sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O EVANGELHO DA MISSÃO INTEGRAL VERSUS O EVANGELHO DA PROSPERIDADE





A grande incógnita em nossos dias é saber qual é exatamente a missão da Igreja. Isso se deve a dois fatores. Primeiro, devido à total crise de identidade que o evangelicalismo sofre em nossos dias em não saber onde está a linha ou o critério para se dizer que uma igreja é genuinamente cristã ou evangélica. Segundo, devido ao recrudescimento da chamada Teologia da Prosperidade que tem desviado a Igreja do verdadeiro significado da sua Missão.
O próprio nome “Missão Integral” demonstra a tentativa da igreja enfatizar um aspecto da Missão que, para esses, fora preterida. Ou seja, a Igreja sentiu a necessidade de que o adjetivo “Integral” fosse acrescentado à palavra “Missão” para que se entendesse que a ideia de “Missão” estava ainda incompleta. No entanto, as palavras “Missão Integral” não passam de uma tautologia, pois não existe “Missão” que não seja “Integral”. Ou se faz a “Missão”, que é Integral, ou não a faz. Portanto, a palavra Missão deveria ter já em sua semântica o significado de integralidade sem nenhum acréscimo de adjetivo.
No século XVI, quando a Reforma Protestante surgiu, os reformadores tinham a missão da igreja de uma forma clara. A Confissão de Fé de Westminster foi o documento que se pode conhecer sobre o que os reformadores pensavam na época sobre Missões. Assim está escrito:

Em seu amor infinito e perfeito – e tendo provido no pacto da graça, pela mediação e sacrifício do Senhor Jesus Cristo, um caminho de vida e salvação suficiente e adaptado a toda raça humana decaída como está – Deus determinou que a todos os homens esta salvação de graça seja anunciada no Evangelho. (Ref. 1Tm 4.10; Mc 16.15) (Confissão de Fé de Westminster, capítulo XXXV, que trata do Amor de Deus e das Missões)

A Confissão demonstra que os reformadores tinham uma mente formada do que seria a Missão da Igreja, pois foi prescrita em uma confissão. Para eles, a missão se baseava em levar “um caminho de vida e salvação... a toda raça humana”. Não que eles estivessem esquecendo os problemas sociais, mas que a salvação de Deus quando atingisse o homem decaído, amenizaria e traria às consciências a justiça social e mudanças em todas as áreas políticas.
João Calvino tinha uma visão semelhante. Ele afirma em suas Institutas:

Nosso Senhor Jesus Cristo foi feito um como nós, e sofreu a morte para que pudesse tornar-se um advogado e mediador entre Deus e nós, e abrir um caminho pelo qual possamos chegar a Deus. Aqueles que não se empenham em trazer seu próximo e descrente ao caminho da salvação, mostram abertamente que não têm em conta a honra de Deus, e que tentam diminuir o imenso poder de seu império e estabelecem limites para que ele não possa governar todo o mundo, de igual modo obscurecem a virtude e morte do nosso Senhor Jesus Cristo e diminuem a dignidade dada a ele pelo Pai.[1]


Nota-se que Calvino tinha a visão de que, pelo Evangelho e conversão, Deus governaria em todas as áreas, ou seja, “todo o mundo”, como ele escreveu. Para Calvino e os reformadores, a Missão começava com a salvação de Cristo que incluía uma postura espiritual de arrependimento diante de Deus. A partir daí, as áreas seriam influenciadas pelo Evangelho, incluindo os pobres, necessitados, justiça social, educação, artes, etc. A demonstração prática disso é que as cidades em que mais desenvolveu o protestantismo no mundo se tornaram as mais desenvolvidas. Entre elas estão: Suíça, Escócia, Inglaterra, África do Sul e USA. Além de ter, como fundadores, as melhores universidades do mundo de onde mais teve prêmio Nobel. Dentre elas, estão Havard, Yale, Princeton, Universidade Livre de Amsterdam, Oxford e Cambridge. Todas elas foram fundadas ou sofreram forte influência de puritanos. Os reformadores e puritanos tinham uma visão holística, entendendo que a salvação alcança o homem no todo na sociedade. Eles não falavam e enfatizavam a ação social e política porque entendiam que já estava inserida na Missão.
Isso demonstra que a igreja e os reformados da época tinham a ideia de Missões como um todo monolítico começando com a salvação em Cristo Jesus atingindo toda a sociedade como Jesus ensinou sobre o sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16).

 O PERIGO DA POLARIZAÇÃO NA DICOTOMIA ENTRE O PROFANO E O SAGRADO

Toda polarização traz perigos e conseqüências. Mesmo que seja em nome de uma causa nobre e verdadeira, a polarização de um seguimento ou de uma ideologia pode levar a conseqüências gravíssimas.
Houve várias tendências que levaram à polarização da Missão da igreja. Uma delas é a dicotomia que a igreja fez entre o sagrado e o profano (mundano). O conceito de sagrado para a igreja era somente o que tivesse conotação de protestantismo, mesmo que não tivesse aparente base bíblica. Essas igrejas conceituaram “mundanismo” como aquelas tendências que estivessem fora do escopo protestante e, por isso, eram, por si mesmo, pecado e erro. Jogar futebol; participar de teatro, de programas de TV; músicas populares; ir a cinemas, a exposições, ou a outros lugares por muito tempo foram pecado e mundanismo. Essa influência veio de grupos protestantes incautos e que não tinham base, nem fundamentos teológicos ou roformados. Com isso, a igreja achava que cumprir a Missão seria apenas pregar o Evangelho, se possível, com roupa apropriada que os Norte-americanos trouxeram como palitós, gravatas ou outros acessórios convencionados por líderes de igrejas, não importando como a sociedade local estaria. A política, as artes, o esporte ficaram por conta da sociedade “profana e mundana” e aqueles que fossem crentes não deveriam ousar entrar nesses âmbitos. A Missão tinha apenas uma conotação polarizada de pregação e aceitação do evangelho sem levar em conta a influência na sociedade.

Se a política, as artes e as universidades que influenciam toda uma sociedade estavam sem a luz e o sal, como esperar que essa sociedade pudesse influenciar e tratar dos mais pobres, viciados ou daqueles que estão à margem da sociedade? Por isso, a Igreja teve a tendência de polarizar achando que a Missão incluía apenas a pregação sem nenhum compromisso em influenciar a sociedade que lhes cercava.
Hoje, essa polarização tem outra nomenclatura chamada de “Gospel”. Tudo que for “Gospel” é licito, mesmo que seja uma boate, fotos sensuais, quaisquer que sejam a prática, sendo “Gospel” é espiritual. Com isso, os protestantes passam a fazer uma dicotomia como no passado, só que agora vem com uma outra nomenclatura. No passado, era “coisas do mundo”; hoje, “coisas que não são ‘Gospel’”. Por causa disso, deixam de influenciar na sociedade em várias áreas trazendo princípios de Deus ou entendendo que sociedade precisa de luz que são os princípios de Deus em todas as áreas em um país que se faz Missão. Portanto, a ideia de Missões se torna mais forte e desafiadora.

O PERIGO DE ELIMINAR A ESPIRITUALIDADE DA MISSÃO

Dos perigos que rondam a Missão, esse é o pior, pois torna-a completamente uma caricatura. O perigo é exatamente de eliminar a espiritualidade da Missão, tornando simplesmente uma causa social. Essa vertente começou com Teólogos liberais que não criam em milagres e baseavam-se, para interpretar o VT, na teoria das fontes. Isso implicava dizer que a doutrina da queda, da criação foram colocadas como mitos e descartáveis. Por causa disso, para alguns, Jesus Cristo veio apenas trazer um exemplo de como buscar os pobres e, por isso, essa era a salvação que os libertava. A Igreja Católica foi fortemente influenciada por essas idéias chamando essa teologia de Teologia da Libertação. Esse termo foi colocado pelo padre peruano Gustavo Gutiérres. No Brasil, seu principal representante foi o padre Leonardo Boff que escreveu vários livros demonstrando essa ideologia.
Quando se tira a espiritualidade da Missão, canalizando-a somente para a libertação simplesmente sociológica, elimina-se as bases dela, pois a causa do caos social e político é exatamente o afastamento do homem de Deus. Além disso, tira-se a possibilidade das bases éticas para qualquer ação, já que a salvação de Deus inclui a restauração não somente dos corpos, mas de toda a natureza.
Outro aspecto dessa visão é que o Evangelho se reduz apenas a pessoas e lugares pobres, pois ele seria totalmente desnecessário a lugares que quase não existe pobreza. Nesse caso, o Evangelho se tornaria apenas circunstancional e não universal e necessário. O problema do homem é o seu coração, pois é dele que procedem mortes, cobiça, corrupção e toda sorte de coisas ruins para a sociedade (Mc 7.20-23). A razão maior da Missão não é mudar a sociedade começando pela conseqüência, mas buscar, primeiramente, a raiz do problema, pois o que veio primeiro foi o pecado Adâmico. Depois, veio a maldição como conseqüência espiritual e social. Precisa-se pensar que se deve tratar da maldição por causa do pecado que é solucionada em Cristo, buscando concomitantemente ser uma influência na sociedade sofrida por essa conseqüência.
Portanto, essa polarização é terrivelmente prejudicial ao escopo bíblico da Missão.

A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE E MISSÃO

Um dos aspectos que mais influenciou para um outro extremo foi a chamada Teologia da Prosperidade. Segundo essa Teologia, Deus em Cristo nos salva do pecado, da miséria, da pobreza, das doenças e de qualquer problema que foge de nosso domínio. Essa teologia começou nos USA e influenciou o mundo com seus versos tirados do contexto e o seu forte apelo ao prazer egocêntrico dos seus ouvintes.
A Teologia da Prosperidade levou a Igreja a preocupar-se somente com o ter e não com o ser e o servir. Os pobres, mal sucedidos, moradores de favelas são frutos de maldição que têm que livra-se dela “aceitando a Jesus como Senhor e Salvador” e abrindo mão de seus bens em ofertas a igrejas dessa natureza.
Por causa disso, a Igreja perdeu a ideia de Missão, pois ela estava se preocupando apenas com os números de membros, e esses, ricos; preocupando-se se os membros ainda estavam usando bicicletas ou se tinham trocado para carros; ou até se estavam crescendo financeiramente em alguma área ou trocando de bens. A Missão se restringia apenas ao espiritual, sendo comprovado pela obtenção de bens, pois diziam que Jesus levou as dores e a pobreza também.
A conseqüência disso é a total insensibilidade para com os necessitados, os pobres, e o julgamento temerário daqueles que não têm ascensão social como alguns. Outra conseqüência disso é a total insensibilidade para com as exigências da Missão. Muitas vezes, a Missão cristã exige desprendimento de bens, fama, até da vida, pois existem lugares com difícil penetração do Evangelho. A Teologia da Prosperidade anula essa sensibilidade de renúncia, desprendimento e entrega pelo outro por amor a Cristo.
Na verdade, a Missão nessas igrejas é somente local, com apelos materialistas de prosperidade. Por causa disso, outras tendências vieram para enfatizar a ação social como resposta a essa Teologia indo para um outro extremo. No entanto, quando se enfatiza mais a ação social deixando de lado a raiz de toda problemática social, entra-se em outro extremo, pois a razão dos problemas sociais é por que o homem se afastou de Deus e, por isso, houve conseqüências graves em todas as dimensões sociais.
Portanto, a Missão deve começar na salvação a fim de que influencie todas as áreas, buscando mudar a situação sócio-cultural que está deitada nas mãos do diabo, pois “o mundo jaz no maligno” (1Jo 5.19).

A BASE BÍBLICA PARA QUE A VISÃO DA MISSÃO SEJA INTEGRAL

1. Deus fala na Lei de Moisés sobre o cuidado com os pobres

No VT, várias passagens demonstram que a salvação de Deus incluía todas as áreas sócias. Deus não estava interessado em uma religião insólita e cíclica, mas em uma religião que afetasse todas as áreas.

Êxodo 23:10-11  10 Seis anos semearás a tua terra e recolherás os seus frutos;  11 porém, no sétimo ano, a deixarás descansar e não a cultivarás, para que os pobres do teu povo achem o que comer, e do sobejo comam os animais do campo. Assim farás com a tua vinha e com o teu olival.

Deus ordenou que o povo pensasse nos pobres e que deixassem no sétimo ano a terra sem cultivá-la para que os pobres pudessem colher e comer. Da mesma forma ele adverte ainda:

Deuteronômio 15:11-14  11 Pois nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: livremente, abrirás a mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre na tua terra.  12 Quando um de teus irmãos, hebreu ou hebréia, te for vendido, seis anos servir-te-á, mas, no sétimo, o despedirás forro.  13 E, quando de ti o despedires forro, não o deixarás ir vazio.  14 Liberalmente, lhe fornecerás do teu rebanho, da tua eira e do teu lagar; daquilo com que o SENHOR, teu Deus, te houver abençoado, lhe darás.

Nesse texto, Deus deixa claro que os pobres sempre estarão na terra e que o povo, por causa disso, teria que abrir a mão para o necessitado e para o pobre na terra. Deus demonstra que a religião deveria vir de uma profunda preocupação com as ações sociais. Quando se fala no pobre, deve-se entender de uma forma metonímica que quer dizer toda conjuntura social que os pode beneficiar como uma boa política, projetos sociais, envolvimentos sociais e uma postura justa na sociedade.

2. Deus adverte nos Salmos e nos profetas sobre as injustiças sociais e sobre o cuidado com as viúvas

Salmos 10:12-18  12 Levanta-te, SENHOR! Ó Deus, ergue a mão! Não te esqueças dos pobres.  13 Por que razão despreza o ímpio a Deus, dizendo no seu íntimo que Deus não se importa?  14 Tu, porém, o tens visto, porque atentas aos trabalhos e à dor, para que os possas tomar em tuas mãos. A ti se entrega o desamparado; tu tens sido o defensor do órfão.  15 Quebranta o braço do perverso e do malvado; esquadrinha-lhes a maldade, até nada mais achares.  16 O SENHOR é rei eterno: da sua terra somem-se as nações.  17 Tens ouvido, SENHOR, o desejo dos humildes; tu lhes fortalecerás o coração e lhes acudirás,  18 para fazeres justiça ao órfão e ao oprimido, a fim de que o homem, que é da terra, já não infunda terror.

Salmos 82:1-4  Salmo de Asafe. Deus assiste na congregação divina; no meio dos deuses, estabelece o seu julgamento.  2 Até quando julgareis injustamente e tomareis partido pela causa dos ímpios?  3 Fazei justiça ao fraco e ao órfão, procedei retamente para com o aflito e o desamparado.  4 Socorrei o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios.

Tanto o Salmos 10 como o 82 demonstram que Deus levou o seu povo a preocupar-se com a justiça social, com os pobres, com os órfãos e com os fracos. No Sl 10 Deus repreende aqueles que falavam que Ele não se importava com os pobres. Os salmistas demonstram, então, que Deus levava seu povo a ter uma visão social abrangente.

Isaías 10:1-2  Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão,  2 para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!

Nesse texto, Deus adverte através do profeta Isaías que povo levasse em conta a justiça social e o cuidado de oprimir os pobres, viúvas e órfãos. Da mesma forma, o profeta Jeremias afirma:

Jeremias 5:27-29  27 Como a gaiola cheia de pássaros, são as suas casas cheias de fraude; por isso, se tornaram poderosos e enriqueceram.  28 Engordam, tornam-se nédios e ultrapassam até os feitos dos malignos; não defendem a causa, a causa dos órfãos, para que prospere; nem julgam o direito dos necessitados.  29 Não castigaria eu estas coisas? -- diz o SENHOR; não me vingaria eu de nação como esta?

Nesse texto do profeta Jeremias, Deus repreende o seu povo por causa das fraudes, por não defenderem a causa dos órfãos e nem a dos necessitados. Isso demonstra que a adoração inclui uma visão global na sociedade, influenciando e buscando a justiça social. Isso demonstra que quando se pensa em Missões, deve-se pensar em justiça social, influência em todas as áreas e a preocupação com os mais necessitados sem deixar de começar pela raiz do problema que é a separação do homem para com o seu Criador.



Por isso, Deus sempre falava através dos profetas que eles deveriam levar em conta a injustiça como se pode ver no profeta Oseias:

Oseias 6:7-8  7 Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim.  8 Gileade é a cidade dos que praticam a injustiça, manchada de sangue.

Nesse texto, Deus adverte seu povo que eles eram como a cidade daqueles que praticam a injustiça. Deus sempre tem uma visão do todo social, pois a injustiça incluía as manifestações na sociedade que o povo não estava atentando nem influenciando para tal. Por isso, Deus fala do seu juízo através do profeta Amos:

Amós 5:11-12  11 Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis tributo de trigo, não habitareis nas casas de pedras lavradas que tendes edificado; nem bebereis do vinho das vides desejáveis que tendes plantado.  12 Porque sei serem muitas as vossas transgressões e graves os vossos pecados; afligis o justo, tomais suborno e rejeitais os necessitados na porta.

Nesse texto, Deus adverte que a causa de seu juízo é exatamente por que o povo desprezava os pobres e afligiam o justo, como também por causa do suborno. Por isso, Deus adverte ao povo por causa da sua total insensibilidade dos problemas sociais.


3. A visão da Missão no Novo Testamento

Jesus ordena os seus discípulos na sua ordenança missiológica que eles ensinassem a guardar o que ele tinha ensinado:

Mateus 28:19, 20  19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;  20 ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.

Jesus ordena seus discípulos a fazer discípulos dele e que, como conseqüência disso, eles deveriam ensinar a guardar todas as coisas que ele tinha ordenado.
Os apóstolos eram conscientes dos ensinamentos do Mestre Jesus e Senhor do Evangelho. As pregações de Jesus e as Parábolas demonstravam a preocupação com os pobres e necessitados. Por exemplo, no Sermão do Monte e em seus outros ensinos, Jesus declara:

Mateus 5:42  42 Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.
Lucas 12:33  33 Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome,

Nesses trechos, Jesus ordena a dar esmola, dividir vendendo o que tem. Jesus estava ensinando que o Evangelho incluía uma profunda preocupação com os pobres e a sua justiça (Mt 5.6; 6.33). Portanto, Jesus ensina que a Missão tem que ter uma visão completa com a justiça social. O amor ao próximo incluía uma preocupação com os excluídos da época, incluindo samaritanos e publicanos. Por isso, ele ensinou na Parábola do Bom Samaritano que o próximo daquele judeu que estava à morte e doente era exatamente um samaritano que eles tanto discriminavam (Lc 10.29-37). Jesus demonstra que a religião sem uma praticidade em amor era apenas uma fachada como o levita e o sacerdote que passaram de largo.
Tiago ampliou essa visão do Senhor Jesus quando escreveu:

Tiago 1:27  27 A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.

Tiago ensina à igreja, composta pela maioria de judeus, que uma fé que não é acompanhada das obras é morta. Depois, ele dá vários exemplos, como deixar de tratar com acepção as pessoas (Tg 2.1-4), o uso adequado da língua (3.1-12), o cuidado de contendas por causa da inveja (Tg 4.1,2) e a visita aos órfãos e às viúvas nas suas tribulações. Tiago demonstra bem claro que a vida cristã precisa ter a visão dos necessitados como resultado da fé cristã. Ele afirma ainda:

Tiago 2:15-17  15 Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano,  16 e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?  17 Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.

Portanto, se a fé cristã para Jesus e para os apóstolos incluía a ação social, fica claro que a Missão tem que ter essa visão, pois levaremos é o que ele e os apóstolos ensinaram. Não precisa enfatizar nada a não ser cumprir a Missão de uma forma bíblica.

CONCLUSÃO:

O Evangelho é um só. Fora de qualquer configuração correta do Evangelho, tem-se outro e não o que Jesus ensinou (Gl 1.8,9). Ou se prega o Evangelho, e este completo, ou não é o Evangelho. Da mesma forma a Missão. Ou se tem a Missão, e essa completa levando em conta o todo social, ou tem-se apenas uma caricatura de Missão, ou seja, não é Missão.
Não se precisa de mais adjetivos ou mais designações à palavra Missões, mas, sim, de fazer o que a Escritura ensina: uma visão global, pregando um Evangelho global tentando alcançar o homem de uma forma global.





[1] FORBE, J. The Mystery Godlines and Other Sermons. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publish House, 1950, p.199.

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