onde ele diz: “se algum homem, de alguma maneira, atribuir a salvação ao livre-arbítrio do homem – mesmo a ínfima parte – nada sabe sobre a graça e não conheceu Jesus Cristo corretamente” (SPURGEON, 1994, p. 1-2).

2. Sobre a Eleição e predestinação:

Spurgeon cita e concorda com a antiga confissão Batista:

Abro agora este antigo livro, e encontro o seguinte terceiro artigo:


“Por decreto de Deus, tendo em vista a manifestação de sua glória, alguns homens e anjos foram predestinados ou ordenados de antemão para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, para o louvor de sua gloriosa graça; e, quanto aos demais, foi-lhes permitido continuarem em seus pecados, tendo em vista a sua justa condenação, para o louvor da gloriosa justiça divina. Esses anjos e homens, assim predestinados ordenados com antecedência, foram particular e imutavelmente designados, e o seu número foi determinado de maneira tão certa e definida com esse total não pode ser nem aumentado e nem diminuído. No caso daqueles membros da humanidade que foram predestinados para a vida, Deus, antes de serem lançados os fundamentos do mundo e conformidade com o seu eterno e imutável propósito, bem como de acordo com o secreto conselho e beneplácito de sua vontade, escolheu em Cristo, para a glória eterna e com base em sua pura graça gratuita e em seu amor, sem que houvesse qualquer outra consideração na criatura como condição ou causa que OU tivesse impelido a isso, aqueles a quem assim o quis”.


Não obstante, no que concerne a esses testemunhos humanos autoritativos, não me importa sequer com eles. Não me interessa o que esses testemunhos afirmam em favor ou contra a doutrina da eleição. Tão somente lancei mão deles como uma espécie de confirmação para a vossa fé, afim de mostrar a vocês que, embora eu possa ser acusado de um herege ou de um hipercalvinista, em última análise, o testemunho mesmo da antiguidade está me prestando o seu apoio (SPURGEON, 1994, P. 8-9).

3. Sobre a perseverança dos santos

Demais disso, quero que vocês se lembrem que hoje somos vistos por Deus da mesma maneira como sempre éramos vistos. Ele já nos viu desde o princípio, sujeitos ao pecados, caídos e depravados, e mesmo assim prometeu fazer-nos o bem.


Ele me viu arruinado pela queda,
No entanto, me amou, apesar de tudo.

E se hoje sou pecaminoso, se hoje preciso gemer por causa da minha natureza maligna, simplesmente estou onde eu estava quando ele me escolheu, e me chamou, e me redimiu pelo sangue de seu Filho. “porque Cristo, quando ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rm 5.6). Éramos objetos não-merecedores da sua misericórdia a qual ele nos outorgou somente pelo motivo que estava dentro de sua própria natureza; e se continuarmos não merecendo, segue se que sua graça continua sendo a mesma. Se for assim, que ele ainda lida conosco através da graça, fica evidente que ainda nos vê como não-merecedores. E porque ele não iria fazer o bem a nós conforme fez de início? Certamente, se a fonte é a mesma, a corrente continuará fluir. (SPURGEON, 1994, p. 12-13)

Esses textos de Spurgeon expostos são para demonstrar, apenas, que ele é uma das pessoas que um Arminiano jamais deveria fazer referência para defender o Arminianismo, e muito menos usando a falácia da autoridade baseado nele.
No entanto, a última palavra nunca será do homem, mas será sempre da Escritura. Da mesma forma que, antes de Spurgeon, Calvino já defendia nas suas Institutas que o “todos os homens” de 1Tm 2.4 se referia a grupos de homens como no contexto do verso primeiro (Institutas, Livro III, p. 442). Portanto, precisamos analisar as Escrituras dando motivos exegéticos e lógicos por que eles estariam certos e não somente devemos nos basear em seus argumentos.

Interpretação de 1Timóteo 2.4

1 Timothy 2:4   o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.

ος παντας ανθρωπους θελει σωθηναι και εις επιγνωσιν αληθειας ελθειν

Calvino usa uma lógica exegética perfeita, pois a expressão παντας ανθρωπους traduzida para “todos os homens” deve ser interpretada dentro do mesmo contexto que o verso primeiro:

1 Timothy 2:1-2  Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens,  2 em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito.
παρακαλω ουν πρωτον παντων ποιεισθαι δεησεις προσευχας εντευξεις ευχαριστιας υπερ παντων ανθρωπων

Paulo exorta que façam súplicas e orações por todos os homens υπερ παντων ανθρωπων. Com certeza, esse “todos os homens” não se refere cada homem da face da terra, pois seria uma ordenança impossível. O sentido é que a Igreja ore também pelos reis e aqueles que estão investidos de autoridades (v.2). O que Paulo está ordenando é que a igreja se dedicasse a orar pelos imperadores e reis que eram ímpios, inclusive sendo a causa da prisão de Paulo cuja prisão veio pela ordem destes governantes.
O que Paulo afirma no verso quatro é a conclusão que vinha defendendo nos versos anteriores que Deus quer que todos os homens sejam salvos, ou seja, todas as classes, incluindo reis, imperadores, escravos, homens mulheres, crianças, pois os judeus faziam acepção de pessoas influenciando a igreja no primeiro século.

Galatians 3:28-29  28 Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.  29 E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.

1 Peter 1:17  17 Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação,

Portanto, Calvino está com razão em fazer a sua exegese diante da análise acima demonstrada.

Com respeito ao segundo texto, o autor seguiu alguns passos exegéticos e, por isso, eu me dedicarei mais a esse texto. Primeiro porque ele é um texto de difícil interpretação que exigirá um conhecimento mais exegético. Depois, pretendo demonstrar que a análise do autor Zwinglio do texto de 1Jo 2.2 está cheia de dificuldades exegéticas.

Análise da palavra ὅλου

A palavra ὅλος quer dizer “inteiro, completo, todo”. O autor está correto em citar os eruditos que traduzem essa palavra. No entanto, essa palavra, assim como os pronomes indefinidos “todo, tudo”, deve ser interpretada segundo o seu contexto, pois, caso contrário, pode-se ter uma grande distorção.
Por exemplo:

Acts 10:22  22 Então, disseram: O centurião Cornélio, homem reto e temente a Deus e tendo bom testemunho de toda a nação judaica, foi instruído por um santo anjo para chamar-te a sua casa e ouvir as tuas palavras.

οι δε ειπον κορνηλιος εκατονταρχης ανηρ δικαιος και φοβουμενος τον θεον μαρτυρουμενος τε υπο ολου του εθνους των ιουδαιων εχρηματισθη υπο αγγελου αγιου μεταπεμψασθαι σε εις τον οικον αυτου και ακουσαι ρηματα παρα σου

Lucas usa o mesmo adjetivo ὅλου que a RA traduziu como “toda a nação judaica” - υπο ὅλου του εθνους των ιουδαιων εχρηματισθη
Ninguém, em uma sã consciência, iria entender que Lucas estivesse afirmando que toda a nação de Israel incluindo cada pessoa que habitava na região de Israel e em todos os tempos conheciam Cornélio. Isso seria um absurdo! No entanto, o texto deixa claro que ele era conhecido por toda ὅλου a nação de judeus. Pelo contexto, deve-se entender que Cornélio era conhecido pelos judeus da sua região, pois o próprio Pedro seria excluído desse adjetivo porque ele não o conhecia.
Depois, o autor Zwinglio usa o texto de 1Jo 5.19 para defender que a interpretação de “mundo inteiro” significa cada pessoa do mundo e não somente os eleitos.

1 John 5:19  19 Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno.

οιδαμεν οτι εκ του θεου εσμεν και ο κοσμος ολος εν τω πονηρω κειται

O autor usou um princípio hermenêutico correto, pois ele buscou a análise da palavra no mesmo livro, citando a base disso o Rev. Augustus Nicodemus que é uma autoridade em Hermenêutica.
No entanto, dificilmente o Dr. Augustus Nicodemus concordaria com a sua análise no verso em si. O autor acertou no princípio de interpretação, mas errou em outros no próprio verso.
Primeiro, o autor acertou em demonstrar que a expressão ο κοσμος ὅλος se refere a pessoas e não ao sistema maligno. Pode-se perceber isso pelo contexto do verso 18 que está falando de pessoas, daqueles que não vivem pecando e que guardam a si mesmo, e o Maligno não lhe toca. Portanto, está correta a interpretação que se refere a pessoas.
No entanto, se o autor interpretar a expressão ο κοσμος ολος como incluindo todas as pessoas sem exceção, o autor tem que admitir que ele mesmo jaz no maligno, ou seja, ele está nas mãos do maligno, pois segundo a sua interpretação, a expressão precisa ter o mesmo significado que 1Jo 2.2. Caso contrário, a sua citação e argumentação não tem sentido.
Precisamos notar que autor não usou o princípio Hermenêutico que ele mesmo defende para a sua análise de 1Jo 5.19, pois fica claro que a expressão ο κοσμος ολος se refere somente aos incrédulos, pois João, no verso 18, afirma que o Maligno não os toca e ele começa o verso 19 afirmando “sabemos que somos de Deus” οιδαμεν οτι εκ του θεου εσμεν. Essa expressão tem a preposição εκ que significa “sair” demonstrando que se refere àqueles que nasceram de Deus, porém, o mundo, ou seja, os incrédulos estão nas mãos do Maligno.
Portanto, a análise do autor de que a expressão ολου του κοσμου significa todas as pessoas sem exceção é completamente deficiente e digna de total rejeição pelos motivos hermenêuticos e exegéticos apresentados acima.
Mas afinal de contas, o que João queria falar no verso e o que significa a expressão ολου του κοσμου?

A Interpretação de 1 João 2.2

και αυτος ιλασμος εστιν περι των αμαρτιων ημων ου περι των ημετερων δε μονον αλλα και περι ολου του κοσμου

Primeiro, precisamos analisar o que significa a palavra grega ἱλασμος traduzida para “propiciação”. No VT, na tradução da LXX, essa palavra referia-se ao perdão usando um sacrifício de um animal no lugar do pecador. No entanto, era somente para Israel e não para todas as nações.

Leviticus 25:2  2 Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando entrardes na terra, que vos dou, então, a terra guardará um sábado ao SENHOR.
Leviticus 25:9   9 Então, no mês sétimo, aos dez do mês, farás passar a trombeta vibrante; no Dia da Expiação, fareis passar a trombeta por toda a vossa terra.

Com respeito à palavra derivada, ἱλαστηριον, traduzida para “propiciatório”, o lugar onde era feito a propiciação, e usada como a tampa da arca onde ficavam os querubins entre os quais o Senhor falava com Moisés, referindo-se também para Cristo, demonstrava-se que era somente para os Filhos de Israel e não para todas as pessoas.

Exodus 25:22   22 Ali, virei a ti e, de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que estão sobre a arca do Testemunho, falarei contigo acerca de tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel.

O apóstolo aos Hebreus desenvolve de uma forma mais clara quando escreve aplicando somente à Igreja:

Hebrews 9:5-6  5 e sobre ela, os querubins de glória, que, com a sua sombra, cobriam o propiciatório (ἱλαστηριον). Dessas coisas, todavia, não falaremos, agora, pormenorizadamente.  6 Ora, depois de tudo isto assim preparado, continuamente entram no primeiro tabernáculo os sacerdotes, para realizar os serviços sagrados;
Hebrews 9:14-15  14 muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!  15 Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados.

O apóstolo deixa bem claro que a promessa da remissão no contexto da propiciação e da expiação em Cristo Jesus que é o “Mediador da Nova Aliança” διαθηκης καινης μεσιτης e o propiciatório e propiciação (Rm 3.25) é somente para “aqueles que têm sido chamados” οι κεκλημενοι της αιωνιου κληρονομιας.
O apóstolo usa o verbo grego καλεω / “chamar” no particípio perfeito passivo para demonstrar mais ainda a força do seu argumento da escolha soberana de Deus.

O contexto da Epístola

Antes de analisarmos o contexto imediato do texto falado. É necessário saber o contexto histórico no qual a epístola foi escrita para entendermos porque João fez algumas exortações, inclusive o verso 2 do capítulo 2.
João estava escrevendo a sua epístola defendendo contra os falsos mestres gnósticos que afirmavam que a salvação vinha de um conhecimento oculto que era revelado somente aos poucos iniciados. Eles negavam a encarnação de Cristo, pois diziam que a matéria era má e a carne era pecaminosa. Por causa disso, os mestres com influência gnóstica que entraram na igreja pregavam que a salvação era somente aos poucos iniciados na igreja e não a todos os grupos em todos os lugares, sendo somente a um grupo fechado.
John Stott, em seu comentário sobre a primeira epístola de João quando fala sobre o gnosticismo escreve:

Uma terceira característica dos gnósticos, Cerinto sem dúvida incluído, parece que era a sua falta de amor. Pretendendo constituir uma aristocracia espiritual dos iluminados que, só eles tinham vindo a conhecer “as profundezas”. Desprezavam a carreira comum dos cristãos. João golpeia essa perigosa maneira de ver afirmando que não existem duas categorias de cristãos, os iluminados e os não, pois Deus é luz continuadamente se revelando a todos [os cristãos](ênfase minha). (STOTT, 1985, P. 43)

Simon Kistemaker, em seu comentário de primeira João, também demonstra essa perspectiva histórica quando fala do gnosticismo. Ele escreve:

Em primeiro lugar, os gnósticos exaltavam a aquisição de conhecimento, pois, a seu ver, o conhecimento era o fim de todas as coisas. Por causa de seu conhecimento, tinham uma compreensão diferente das Escrituras, e, por causa dessa compreensão, separavam-se dos cristãos que não haviam sido iniciados. (KISTEMAKER, 2006, p. 285)

Nesse contexto é que entendemos a advertência de João que não seria somente aos cristãos da igreja, mas a todos os demais que Deus chamasse como o autor aos Hebreus escreveu (Hb 9.15).

Contexto Imediato (1Jo 2.1-2)

τεκνια μου ταυτα γραφω υμιν ινα μη αμαρτητε και εαν τις αμαρτη παρακλητον εχομεν προς τον πατερα ιησουν χριστον δικαιον
 και αυτος ιλασμος εστιν περι των αμαρτιων ημων ου περι των ημετερων δε μονον αλλα και περι ολου του κοσμου

Precisamos Analisar que o verso 2 vem do contexto e da lógica do verso primeiro, pois começa com a conjunção coordenada και demonstrando que os versos estão ligados e coordenados. João começa explicando do verso primeiro o seu objetivo que era trazer uma profunda sensibilidade ao pecado, pois os verbos ἁμαρτανω estão no aoristo. Essa sensibilidade deve nos trazer uma profunda consciência de um advogado perante o Pai que é Jesus Cristo, o Justo - παρακλητον εχομεν προς τον πατερα ιησουν χριστον δικαιον.
Nenhum arminiano se aventuraria a dizer que esse “nós temos um advogado perante o Pai” incluiria incrédulos. Portanto, pelo contexto do verso primeiro, João continua seu argumento falando apenas da igreja para afirmar que esse Jesus é a propiciação não somente dos “iniciados” como os mestres gnósticos ensinavam, porém, ele é a propiciação da igreja, composta de gentios e judeus, como também todos os eleitos que ainda iriam crer em Cristo.
Por isso, João escreve de uma forma semelhante e mais detalhada:

1 John 4:10   10 Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.

εν τουτω εστιν η αγαπη ουχ οτι ημεις ηγαπησαμεν τον θεον αλλ οτι αυτος ηγαπησεν ημας και απεστειλεν τον υιον αυτου ιλασμον περι των αμαρτιων ημων

Dessa vez, João especifica somente a Igreja, pois ele afirma sempre os pronomes na primeira pessoa do plural demonstrando que se referia somente a ela. Ele amou a sua igreja enviando seu Filho como propiciação com respeito aos “nossos pecados” - περι των αμαρτιων ημων.

Conclusão

Precisamos perceber que esses versos não são nenhuma ponte intransponível à doutrina da Expiação Limitada, demonstrada pelos apóstolos e reformadores. Ao contrário, eles se completam em demonstrar que a eleição não se limita a um grupo, nem aos “iniciados”, mas a todos a quem nosso Deus chamar (At 2.39). Por isso, meu objetivo foi exatamente demonstrar que As Escrituras demonstram que a expiação limitada é mais aceitável dentro de uma exegese e Hermenêutica que levem em conta todos os seus aspectos.
Não tive a intenção de falar especificamente da expiação limitada, pois há muitos versos que demonstram de uma forma clara que Cristo morreu pelos seus eleitos que estão guardados no plano secreto e eterno de Deus. No entanto, os textos bíblicos demonstram que os reformadores estavam corretos em rejeitar a doutrina Arminiana diante das debilidades exegéticas e textuais.
Portanto, precisamos pregar e ensinar sem nenhum medo que Deus é totalmente soberano, pois Deus prestará contas com todos aqueles que negligenciaram “todo o seu conselho”. 

REFERÊNCIAS

SPURGEON, C. H. Livre-arbítrio - Um Escravo. São Paulo: PES, 1994.
SPURGEON, C. H. Eleição. São Paulo: Editora Fiel, 1987
SPURGEON, C. H. A Perseverança na Santidade. São Paulo: PES, 1994.
STOTT, John R. I, II e III João - Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1985.
KISTEMAKER, Simon. Tiago e Epístolas de João. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.




segunda-feira, 4 de maio de 2015

O CULTO EM TROCA DA DIVERSÃO: UMA ANÁLISE DAS PREGAÇÕES DO PR. CLÁUDIO DUARTE



Um dos grandes problemas da igreja pós-moderna é aqueles que confundem pregação da Palavra de Deus com palestras de autoajuda, shows de unção esdrúxula ou uma espécie de Stand up Comedy.

O grande problema disso é o enfraquecimento doutrinário da Igreja, pois se o lugar do ensinamento da Palavra de Deus está sendo negligenciado, como evitar heresias e distorções doutrinárias na igreja?

Muitas igrejas estão confundindo culto com diversão. A diferença é que o culto tem Cristo como o centro e não alguma personalidade; a prioridade é a sua Palavra servindo a Deus em adoração e louvor com ações de graças. Já a diversão gira em torno de nós mesmos, a prioridade é agradar o público e o centro é o homem ou alguma personalidade, não Deus. Por isso, Paulo adverte os coríntios, quando fala da Ceia do Senhor, e lembra um texto do VT, pois eles estavam exatamente fazendo da Ceia do Senhor um evento de diversão:

Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; porquanto está escrito: O povo assentou-se para comer e beber e levantou- se para divertir-se. (1Co 10.7)

Paulo usa o verbo grego παιζειν no infinitivo presente que significa exatamente “proporcionar riso ou fazer cântico engraçado” para traduzir a palavra “divertir”. A diversão é lícita, porém, quando é para banalizar a obra de Deus causa juízo, pois é isso que os coríntios estavam fazendo com a Ceia do Senhor. Eles bebiam o vinho da Ceia e ficavam alegres demais e começavam fazer “graça” no culto.

As igrejas, hoje, estão trocando os cultos por shows de Stand Up ou de diversão em vários aspectos. Por isso, em muitas igrejas são colocados ringues de Vale Tudo; lideres vão fantasiados de Chapolim Colorado ou coisas que atraem as multidões para a diversão. Principalmente quando se trata de jovens. Acham que para atrair os jovens às igrejas ou para levá-los a lerem a Bíblia precisam fazer Bíblias atraentes, incluindo biografias de cantores gospels como a chamada Bíblia do Talles ou outras do gênero.

Um dos pastores que tem se destacado nesse tipo de evangelismo e pregação é o Pr. Cláudio Duarte. O lema de seu ministério é “Um pastor cheio de graça” que demonstra uma ambiguidade da palavra “Graça” no sentido de dádiva divina revelada em Cristo e o sentido de “engraçado”. Na verdade, o segundo significado caracteriza-o melhor. 

O Pr. Cláudio Duarte, geralmente, vai a igrejas cujas reuniões são cheias e que cobram um certo ingresso, seja com produtos não perecíveis ou uma certa quantia em dinheiro. Sua linguagem é bem informal cometendo erros até graves de Português e sempre buscando levar o seu público a risadas como se o seu grande objetivo ali fosse fazer pessoas rir e não pregar “Todo o conselho de Deus”.

Suas pregações são temáticas e simples com a leitura apenas de um verso ou uma Parábola e sempre trazendo uma linguagem que traga risos ou citando textos com interpretações estranhas para que fiquem engraçadas. Esse é um dos grandes problemas desse tipo de pregação. Como o objetivo é divertir as pessoas, precisa-se buscar anedotas e coisas engraçadas com distorções sérias de alguns textos da Bíblia para fazê-los engraçados.

Um dos exemplos é o que está nesse vídeo, onde o Pr. Cláudio Duarte afirma quando fala de vida com abundância em Jesus: 

O segredo é viver, querido. Não perca tempo com coisas medíocres. Aprenda com Jesus a viver. Aliás, como lição que essa não aprendi com Jesus, não. Mas deveria ter aprendido.


Que Jesus é tão esperto que ele falou: Pai, eu vou à Terra. Vão cuspir ni (sic) mim, vão conspirar, vão querer me matar, vão me pôr uma coroa de espinhos, vão me furar... Eu morro! Agora casar... Essa loucura não vou fazer não!

Essa declaração é falada sem nenhuma observação que é uma brincadeira e demonstra perigos em vários aspectos que gostaria de destacar aqui:

1. Jesus é apresentado como alguém que tem aversão ao casamento por não ter casado.

Essa ideia é perigosa, pois o modelo agora é o Senhor Jesus Cristo e, se for mal interpretado, pode-se causar problemas sérios com respeito ao que Cristo pensa sobre o casamento. 

Cristo não casou com uma mulher porque a sua noiva é a sua Igreja:

Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela. Ef 5.25

Embora que quando a Escritura fala de Cristo como noivo e a Igreja como noiva tenha o sentido metafórico, o aspecto de aliança, compromisso, doação e cuidado são os mesmos. Por isso que Paulo citou Cristo e sua Igreja para falar de relacionamento conjugal, senão, não teria sentido.

Cristo não casou com uma mulher porque ele veio como um cordeiro, especificamente para morrer pela sua Igreja:

No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (Jo 1.29)

Portanto, Cristo não casou porque era um sofrimento, mas porque já tinha uma noiva prometida a ele para que ele pudesse morrer por ela e sacrificar-se em amor como um Cordeiro de Deus.

2. O casamento é retratado como um peso e um sofrimento terrível

A ideia desse mundo é que o casamento é um peso e somente aqueles que não têm juízo casam, pois este, segundo alguns, é como se a pessoa se aprisionasse ou deixasse o melhor da vida.

Infelizmente, o Pr. Cláudio Duarte dá a entender exatamente essa ideia com essas palavras. Em várias outras ocasiões foram faladas piadas com respeito ao casamento em suas pregações, como por exemplo nesse vídeo:

Deus disse a Adão: tu é (sic) feliz demais! Vai dormir que eu vou arrumar um poblema (sic) pra tu (sic)... É lógico que não é isso...

Apesar de que, nessa ocasião, ele afirma que “não é isso”, por não estar assim no texto sagrado, não deixa de trazer uma mensagem subliminar de que o casamento é um peso. Mesmo assim, a declaração sobre Jesus, acima citada, é falada sem nenhuma advertência e observação.

O casamento é retratado na Bíblia como digno de honra (Hb 13.4) e que foi valorizado por Jesus ao fazer o seu primeiro milagre exatamente nessa ocasião demonstrando o quanto era importante e motivo de alegria (Jo 2.1-11; Mt 9.15-16).

O grande problema não está no casamento, mas no ser humano e nas suas relações. Qualquer que sejam o relacionamento será penalizado pela natureza pecaminosa que herdamos. Alguns textos são citados pelo Pr. Cláudio que devem ser analisados:

Quando Paulo afirma:

E aos solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo (1Co 7.8)
Estás casado? Não procures separar- te. Estás livre de mulher? Não procures casamento. (1Co 7.27)

Paulo não está dizendo que ser solteiro é melhor que estar casado. O que Paulo está ensinando está no contexto de uma igreja que estava em uma cidade que tinha uma cultura totalmente impura onde mulheres e homens se adequavam à adoração aos deuses que incluíam orgias de todo tipo. 

Paulo está preocupado com casamentos mistos que trariam maior problema como ele mesmo aconselha as mulheres e homens com seus cônjuges descrentes (1Co 7.12-17) e, por isso, ordena às viúvas que queiram casar que façam isso “no Senhor” (1Co 7.39).

Portanto, Paulo não está exaltando a condição de solteiro, mas ensinando que o casamento mal feito com pessoas com um hábito e práticas pagãs da cidade de Corinto poderia ser mais problema para os irmãos e para a Igreja. O princípio não está em valorizar ser solteiro, mas escolher ficar assim se um casamento for problemático diante de cônjuges que trazem um hábito e prática pagã que afete a conduta cristã.

No entanto, em outra ocasião, Paulo exalta o casamento dando a entender que os demais irmãos e Cefas tinham o privilégio de ter uma irmã que os acompanhavam:

A minha defesa perante os que me interpelam é esta: não temos nós o direito de comer e beber? E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? (1Co 9.4-5). 

Nesse texto fica implícito que Paulo compensa o que os demais apóstolos e Cefas já tinham naturalmente por serem casados, pois o princípio é que “não é bom que o homem esteja só”.

Em outra passagem, Paulo ensina que o casamento deve ser recebido com ações de graças e gratidão.

que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade; (1Co 4.3)

Nesse texto, Paulo adverte aqueles que se opõem ao casamento. O verbo grego κωλυω quer dizer “opor-se a alguma coisa”. Notemos que Paulo afirma que tanto os alimentos como o casamento são coisas que Deus criou para serem recebidos com ações de graças deixando claro que é uma bênção para a vida das pessoas.

Em um dos vídeos citados, o Pr. Cláudio Duarte dá a entender que existem casamentos que não são unidos por Deus, pois ele afirma que o casamento é somente “o que Deus uniu” e que por isso há muitas pessoas mal casadas. Por isso, ele demonstra, nesse caso, uma má percepção e compreensão do texto que fala claramente que “o que Deus uniu, não separe o homem” (Mt 19.6). Essa união divina é no ato do casamento e que o homem jamais tem autoridade de julgar se seu casamento vem de Deus ou não para rompê-lo, pois essa ordem ao homem de não separar-se inclui qualquer julgamento da sua parte porque é Deus que une e não o homem.

O Pr. Cláudio Duarte também faz muitos eventos em lugares que não são em igrejas como está em um site convidando:

O projeto Cláudio Duarte pelo Brasil terá início na segunda-feira (16/03) a partir das 19h no espaço Cantareira, em Niterói.  Nele, o pastor Cláudio Duarte vai ministrar para casais e família abordando assuntos polêmicos, que eventualmente, não poderiam ser pronunciados em púlpitos de muitas igrejas. O primeiro lote dos ingressos já está sendo comercializado no valor de R$ 40,00  à venda ao site www.claudioduartepelobrasil.com.br.

Eu me pergunto quais assuntos que não poderiam ser “pronunciados em púlpitos de muitas igrejas”? Afinal de contas o que não poderia ser pronunciado em uma igreja que seus membros possam ouvir em outro lugar? Afinal de contas, o lugar é mais santo que os membros da Igreja? Segundo as Escrituras, nós somos o santuário de Deus (1Co 6.19) e que quando estamos reunidos em qualquer lugar o Espírito de Deus habita entre nós (1Co 3.16). Portanto, o que não pode ser dito em uma igreja, não deveria ser dito em lugar nenhum para os membros de uma igreja.

Quero concluir dizendo que não tenho absolutamente nada contra o amado pastor nem nada contra os animadores de auditório e artistas da fé. No entanto, quis alertar a igreja de um perigo e concluir dando um conselho a todos aqueles que lerem esse texto, mesmo sabendo que serei odiado pelos idólatras de personalidades e incautos na fé:

1. Cuidado com reuniões e pregações nas igrejas que peçam um ingresso para ouvir o pregador ou pastor.
2. Cuidado com reuniões que tragam pastores que venham intitulados de “profeta de Deus” e/ou “Apóstolo” – geralmente não são sadios na fé.
3. Cuidado com pregadores que passem muito tempo sem analisar o texto lido substituindo-o por piadas, testemunhos e opiniões sobre si.

sábado, 21 de março de 2015

EXISTE ERRO, SIM, DE PORTUGUÊS! UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DA IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA GRAMÁTICA



MAGALHÃES, Francisco Mário Lima

RESUMO

Alguns afirmam que não existem erros de Português, mas apenas há um preconceito linguístico. Por causa disso, muitos têm receios de falar essa palavra quando se trata de Língua Portuguesa. Isso acontece porque há algumas discrepâncias entre a linguagem formal usando a Gramática Normativa com mais rigor e a linguagem informal que a usa de uma forma intuitiva e natural. Esse artigo tem como finalidade demonstrar que a Gramática Normativa é importante e que o erro de Português existe, pois a linguagem está em desenvolvimento. Se ela assim está, não se deve afirmar que a aprendizagem da Gramática é obsoleta ou desnecessária. Portanto, o que se pode notar é que a Gramática Normativa sempre estará inserida no cotidiano das pessoas, pois ninguém fala desassociado totalmente das construções sintáticas e morfológicas da língua por ser necessário entender a sua organização. 

Palavras-chave: Gramática. Linguagem. preconceito linguístico

1 INTRODUÇÃO

A tarefa de um estudante ou pesquisador é analisar se de fato as teorias ou as várias vertentes teóricas são, de fato, coerentes, procurando falseá-las dentro do escopo argumentativo que elas deixam expostas como contradições, incoerências e vácuo de argumentos.

A expressão “erro” no estudo da gramática tem sido um tabu e alvo de muita polêmica. Por causa disso, muitos professores de Língua Portuguesa têm evitado de, pelos menos, falar a expressão erro e a trocam por “linguagem incoerente”, “não contextualizada”, “não apropriada”. Esse preconceito curioso tem vindo exatamente por influência de alguns linguistas por entenderem que a língua, por ser dinâmica e compreensível aos seus falantes, é suficiente, e o ensino da gramática normativa engessa e prejudica o seu entendimento formando o chamado “preconceito linguístico”.

O objetivo desse artigo é exatamente demonstrar que, apesar de reconhecer que a língua é dinâmica e sujeita a várias modificações durante o tempo, existem, sim, erros de Português. Por isso, precisa-se de um estudo sistemático da Gramática Normativa para que se possa ter uma compreensão completa da língua, já que esta não somente inclui a fala, mas a escrita e as várias vertentes que a língua em todos os tempos passa.

Por isso, a relevância desse artigo está em sanar a dúvida de vários estudantes de Língua Portuguesa se a Gramática Normativa é relevante, e trazer um equilíbrio à ideia sociolinguística do estudo da Gramática Normativa, pois na ânsia de defender a liberdade da fala e da gramática interna, vai-se para outro extremo do preconceito fazendo um discurso questionável.

Pretende-se, neste artigo, analisar alguns outros temas de linguistas, gramáticos e o livro considerado best-seller de Marcos Bagno, “Preconceito Lingüístico”, fazendo algumas considerações, e buscando analisar, de uma forma científica e lógica, que a Gramática Normativa é ainda importante.

2 EXISTE ERRO EM LÍNGUA PORTUGUESA?

Há um grande preconceito com a palavra “erro” quando se trata de Língua Portuguesa. Os professores dessa área vivem um dilema e até escolhem expressar-se com as palavras “linguagem incoerente”, “não contextualizada”, “não apropriada”. Esse dilema começa na universidade nos cursos de Letras quando os alunos começam a estudar Linguística e leem livros que ensinam que a Gramática Normativa é apenas um artifício de uma classe dominante e opressora. Se a base para percepção do erro é a Gramática Normativa, logo se perceberá que a expressão “erro” será questionada. É isso que Marcos Bagno quer demonstrar quando questiona o que ele chamou de “Gramática Escolar”. Ele afirma: “A gramática escolar, no entanto, desconhece essa transformação porque a língua está passando e insiste em considerar “erradas” construções como ‘Eu conheço ele’, ‘Você viu ela chegar’ etc” (2007, p. 25).

Marcos Bagno, ao falar sobre alguns mitos que trazem o que ele chama de “preconceito lingüístico”, admite que a palavra “errado” é mal empregada devido à grande incidência das expressões “Eu conheço ele” e “Você viu ela chegar”.

Marcos Bagno, ainda, faz um difícil trabalho de convencer que erro não existe porque a Língua se difere da ortografia oficial. Ele afirma em seu mesmo livro no tema “O que é erro?”:

Como vimos na primeira parte do livro, o Mito 6 expressa a prática milenar de confundir língua em geral com escrita e, mais reduzidamente ainda, com ortografia oficial. A tal ponto que uma elevada porcentagem do que se rotula de “erro de português” é, na verdade, mero desvio da ortografia oficial. (2007, p. 122).


Para Marcos Bagno, a ortografia não é Língua Portuguesa e o seu argumento se baseia que ela vem apenas por um decreto e gesto político. Ele afirma ainda: “A ortografia oficial é fruto de um gesto político, é determinada por decreto, é resultado de negociações e pressões de toda ordem (geopolíticas, econômicas, ideológicas)” (2007, p.123). Para ele, o simples fato de algo ser resultado de um gesto político e determinado por decreto desqualifica-o fazer parte da Língua Portuguesa propriamente dita.

No entanto, não é difícil perceber incoerência e falácias nesses argumentos. Primeiro, porque o autor faz uso, no seu livro, de uma ortografia impecável. Se ele fez uso da ortografia no seu mais alto rigor, ele admite a sua importância de comunicar devidamente a um determinado público. Não obstante, precisa-se entender que a ortografia é uma representação de signos que são completamente convencionais. Por isso que existem letras gregas, orientais, hebraicas, árabes. Fica claro que todas essas letras passam a fazer parte das respectivas línguas. Por exemplo: eu nunca conheci pessoalmente esse autor e nunca o ouvi pessoalmente, mas o que sei do que ele pensa é através dos signos representados que são as letras e palavras na Língua Portuguesa. O simples fato de ser um decreto oficializado não tira a sua importância na Língua Portuguesa e nem a deixa de demonstrar que faz parte da língua, tornando-se uma falácia não inteligente porque todas palavras e letras são naturalmente convencionadas pelo povo que assume determinada língua.

Outro exemplo importante é que até o sétimo século a língua hebraica não era representada por vogais por ser uma língua composta somente por consoantes. Os chamados “massoretas” passaram a dar representação das vogais às letras hebraicas para que os seus sons fossem preservados. Hoje, quando se estuda a língua hebraica, faz-se necessário usar esses símbolos para que se saiba a sua real pronúncia e significado, já que as pronúncias e consoantes têm sons tênues e parecidos. Se alguém afirmar que esses símbolos massoréticos não fazem parte da gramática ou da língua hebraica para qualquer judeu será um absurdo. Outro exemplo são os manuscritos em grego e em latim. O que temos da língua é apenas a representação das palavras e ortografia da época. Hoje, o grego moderno tem palavras com ortografia diferente do grego koinê e clássico. Todas elas foram convencionadas, mas não implicou que deixaram de fazer parte da língua.

Na Língua Portuguesa, a ortografia inclui significados e referenciais que, se trocados, podem dificultar a significação. Por isso, a ortografia se torna mais exigente. Imaginemos que tenha em uma placa luminosa em um ambiente com a seguinte frase: “Concerto a noite”. O leitor não vai saber se aquele ambiente é uma oficina, pois há “conserto à noite”, ou se tem toda noite um “concerto de música”, ou se é uma poesia que alguém quis dizer que “consertava a noite”. A simples dúvida leva a prejudicar a comunicação que os linguistas tanto valorizam demonstrando que a ortografia faz parte da Língua Portuguesa.

Vigotsky tinha uma consciência que a Gramática estava intrinsecamente relacionada com as palavras na língua. A Dra. Elisabeth Ramos da Silva analisa isso no seu ensaio sobre o ensino de Gramática à luz das concepções de Vigotsky:

Cabe lembrar que, ainda segundo Vigotsky, a escrita exige uma ação analítica intencional, o que não ocorre na fala. De fato, para escrever um texto é preciso consciência fonológica, capacidade de ordenar sequências de palavras e orações, obediência deliberada aos princípios gramaticais da língua, bem como a certas regras, quando se deseja utilizar a língua padrão. (SILVA, 2004, p. 72)

Segundo Vigotsky, seria difícil desvincular a gramática das palavras, pois as funções como a sintaxe depende delas e essas precisam ser representadas de uma forma que seja oficializada pelos falantes ou pela etnia. Porém, pode-se entender por que o lingüista Marcos Bagno teve o cuidado de explicar sobre a ortografia, pois ela é uma evidência indubitável que existe erro de português como foi demonstrado na frase ambígua “concerto a noite”.

Um dos conceitos de “erro” no moderno dicionário Houaiss é: “desvio do caminho considerado correto, bom, apropriado; desregramento” (HOUAISS, 2009). Segundo Houaiss, o erro inclui em fazer ou agir de uma forma não apropriada, em total desregramento. Negar isso é anular os padrões da língua que se estabelecem nos dicionários. Fica óbvio que alguém que não usa uma linguagem apropriada com a gramática em um lugar que a maioria das pessoas tem como base as regras de regência verbal, uso correto dos pronomes pessoais e concordância nominal pratica uma inadequação na língua. Se for defendido que essas pessoas não têm compromisso com os que levam o uso da gramática em conta, comete o mais terrível do preconceito linguístico, pois o preconceito não tem mão única, mas mão dupla que abrange a todos. Tanto aqueles que não levam em conta a Gramática como aqueles que a levam.

Dr. Helênio de Oliveira, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro em seu artigo “Como e quando interferir no comportamento lingüístico do aluno” escreve:

O outro extremo (atitude laissez-faire) baseia-se no mito romântico da espontaneidade da linguagem, segundo o qual não se deveria interferir no comportamento lingüístico do estudante, nem lhe ensinando técnicas narrativas, argumentativas, poéticas etc., corrigindo sua linguagem. Boissinot (1994:11) critica a “ideologia neo-romântica da espontaneidade do sujeito falante, da liberação da palavra, incompatível com abordagem técnica e metódica da arte do discurso” (2000, p. 1).

Segundo o professor, quando não se interfere na linguagem do aluno ensinando-lhe uma linguagem correta e adequada à situação, entra-se em outro extremo e passa a viver um mito romântico, entrando-se também em uma contradição palpável do tipo que critica o rigor da linguagem sugerindo a quebrar mitos e barreiras, mas, ao mesmo tempo, escreve-se com uma perfeição gramatical impecável como o autor do livro “Preconceito Lingüístico”. Ou seja, “faça o que eu digo, mas não faça da forma que eu faço”. O professor ainda escreve em seu artigo sobre “Tipologia dos erros de comunicação”:

Em qualquer país, o aprendizado da variedade formal culta do idioma se dá gradualmente na fase de aquisição dessa variedade: o aluno comete erros. Num país como o Brasil existe ainda a agravante de que a distância entre formal e informal é,  como vimos, bastante acentuada. Se o erro de linguagem existe, é pedagogicamente desejável que seja corrigido, isto é, que se tome um conjunto de providências didáticas destinadas a levar o aluno a adquirir as habilidades cuja não aquisição o leva a errar, o que não se deve confundir com uma atitude prescritiva grosseira. Tal “correção” pode consistir inclusive em atividades que desenvolvam prazerosamente o hábito da leitura, pondo o aluno em contato com a linguagem padrão. (2000, p. 4)


Segundo ainda o Dr. Helênio, a ideia de erradicar qualquer erro vem da Semana de Arte Moderna, onde seus autores procuraram enfatizar uma linguagem solta de regras e trazer os vícios de linguagem popular. Ele demonstra que os erros devem ser corrigidos na sala de aula para que o aluno possa conhecer as várias habilidades da linguagem. Ele se baseia que em qualquer país o “erro” é uma realidade na língua e que a escola treina os alunos a estarem preparados para todas as linguagens.
O “erro” de Português é algo tão óbvio e claro que o próprio Marcos Bagno admite em seu livro que ele existe, embora que afirme, logo depois, que é impossível alguém cometer tais erros. Ele afirma:

Assim, podemos até dizer que existem “erros de português”, só
que nenhum falante nativo da língua os comete! Por exemplo, seriam “errados” os enunciados abaixo (o asterisco indica construção agramatical):
 (1) *Aquela garoto me xingou
 (2) *Eu nos vimos ontem na escola
 (3) *Júlia chegou semana que vem
 (4) *Não duvido que ele não queira não vir aqui
 (5) *Que o livro que a moça que Luís que trabalha comigo me apresentou escreveu é bom não nego. (2007, p.125)


Não precisa ser muito inteligente para perceber a total contradição de Marcos Bagno. A primeira contradição é que ele afirma que existe, de alguma forma, erros de Português. No entanto, Marcos Bagno usa a falácia da “autoridade”, isto é, o argumento dele que esses erros não existem está baseado apenas na sua palavra e nada mais. No entanto, pergunta-se: ele se baseou em pesquisa para afirmar isso? Ele teve a chance de conversar com crianças (que mais erram dessa maneira) de todo o Brasil e dos demais países que falam a nossa língua? E se houver um nativo da língua que cometa um desses erros, Marcos Bagno admitiria a importância da Gramática? Na verdade, esse argumento destruiu tudo o que ele tinha construído que erro de Português é apenas uma ideia preconceituosa.

A frase (1) que fala “aquela garoto me xingou” é quase imperceptível se alguém cometer esse erro, como existem várias crianças que costumam fazer quando estão aprendendo a falar. Mesmo assim, existem momentos da informalidade que cometemos erros por falar mais rápido ocorrendo esses tipos de erros. No entanto, mesmo levando em conta o que Marcos Bagno escreveu que não ocorre, coisa que não pode ser provada, jamais a mensagem dessa frase perderia o seu teor de comunicação, pois a pessoa que ouvir vai saber que foi um garoto que o xingou, embora que comece com um pronome demonstrativo feminino. Ele afirma: “Ao recebermos um texto escrito por alguém (ou ao ouvir alguém falar), vamos procurar ver, antes de tudo, o que ele/ela está querendo comunicar” (2009, p.138). Afinal de contas, quem não saberia o que se está dizendo com essa expressão? Portanto, o que Marcos Bagno afirma que é erro está dentro dos critérios que ele mesmo defende para não ser, pois a pessoa entenderia muito bem ao falar ou ao escrever essa frase.

A frase (5) é um erro muito freqüente entre alunos de primeiro ano do ensino Médio. Eu mesmo já presenciei vários textos que têm erros semelhantes de coesão. Não obstante a tudo isso, mais uma vez se vê a carência do bom uso da Gramática na escrita, pois os erros da frase (5) implicam em coesão textual com um bom uso de conjunções, conectivos e pontuação que incluem alto conhecimento da Gramática.

Embora que Marcos Bagno não considere que esses erros específicos sejam possíveis, ele tem que admitir que a essência deles é uma realidade – uma total incompatibilidade gramatical de regência e inadequação da linguagem, mesmo que haja compreensão. Para se notar a incoerência e a falácia do argumento de Marcos Bagno, imagine que eu diga que não exista erro de Matemática, mas poderia até ter, como o exemplo de 2 + 2 = 5. Logo depois, eu afirmasse, sem nenhuma falseabilidade, que esse erro ninguém cometeria. No entanto, a essência do erro existe da mesma forma que alguém resolvesse de uma forma errada a conta 2+2x4=16, pois o erro tem exatamente a mesma essência de 2+2=5, ou seja, é o que Houaiss conceituou, que os dois têm o desregramento ou um desvio que se convencionou correto, pois os números são completamente convencionais. Por isso que os números, tanto em latim como em grego, eram representados por letras.

Portanto, erro de Português existe, confirmado pelo próprio Marcos Bagno, pois a essência do erro é a mesma, mesmo que não tenha a mesma estrutura frasal no período.

3 REFERENCIAL LINGUÍSTICO E A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA GRAMÁTICA NORMATIVA

A Gramática Normativa tem sido minimizada por muitos lingüistas e, consequentemente, o seu uso nas escolas e universidades. Alguns professores de universidade passam uma ideia que a Gramática Normativa é facultativa e que ela é somente para uso acadêmico específico, não sendo necessário aprofundar-se. Por isso, não é raro perceber, em muitos estudantes do curso de Letras, erros primários de Português como “seje”, separando sujeito e predicado com vírgulas em textos, errando em regência verbal, sem falar nos graves erros de coesão textual.

Precisa-se admitir que alguns aspectos da Gramática de uma língua correm o risco de se tornar obsoletos, mas jamais toda ela. Por exemplo: Quando uma pessoa fala: “Nos faça um favor: ouça o que temos para falar e nós vamos entrar num acordo”. O que se pode notar é que o uso da próclise aconteceu no começo de uma expressão quebrando a regra da Gramática Normativa. No entanto, foram usadas as regras em todo o restante da oração. Isso significa que a Gramática não é totalmente descartável nem se pode afirmar que ela é dispensável, pois isso acontece em toda língua. Além do mais que a linguagem formal ou culta ainda é usada na escrita e em ocasiões formais.

Percebe-se, no entanto, a importância da Gramática quando se nota que sempre falamos com base em referencial lingüístico da língua que é a sua Gramática, seja consciente ou não. Quando não se fala dentro desse referencial que se adota, constitui-se uma inadequação da linguagem que os dicionários chamam de erro; seja verbal ou escrito. O “erro”, pois, precisa de um referencial como base, pois ele é sua distorção ou a sua inadequação. Esse referencial está na pessoa que o adota, ou seja, o erro sempre dependerá do referencial da pessoa. Por exemplo: se alguém estiver em um ambiente que todas as pessoas somente falam em uma linguagem informal, eles não têm como referencial as normas, signos e sintaxe conscientes, embora que as use. No entanto, se houver uma pessoa que tem como referencial linguístico as regras da Gramática normativa em alguns aspectos, mesmo que em outros não, aquela pessoa vai analisar a linguagem dos demais com o referencial de normas, signos e sintaxe de uma forma consciente, podendo haver um bloqueio na empatia de comunicação.

Portanto, aqueles que não estiverem adequados à Gramática errarão na concepção daquela pessoa, como para os demais não há erros. Por isso, o erro sempre dependerá do referencial que se adota. A professora Elisabeth Ramos em seu artigo com o nome de “O ensino da gramática à luz das concepções de Vygotsky” afirma: “A gramática teórica permite ao falante entender sua língua como um sistema organizado, lógico e coerente, tornando-lhe possível a reflexão sobre as regras e os princípios da língua”. Para a professora, a Gramática permite ao falante ter um referencial, pois a língua é um sistema organizado, lógico e coerente. Ela, ainda, afirma o que Vygotsky pensava sobre o ensino da Gramática:

Já se chegou mesmo a dizer que o ensino de gramática na escola poderia ser abolido. Podemos replicar que a nossa análise mostrou claramente que o estudo de gramática é de grande importância para o desenvolvimento mental da criança. [...] Ela pode não adquirir novas formas gramaticais ou sintáticas na escola, mas, graças ao aprendizado da gramática e da escrita, a criança realmente torna-se consciente do que está fazendo e aprende a usar as habilidades conscientemente. [...] A gramática e a escrita ajudam a criança a passar para um nível mais elevado do desenvolvimento da fala (SILVA, 2004, p. 72).

Para Vygotsky, o estudo da Gramática é essencial porque é importante para o desenvolvimento mental da criança. A Gramática a torna consciente na escola ensinando-a a usar as habilidades conscientemente. Isto quer dizer que, segundo Vygotsky, o que a criança sabe, através da aprendizagem natural e dos hábitos, ela desenvolve através do estudo da gramática na escola conscientemente e, com isso, passa a criança a desenvolver-se para um nível mais elevado da fala. Para isso, é necessário ter um referencial gramatical, mesmo de uma forma inconsciente, pois quando se usa um pronome na primeira pessoa do plural para falar de muitas pessoas incluindo-se, mesmo errando a conjugação do verbo, não se deixa de ter um referencial gramatical. No entanto, quando a criança aprende na escola algumas normas da Gramática, ela passa a tê-las como referencial em sua linguagem.

Varias vezes, como professor, percebi alunos criticando seus colegas por alguns descuidos gramaticais na sala de aula. Isso demonstra que alguns têm a Gramática, mesmo sem dominá-la, como referencial nas suas falas no ambiente escolar. Foi exatamente isso que Chomsky demonstrou em seu livro “Aspectos da Teoria da Sintaxe”. Ele fala sobre a importância da Gramática como também sobre os referenciais intrínsecos que ela nos forma. Ele afirmou:

Se uma frase como “flying planes can be dangerous” for apresentada num contexto construído apropriadamente, o ouvinte interpretá-la-á imediatamente de um modo único, e não conseguirá detectar a ambiguidade. Na realidade, ele pode rejeitar a segunda interpretação, quando esta lhe é indicada, como sendo forçada ou pouco natural (independentemente da interpretação que ele escolheu originalmente sob a pressão do contexto). No entanto, o seu conhecimento intuitivo da língua é tal que ambas as interpretações (correspondendo a “flying planes are dangerous” e “flying planes is dangerous” são atribuídas à frase pela gramática que ele, de uma determinada forma, interiorizou. No caso agora mencionado, a ambiguidade pode ser bastante transparente. (CHOMSKY, 1975, P. 103)

Para Chomsky, a Gramática é interiorizada e ela passa a ser exatamente como um referencial linguístico, pois o significado da frase depende de como a concebemos. Chomsky dá outro exemplo para demonstrar a importância da Gramática, tendo-a como referencial lingüístico. Segundo ele, a frase “João, Luís e Maria saíram” precisa-se ter um referencial da gramática para tirar a ambigüidade. Se usar o verbo no singular “saiu”, dará a entender que somente Maria saiu, sendo apenas citados o João e Maria. No entanto, o verbo no plural demonstra que as três pessoas saíram. Chomsky, com esse exemplo, demonstra que a Gramática é importante como também ela precisa ser conscientemente usada dependendo do contexto que a oração for empregada. Por exemplo, se essa frase vier como resposta de uma pergunta: “quem saiu?”, a resposta será compreendida mesmo falando: “João, Luís e Maria saiu”. No entanto, se essa frase vier como uma afirmação inicial, pode haver um problema de comunicação na fala e muito mais se for na escrita.

4 A TRANSIÇÃO DA LINGUAGEM E DA GRAMÁTICA

Um aspecto que se deve levar em conta é que, em toda linguagem, existe transição porque ela é dinâmica. Essa transição se manifesta nas variações linguísticas até chegarem em dialetos ou em outra língua.

Em todas as épocas, a linguagem teve esse processo de transição. As línguas gregas e latinas são exemplos disso. Havia uma variação grega que chamaram de koinê como do latim que chamaram de vulgar. Todas essas variações vieram por que havia a linguagem formal e a informal. Na Língua Portuguesa do Brasil, apesar de terem muitas peculiaridades, ainda se preserva as formalidades da linguagem bem como o uso adequado de pronomes e regência de verbos por que a língua está em plena transição. Quando se exclui a importância de falar dentro de critérios da gramática normativa, está-se negando ou ignorando a transição que acontece em toda língua. Por exemplo, pessoas que não têm escolaridade costumam empregar os pronomes oblíquos errados em expressões como “nós se decepcionamos”, em vez de “nós nos decepcionamos”. No entanto, quem os emprega, mesmo de uma forma errada, não deixou de usar corretamente o verbo conjugado conforme o pronome-sujeito, combinando o número da primeira pessoa do plural. Isso demonstra que não foi abandonado totalmente a estrutura gramatical normativa, pois a língua está em transição e isso pode ter acontecido pela falta de conhecimento de uso dos pronomes devidos.
John Lyons, em seu livro “As Idéias de Chomsky”, afirma:

Chomsky e seus colaboradores chegaram à conclusão de que o significado das sentenças poderia e deveria ser submetido à mesma espécie de análise precisa e formal a que são submetidas suas estruturas sintáticas e que a semântica deveria ver-se incluída como parte integrante da análise gramatical das línguas. (1970, p.79)

Para Chomsky, a semântica está incluída na análise gramatical da língua, pois, mesmo que a pessoa não domine algumas regras da gramática normativa, ela vai procurar ajustar-se com o conhecimento intrínseco gramatical que ela tem da prática e da fala.

Portanto, ao excluir a importância da gramática normativa, afirma-se, com isso, que não existe transição, mas uma língua formada, e isso não condiz com a realidade, já que em alguns casos as pessoas levam em conta a linguagem formal e culta. Seja para escrever, seja para falar. Chega-se, pois, à conclusão que a língua é composta sempre de uma linguagem em transição, juntando a língua culta com a língua informal aprendida no dia a dia.

Roberto Gomes Camacho, em seu ensaio sobre Norma Culta e Variedades Lingüísticas, escreve sobre a necessidade de ter consciência que a língua não está associada com a homogeneidade. Ele afirma que, ao contrário do que muitos pensam, ela tem necessidade de variação, pois é uma característica inerente. Assim ele escreveu:

Por que é possível fazer essas adivinhações com grau considerável de acerto? A resposta mais natural é porque, por um lado, toda língua varia, isto é, não existe comunidade linguística alguma em que todos falem do mesmo modo e porque, por outro lado, a variação é o reflexo de diferenças sociais, como origem geográfica e classe social, e de circunstâncias da comunicação. Com efeito, um dos princípios mais evidentes desenvolvidos pela linguística é que a organização estrutural de uma língua (os sons, a gramática, o léxico) não está rigorosamente associada com homogeneidade; pelo contrário, a variação é uma característica inerente das línguas naturais. (CAMACHO, 2012, p. 35)

A linguagem necessita de uma abordagem heterogênea porque ela é viva e está sempre em transição. Se ela é assim, por que tratar uma em detrimento da outra ou por que não levar em conta a Gramática Normativa que é base para um tipo de linguagem? Precisa-se sempre lembrar que nunca se está totalmente desassociado da Gramática, pois sempre se buscará regras que sejam compatíveis com a linguagem. Nenhuma pessoa, mesmo a mais analfabeta, jamais diria: “Mim quer comer!”ou “Mim quero comer”. Ele, com certeza, irá usar o pronome pessoal correto ou, se usá-lo de uma forma Elíptica, colocará o verbo no tempo e conjugação corretos. Isso não se dá somente pela prática, mas também pela necessidade gramatical aprendida pela fala.

Portanto, pela necessidade da transição da linguagem que sempre relacionará o uso informal com os conhecimentos adquiridos da Gramática Normativa é que o estudo da Gramática Normativa se torna importante.

5 A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR A GRAMÁTICA NORMATIVA PARA SE ENTENDER ASPECTOS DA LINGUAGEM

O estudo da Gramática é essencial para que se entenda o funcionamento da língua. Todas as línguas têm semelhanças sintáticas, embora que elas tenham diferenças dos signos ou significando. Por exemplo, toda língua tem um sujeito, um verbo, objetos e adjuntos adverbiais, nominais e prepositivos. Quando se estuda a Gramática, tem-se uma visão mais ampla da estrutura da linguagem de qualquer outra língua. O sujeito sempre vai ter a função do agente do verbo, ou aquele que vai sofrer a ação, ou até fazer as duas. Uma língua pode ter gramáticas bem diferentes como as línguas orientais, hebraicas, árabe ou grega, mas todas elas apresentarão estruturas semelhantes de sujeito-verbo-objeto.

Quando se estuda a Gramática da Língua Portuguesa, está-se estudando a estrutura da língua e levando o aluno a entendê-la de uma forma mais lógica e profunda. Percebe-se que os alunos que mais têm dificuldade de aprender outra língua ou entender a sua estrutura são aqueles que não conhecem aspectos da gramática do vernáculo, pois existem coisas comuns a todas as línguas.

Vygostsky entendia que a Gramática era muito útil para o desenvolvimento mental da criança e que ela a leva entender a sua língua como um sistema organizado, lógico e coerente, tornando-lhe possível a reflexão sobre as regras e os princípios da sua própria língua. Ele afirma:

Já se chegou mesmo a dizer que o ensino de gramática na escola poderia ser abolido. Podemos replicar que a nossa análise mostrou claramente que o estudo de gramática é de grande importância para o desenvolvimento mental da criança. [...] Ela pode não adquirir novas formas gramaticais ou sintáticas na escola, mas, graças ao aprendizado da gramática e da escrita, realmente torna-se consciente do que está fazendo e aprende a usar as habilidades conscientemente. [...] A gramática e a escrita ajudam a criança a passar para um nível mais elevado do desenvolvimento da fala. (SILVA, 2004, P. 72)

Segundo Vygotsky, a Gramática levará a criança ou o estudante a racionalizar as regras linguísticas da fala desenvolvendo-as quando a estuda. Para ele, a Gramática é de grande importância, pois ela amplia o raciocínio cognitivo da estrutura linguística. Por exemplo, quando uma criança chama sua mãe, ela coloca o sujeito antes do verbo. No entanto, ela não racionaliza que o sujeito age em torno do verbo. Somente com o estudo da Gramática, a criança entenderá que a estrutura frasal está formada de uma forma lógica segundo a sua língua e seus signos. Ela verá ao estudar, portanto, que todas as línguas terão um emissor formado de um sujeito em torno do verbo. Por isso, Vygotsky entende a Gramática como um meio de habilidade consciente para o desenvolvimento da fala. Segundo Silva (2004, p.72), Vygotsky ainda tem a ideia que a escrita necessita de uma ação analítica intencional, o que não ocorre na fala. Isso significa que ao escrever temos que agir com mais análise que a fala. Para isso, a Gramática será indispensável. Na fala, a ação é intuitiva e automática; já na escrita, ela é analítica e envolve estrutura mais consciente da Gramática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O erro de Português é uma realidade, pois existem várias linguagens e, dentre elas, a língua culta ou formal que ainda é usada em todos os tempos. Os professores precisam perder o medo de corrigir seus alunos na sala de aula explicando-lhes que precisam conhecer não somente a estrutura da língua, mas como também as várias linguagens e, dentre elas, a linguagem culta e formal que é muito usada nos meios acadêmicos e trabalhistas, sem falar que a gramática não é abandonada totalmente mesmo na linguagem informal.

O aluno precisa entender que as demais pessoas se chegarão a ele com um referencial lingüístico que julgará a sua linguagem mediante isso e que, caso ele não esteja dentro desse referencial, será criticado e corrigido, dependendo da ocasião. Não é suprimindo o erro que ameniza a falta de aceitação de pessoas que não falam conforme o nosso referencial, mas é levando-os a entender que existem pessoas que devem ser aceitas, embora não falem dentro de nossos referenciais ou que não tenham tido oportunidade de estudar melhor a língua culta. Da mesma forma, esses devem entender que aqueles que estudaram são mais exigentes e que eles irão sempre esperar que se fale dentro dos padrões mínimos gramaticais em um discurso. Esses precisam perceber que a linguagem está em profunda transição e que jamais houve uma língua que eliminasse de vez a língua culta ou a importância da sua gramática.

A estrutura da linguagem é mais organizada, sistematizada e melhor entendida quando se estuda a Gramática Normativa como Vygotsky percebeu muito bem. Negar isso a estudantes da língua é negar a capacidade de percepção além de sua própria linguagem; é deixar de levar a transcender a sua própria linguagem entendendo a sua universalidade.

Portanto, os professores como os alunos devem perceber a importância da Gramática, bem como também da linguagem culta para a sociedade. Precisa-se ter todo o cuidado de que, na busca de evitar o chamado “preconceito lingüístico”, não se faça outro mais cruel – o preconceito de estudar e entender a estrutura de sua própria língua.

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REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. São Paulo: Loyola, 2007.

CHOMSKY, Noam. Aspectos da Teoria da Sintaxe. Coimbra: The MIT press, 1975.

CAMACHO, Roberto Gomes. Norma Culta e variedades lingüísticas. São José do Rio Preto: UNESP, 2012.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss. São Paulo: Objetiva LTDA, 2009.

LYONS, John. As ideias de Chomsky. São Paulo: Cultrix, 1970.

OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. Como e quando interferir no comportamento linguístico do aluno. UFRJ: Rio de Janeiro, 2000.

SILVA, Elisabeth Ramos da Silva. O Ensino de gramática à luz das concepções de Vygotsky. Janus Lorena, ano 1, n. 1, 2o semestre, 200