terça-feira, 8 de novembro de 2011

CURSO DE VICIADOS NA USP




Os estudantes universitários têm sido o paradigma de luta pela liberdade, democracia e honestidade. Quem não ouviu falar dos conflitos com a ditadura pela liberdade de expressão ou dos chamados “caras-pintadas” que gritavam pintados de verde e amarelo pelo impeachment do ex-presidente Collor?

No entanto, hoje, os estudantes universitários são paradigmas de vício, tráfico, alcoolismo e baderna. Os estudantes da USP revelaram ao Brasil que a educação brasileira está na UTI. Sim, porque educar é muito mais que conteúdo e teorias, mas a formação do ser humano de uma forma integral para que possa viver a sua cidadania com responsabilidade levando em conta todas as dimensões humanas.

A ação dos estudantes de invadir a reitoria para que a polícia não esteja no Campus universitário demonstra um fracasso em tudo que se possa chamar de educação. Essa tentativa é exatamente para que os traficantes tenham livre acesso para que esses estudantes possam andar livremente com drogas e fazerem uso destas. Na verdade, esses estudantes não passam de parasitas, pois é difícil pensar que um deles possa trazer alguma contribuição ao país ou possa alcançar seus objetivos acadêmicos.

Esse episódio demonstra também que a nossa educação está desprovida de referenciais éticos que possam formar jovens com maturidade e discernimento dos grandes desafios do nosso século. Por isso, apesar de que esses estão numa das maiores universidade da América Latina, não passam de viciados presos à vontade de traficantes para fazerem badernas e tirar a polícia de circulação.

Portanto, precisamos de universidades que formem o caráter e que tenha uma educação com referencial moral. Caso contrário, as universidades terão, entre muitos cursos, o de viciados e traficantes.

sábado, 25 de junho de 2011

O GÊNERO HUMANO, SUA ÁREA DE TRABALHO, REALIDADES, ALTERNATIVAS E POSSIBILIDADES DE TROCAS





1 INTRODUÇÃO

Diante de grandes tendências, houve a necessidade de repensar alguns aspectos e de buscar respostas para sanar alguns problemas sociais. Essas respostas são exatamente a tentativa de tornar relativos alguns conceitos para que se possam apreender com facilidade algumas tendências.

Esse trabalho tem como objetivo de fazer uma análise crítica das teorias de Gêneros, sem deixar de levar em contar as contribuições que esse tema traz, bem como despertar para a realidade os problemas e conflitos existenciais.

2 UM CONCEITO DE GÊNERO

Segundo o artigo “Desafios y Oportunidades para la Equidad de Gênero em América latina y El Caribe”, Gênero é uma categoria relacional que identifica grupos socialmente construídos e relações entre homens e mulheres. Segundo o conceito, ser homem e mulher são processos de aprendizagem surgidos de padrões socialmente estabelecidos e fortalecidos através de normas. Esse conceito traz algumas dificuldades. Primeiro, o conceito foge da etimologia da palavra, pois vem do grego genos, que quer dizer origem, nascimento. Gênero diz respeito a algo nato, intrínseco e não se pode manipular nem escolher. Segunda dificuldade é que há uma profunda confusão entre opção sexual e sexualidade humana. A opção sexual é relativa, instável e está sujeita a processos de aprendizagem, porém, a sexualidade humana, que inclui tanto a parte biológica hormonal como as características psicossomáticas relacionais de cada sexo, essa é permanente. O homem sempre terá o hormônio masculino, como as mulheres sempre terão hormônios femininos. Por isso, alguns homossexuais masculinos tomam hormônios femininos para se adequarem às mulheres, pois naturalmente não se adequam ao sexo oposto.

A tentativa de mudar o conceito é exatamente de expurgar da sociedade uma visão extrema da sexualidade trazendo preconceito, marcas e atitudes não fraternas; porém, vai a outro extremo, pois coloca em total indefinição a sexualidade, afetando a identidade como homem e como mulher. A sexualidade está totalmente relacionada à identidade humana. Cada pessoa tenta se relacionar, vestir, agir, falar mediante o que pensa ser: homem ou mulher. Portanto, a sexualidade tem muito a ver com a nossa identidade. Por exemplo: um transexual assume a sua identidade tentando agir dentro de uma outra identidade, chamando até por nomes de mulheres, porque a sexualidade tem a ver com identidade. O indivíduo é homem, mas quer agir como mulher. Há uma profunda confusão de identidade, pois a sua sexualidade não é somente os órgãos sexuais, mas hormônios, características, mesmo que sejam intrínsecas. Por exemplo, quando um homossexual masculino muda de sexo, age como mulher, toma hormônios femininos, ele sempre será, em sua essência um homem, pois incluirá raciocínio e atributos que essas mudanças não conseguem afetar. O homem sempre será homem, uma mulher sempre será mulher, pois o que os acompanha é um conjunto de atributos intrínsecos que ninguém conseguirá tirar. Uma prova disso é que quando travestis começam a brigar, eles agem como homens e demonstram exatamente como um homem faria. Apesar de que isso seja relativo, mas intrinsecamente, tanto homem e mulher agirão como tal dentro de suas sexualidades.

Não se precisa apelar para a indecisão sexual para se buscar uma aceitação social dos grupos ou trazer respeito mútuo a todos que optam por uma opção sexual. Precisa-se entender que respeito à opção de alguém é um princípio social universal e que não se precisa abandonar os padrões naturais da sexualidade para aceitar o outro, com outra opção, com outra orientação; embora que não deixe de haver trocas de experiências e questionamentos dentro de um diálogo saudável e sem discriminação. O respeito vem exatamente das diferenças, porque quando somos iguais está-se apenas projetando valores e aptidões, mas quando se é diferente está-se reconhecendo a individualidade de cada pessoa como ela é, independente dos seus desígnios. Portanto, não é necessário de um salto à indefinição sexual para se chegar à aceitação um do outro.

3 A INCLUSÃO DE HOMENS E MULHERES NA ÁREA DE TRABALHO

Por muito tempo a mulher ficou privada de algumas ações sociais, embora que se pode tirar também algum proveito disso. Segundo “Grandes questões sobre o Sexo”, uma das causas maiores do divórcio na Europa é exatamente a independência feminina, incluindo a jornada de trabalho (STOTT, 1993, pág. 66). Porém, a mulher tem chegado aonde era impossível há 40 ou 50 anos atrás. Isso é uma grande conquista, pois está-se colocando a mulher em suas potencialidades e elevando-a ao seu lugar de importância.

Há um questionamento se a mulher poderia entrar em todas as áreas de trabalho ou o homem também. Hoje é comum ver homens bordando, costurando; é comum ver mulheres indo à guerra ou fazendo trabalhos forçados que eram somente aos homens. Isso demonstra um amadurecimento, já que nada impede a mulher de ser e fazer aptidões ou trabalhos diversos; porém, deve-se aceitar que se não for levado em conta a sexualidade definida, pode-se fazê-los entrar em crises profundas. Cada um tentará agir dentro da sua sexualidade e se não for levado em conta a distinção de gênero, sobrecarregará um dos dois. Por exemplo, quando um casal viaja em um carro e o pneu do carro fura, pergunta-se: quem poderia consertar o pneu? Tanto o homem e a mulher vão agir dentro de suas potencialidades e características. Fica fora de coerência um homem deixar que uma mulher tire o pneu do carro, coloque força, sendo que ele pode fazê-lo. Pergunta-se: Por que a mulher não pode fazer isso? Porque o bom-senso demonstra que o homem seria mais apropriado devido à sua força, não porque queira poder. Mesmo porque, seria uma demonstração maior de poder se ele ficasse parado e a mulher consertasse o pneu. Portanto, a indefinição de gênero leva a conseqüências mais sérias que se pode pensar.

4 REALIDADE ALTERNATIVA E PARADIGMAS

A sociedade vive diante de paradigmas sociais. Há muita crítica que essa sociedade busca paradigmas pré-estabelecidos; porém, esquece-se que isso é baseado em outro paradigma. A questão é qual é o paradigma ideal? Se os paradigmas são criticados em nome de direitos humanos, por que o outro não é? Quem é que vai julgar e dar o veredicto final? Quem julga os direitos humanos? Portanto, está-se numa total indefinição ética, então, não se pode falar de paradigma social sem que se tenha uma base ética. As alternativas devem ser buscadas dentro de paradigmas, mas precisa-se ter o ideal equilíbrio entre dar oportunidades a ambos os sexos e aperfeiçoar-se em suas sexualidades com coerência e honestidade. Com isso, fica a necessidade de um referencial ético.

A busca de alternativas em detrimento à definição de gênero pode ser mais danosa que qualquer discriminação por opção sexual. Uma indefinição de gênero pode levar a uma insensibilidade de complementaridade dos sexos, pois se alguém ainda não se definiu ou não se pode definir o gênero para que se esforçar a buscar essa complementaridade? O que se consegue notar é que a diversidade dos sexos em vários setores da sociedade é importante devido aos atributos masculinos e femininos que se completam. Portanto, precisa-se de alternativas, mas buscando equilíbrio entre oportunidade e complementaridade.

A disparidade de salário entre homens e mulheres demonstra um grande desafio social. Pode-se vencer isso colocando como incentivo que uma sociedade ideal precisa de oportunidade e complementaridade entre os sexos. Caso contrário, ter-se-á indefinição que jamais poderá haver complemento e oportunidade.

A realidade alternativa está intrinsecamente relacionada com os paradigmas, já que a realidade é a leitura de nosso contexto. Precisa-se saber quais paradigmas ir-se-á levar em conta, pois para cada um acompanhará pressupostos e tendências preconcebidas, quaisquer que sejam.

5 POSSIBILIDADE DE TROCAS

Quando se fala de possibilidade de trocas, precisa-se entender o que se pode mudar e o que vai definir essa mudança. Pode-se mudar a forma de encarar a discriminação por opção sexual, porém, mesmo assim, pode-se ter definidas as sexualidades. Um homem pode chorar, ser gentil, meigo sem perder os atributos da sua própria sexualidade, exceto se encenar atitudes do sexo oposto.

As características femininas e masculinas estão juntas no homem e na mulher? Diante desse questionamento, pergunta-se qual a característica de um homem e qual a característica de uma mulher. Estando definidas exatamente para saber que ambas estão na mesma pessoa, precisa-se ter em mente que há uma distinção clara entre ambas, pois elas estão no homem ou na mulher. Porém, se podem ser definidas e distintas a ponto de se saber que estão no homem e na mulher, não deixa de haver uma definição evidente. Por que não aceitar que o homem agirá sempre como características de homem? Isso não quer dizer que o agir com característica de homem não implique em sensibilidade, carinho afetivo. No entanto, todos dentro dos atributos masculinos. Há maneiras diferentes de se relacionar. Por exemplo: relaciona-se em afeto de uma maneira com os pais, de outra com os filhos, de outra com o cônjuge, de outra com os animais, de outra com o mesmo sexo. Para aqueles que são homossexuais, o relacionamento com o mesmo sexo é chamativo, porém, para os que são heterossexuais, o relacionamento é completamente diferente, se não, seria homossexual. Isso não quer dizer que se está buscando padrões da sociedade, pois é natural os tipos de relacionamentos e suas empatias.

6 UMA OUTRA PROPOSTA DE SEXUALIDADE

Diante do conceito de gênero supracitado no artigo está implícito uma proposta baseada na teoria da evolução das espécies, onde o homem é um processo da evolução vinda do acaso, que teve nos animais paradigmas existenciais, mas será que há outra proposta de sexualidade? Sim. Há uma proposta que o homem e mulher foram criados por um Deus pessoal como está baseado na Bíblia. Ele os criou macho e fêmea, distintos, complementares, heterossexuais. Essa proposta traz alternativas nas áreas de trabalho em que ambos os sexos se complementam, mesmo sem haver possibilidade de trocas, havendo respeito mútuo e fraterno. As disparidades preconceituosas não se originaram nessa proposta, mas no ser humano que nunca foi capaz de ter ideais éticos e fraternos por si mesmo. O respeito às individualidades se deve por causa das diferenças entre ambos e isso só acontecerá se houver diferenças, que no caso, seria de gênero.

A proposta criacionista coloca o homem e mulher no seu devido lugar e com as suas devidas identidades. Nota-se que a mulher quando está grávida procura saber o sexo do bebê. De acordo com o sexo, a mãe prepara o nome, as roupinhas, o tratamento em solilóquios e diálogos para com o bebê. Isso demonstra que a nossa sexualidade está intrinsecamente ligada à nossa identidade. As marcas preconceituosas não foram por causa dessa proposta, mas por causa do próprio homem como foi falado.

Quando se fala de preconceito, precisa-se defini-lo. Preconceito não é ter idéias diferentes e nem refletir sobre contradições e corrigi-las, mas ter um conceito sem uma razão, se não, convencional. Portanto, pode-se ter preconceito até por aqueles que defendem o não ter preconceito. Basta alguém deixar de falar com aqueles que acham que são preconceituosos. Isso já é preconceito. Por isso, a proposta criacionista é importante para a definição dos gêneros: homem, mulher, pois ambos podem conviver perfeitamente em respeito mútuo com as definições de seus gêneros.

Segundo a proposta criacionista os sexos estão em desenvolvimento e se complementam para formar um todo social. Precisa-se que se tenha uma visão que a falta desse complemento, causaria danos à sociedade e somente se pode complementar se tiver definidos os gêneros. Esses gêneros são complementados entre si, formando uma sociedade que seja complementar e que busque a justiça e a verdade.

7 CONCLUSÃO:

Qual a real motivação de uma igualdade de gêneros? Será que é mesmo o bem-estar do outro, um desejo pela justiça? Será que por trás dessa motivação de indefinição dos gêneros não estão interesses de uma tentativa de auto-afirmação de sexualidades e um desejo mórbido por terem os outros iguais para exatamente dominar? Se alguém quer manipular outras pessoas procura igualar-se a elas, pois a diferença é um fator negativo àqueles que querem manipular outros. As diferenças são salutares e servem como um fator que demarca o respeito e a complementaridade entre os seres humanos.

Quando se chama de gênero algo que se escolhe fazer é confundir o significado da palavra e dar o significado do que se quer dar. Basta que se enquadre nos moldes convenientes. O problema disso é que os significados que a palavra tem, de fato, se perde. Por exemplo: Quando um adolescente que nunca teve tendência homossexual é forçado por seus amigos a ter uma relação homossexual e passa a ter tendências, não quer dizer que mudou de gênero, mas que tem conflitos e tendências sexuais; e mesmo que tenha uma relação homossexual, não significa que mudou de gênero. Como se houvesse uma pergunta: Qual o seu gênero hoje? O gênero hoje é homossexual. Amanhã? Bissexual. Se isso for gênero, deve-se procurar outra palavra, não essa.

Há alternativas para ambos os gêneros terem oportunidades, há possibilidade de complementaridade. Nem sempre a troca é ideal, mas complemento sim é necessário. Em um grande quebra-cabeça não se busca peças que troquem, mas que se complementam, pois através do todo há o bem coletivo e o bem social.

A contribuição desse tema está na maior compreensão do sexo oposto, principalmente a mulher, que é mais discriminada. Alguns estereótipos não tem razão de existir e esses precisam ser vencidos pela vontade das mulheres  de buscarem os seus valores.

Outra contribuição é que se tem uma visão bem forte da discriminação. Pode-se aceitar outra pessoa, mesmo que ela seja de outra orientação sexual, mesmo que não tenham todos as mesmas aspirações existenciais. Essa pessoa é digna de respeito, de ser ouvida e assistida. Essa visão precisa ser passada por educadores, embora que se tem que ter em mente que se pode educar mostrando valores.

sábado, 9 de abril de 2011

PODE HAVER DANÇA NO CULTO? – UMA ANÁLISE BÍBLICA



Nesses últimos anos tem havido um grande questionamento com respeito a danças no culto. Isso se deve ao crescimento de coreografias no louvor nos cultos de igrejas neopentecostais e renovadas.

O que antes as danças vinham espontaneamente na hora do louvor nos cultos, essas igrejas inovaram com uma coreografia concomitante ao louvor. Isso caracterizou-se como uma marca de igrejas neopentecostais levando igrejas históricas a tomarem uma decisão de proibição quanto à essa liturgia no culto. Como para se proibir alguma coisa na igreja precisa-se ter a autoridade das Escrituras, não faltou pastores e estudiosos que tentaram achar que não há base bíblica para danças e coreografias.

O Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil reuniu-se no final de 2010 para examinar a questão de danças, coreografias e o bater palmas em cultos públicos. Chegaram a conclusão que danças, coreografias não podiam porque “as danças e coreografias não fazem parte do culto público oferecido a Deus conforme revelado na Bíblia e que, portanto, as igrejas devem excluir tais práticas de suas liturgias”[1]. Ainda é afirmado no blog que quanto a bater palmas “fica a critério de cada igreja local”. Porém, o concílio chegou a uma conclusão que as cantatas que incluem apresentações teatrais “continuam a ser permitidas”. Embora o Dr. Augusto Nicodemos deixe claro que ainda fica uma dúvida se elas podem ser enquadradas dentro da categoria das danças.

Antes de analisar essa decisão do Supremo Concílio da IPB, gostaria de afirmar o meu respeito por essa denominação. Acredito que é uma das poucas denominações sérias que existem no Brasil nesse conturbado problema doutrinário do evangelicalismo brasileiro. Também, quero dizer que existem mestres e pastores de mais alto nível, mas como estamos todos caídos em Adão, a Palavra de Deus sempre terá a primazia, pois foi o próprio Paulo que disse : “ainda que nós ou um anjo vos pregue evangelho que vá além do que temos pregado seja anátema” (Gl 1.8).

Primeiro, eu quero justificar por que eu estou analisando a decisão do Supremo Concílio da IPB. Uma coisa é uma decisão que a denominação toma deixando claro que a Bíblia deixa livre alguns pontos como foi colocado no bater palmas. Outra coisa é afirmar que as danças não podem em culto público porque não existe base na Bíblia.

Diante dessa afirmação, precisamos analisar a decisão do supremo concílio e buscar analisar as Escrituras abrindo-as e buscando o que ela realmente afirma aos mais incautos que não têm acesso a um exame mais detalhado e exegético, pois existe muita manipulação até nas traduções da Bíblia com respeito a esse assunto para chegar aos interesses doutrinários para que seja agradável a um determinado público cristão.

O que me impressiona é a total incoerência até mesmo sem ao menos tocarmos em um texto bíblico, pois fica evidente que a Bíblia está sendo usada como uma desculpa de proibição na denominação. Notemos: foi achado base para proibição de danças, mas não para teatros em cantatas e palmas. Sendo que é no mesmo VT que existem base para as palmas e danças (embora que rejeitam os textos como tal para base de danças) e não existem nenhuma para representações teatrais. No entanto, as cantatas teatrais são aceitas e as danças não. Difícil não perceber a incoerência e a falta de lógica. Por que as dúvidas são somente para as cantatas teatrais, sendo que não há nenhuma menção na Bíblia sobre elas e não para a proibição das danças em si com textos claros no VT? No entanto, ao contrário, fala-se com toda convicção que “não existe base na Bíblia” para danças no culto. Por que isso?

Facilmente sabemos quando uma doutrina ou uma proibição são humanas, mesmo tendo uma suposta base bíblica. No meio dessas doutrinas, existe uma brecha de incoerência, contradição e o mais grave que acho, desculpas simplistas diante de textos bíblicos claros.

A consequência disso, na minha opinião, é que os pastores da denominação não vão suportar a tamanha incoerência, contradição e base bíblica, embora que todos os textos que dão base ao contraditório da decisão do Supremo Concílio sobre danças estejam já anulados com um pressuposto hermenêutico errado e até perigoso de que a base para o culto é somente o NT o qual iremos analisar nesse texto.

Portanto, meu objetivo é analisar as Escrituras quebrando as falácias em relação a esse tema, pois quando alguém ensina uma proibição do que Deus permite transgride da mesma forma que alguém que ensina fazer o que Deus proibiu. Quando há o silêncio bíblico, podemos até ser flexíveis, mas quando a Escritura coloca como uma permissão e até incentiva a uma determinada coisa, torna-se grave a proibição e são dignos de rejeição total nesse tema.

1.     O problema hermenêutico nesse tema

Todo o problema da base bíblica para as danças está no pressuposto hermenêutico errado dos teólogos que analisam esse tema. Eles afirmam que a base para o culto cristão está somente no NT e que somente nele podemos ter a forma do culto cristão e não no VT.

O Dr. Augusto Nicodemos, em seu blog escreve o seguinte quando fala com respeito a danças:

Vou começar admitindo, por um momento, que o Salmo 150 está falando do templo em Jerusalém e de danças durante o culto. A pergunta, que deveria ter sido feita desde o início, é se o culto cristão toma sua inspiração, gênese e formato do culto do Antigo Testamento. Para mim, a resposta é negativa, embora com qualificações [2].

Ele ainda afirma o seguinte com respeito aos cultos:

Ao que tudo indica, os cristãos deram continuidade ao culto no Antigo Testamento apenas no que se refere aos princípios espirituais: a idéia de encontro com Deus, de adoração, de louvor, de solenidade, de alegria, de serviço espiritual como povo do Senhor... mas foram buscar nas sinagogas o formato para este culto mais simples e despojado. Nas sinagogas, instituição onde cresceram o Senhor Jesus e todos os apóstolos, havia leitura e pregação da Palavra, orações, cânticos e bênção.


Existem muitas dificuldades que o Dr. Augusto Nicodemos não tratou no seu texto. A primeira é que a Bíblia jamais coloca um modelo ou formato para o culto cristão como foi escrito. Isso é completamente sem base bíblica. A prova disso é que a Igreja do NT se reunia no templo de Herodes (At 2.46; 3.1), casas (At 2.46; 12.12; Rm 16.5; 15), em cenáculos (At 20.8) e nas sinagogas (Tg 2.2). Mais na frente, a história registra que a igreja se reunia nas catacumbas. Portanto, afirmar que o formato de culto da igreja é a sinagoga não se sustenta e é no mínimo perigoso, já que não estamos mais ligados a cerimônias e as sinagogas tinha uma certa cerimônia a cumprir. Por outro lado, Jesus deixou claro que o formato é quando dois ou três estiverem reunidos em meu nome (Mt 18.20). O culto não seguiria mais um modelo de lugar nem do VT nem do NT. A evidência disso é os vários lugares registrados nas Escrituras onde os apóstolos faziam culto e que jamais isso foi exigido pelos apóstolos.

No entanto, o que impressiona é que existem mais versos que falam da igreja se reunindo em casas e no templo de Herodes que com a palavra sinagoga. Existe apenas uma vez com Tiago. Portanto, jamais os apóstolos queriam que tivéssemos como formato e modelo a sinagoga ou qualquer outro lugar, devido os vários textos demonstrando a variedade dos lugares. Portanto, afirmar que o modelo da igreja do NT é a sinagoga é, no mínimo, deficiente de base exegética e bíblica.

No entanto, precisamos entender que apesar de que os apóstolos não fecharam a questão do formato do culto, eles deixaram princípios que estão tanto no VT como no NT para que haja esse culto. Nesse caso, devemos analisar sempre TODA A ESCRITURA e não somente o NT (2Tm 3.16;17). Acredito que a resposta para isso é que Deus foi sensível às várias culturas que tem suas próprias peculiaridades de cultuá-lo. Por exemplo, os africanos tem uma peculiaridade de cultuar a Deus diferente dos europeus; os brasileiros diferentes dos americanos. Assim, Deus deixou os princípios que estão revelados tanto no VT como no NT, mas deu liberdade para cultuá-lo quanto ao formato de culto.

Notemos que Paulo ao buscar base para a ordem do culto na igreja de Corinto ele usa o VT. Ele escreveu:

1 Coríntios 14:20-21  20 Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos.  21 Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. 

Notemos que Paulo está falando no contexto de culto e de liturgia para mostrar a total desordem dos coríntios. Mesmo assim, Paulo usou o VT no texto de Is 28.11,12.

No mesmo capítulo Paulo ensina os coríntios a usarem os salmos (cantados ou não, mesmo sabendo que a palavra ψαλμος quer dizer também cânticos). Ele escreveu:

1 Coríntios 14:26  26 Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.

Todos esses textos demonstram que Paulo fez uso do VT para tirar princípios para o culto do NT. Desta mesma forma, Paulo escreveu aos coríntios falando da ceia e baseando-se na cerimônia do templo no VT (1Co 10.17-21).

Portanto, os princípios precisam ser buscados e analisados por toda a Escritura, pois ela é toda inspirada. No entanto, o NT nos dá a base para sabermos que algumas cerimônias do VT não devem ser mais usadas no culto público. Por exemplo: o sacrifício de animais, uso de shoffar, denominação de levitas aos que cantam no louvor, trazer e levar alguma arca, vestimentas judaicas, etc. O NT ensina que tudo isso se cumpriu em Cristo ou era somente para a nação de Israel. No entanto, no que diz respeito a bater palmas, cantar, tocar e dançar o NT JAMAIS ensina que deveríamos deixar de fazer no culto público. Ao contrário, é incentivado como veremos mais adiante quando analisarmos o salmo 150.

O problema hermenêutico aumenta ainda mais quando alguns fazem diferença entre elemento do culto e circunstâncias do culto. O Dr. Augusto Nicodemos afirma o seguinte:

1)    Os elementos de culto -- são aquelas atividades determinadas pelas Escrituras nas quais o povo de Deus se engaja durante o culto, com o propósito de adorar a Deus, render-lhe graças e louvor, edificar-se internamente e anunciar o Evangelho ao mundo.
2)    As circunstâncias de culto -- se fizermos esta distinção entre elementos de culto e as circunstâncias que atendem estes elementos talvez possamos eliminar boa parte das dificuldades que cercam algumas das questões relacionadas com o culto público… Tais circunstâncias estão relacionadas com o ambiente de culto, e envolvem decisões quanto à amplificação do som, uso de mídia, arrumação do salão, mobiliário adequado e sua disposição no local, a iluminação e decoração do ambiente, entre outros


Até podemos entender essa distinção bem didática. No entanto, essa distinção é completamente arbitrária e digna de um exame detalhado das Escrituras.

As Escrituras não fazem nenhuma divisão entre o que o Dr. Nicodemos chama de elementos e circunstâncias. Na verdade, a Escritura coloca tudo como fazendo parte do culto (Sl 150.1-5). Notemos que, independente como se interpreta o salmo 150, os instrumentos e as danças fazem parte do louvor a Deus no santuário. Tudo faz parte do culto, quando é coerente e cabe base bíblica para tal. Por exemplo, quando se usa um instrumento musical no culto, esse instrumento passa a ser elemento deste culto que é o louvor, assim como a vasilha do pão e o cálice fazem parte do culto na ceia.

Da mesma forma que existem cultos que não tem a ceia do Senhor, pois ela, em algumas igrejas, é celebrada mensalmente, os instrumentos podem deixar de estar num culto e mesmo assim ser culto. Elementos do culto não precisam estar em todos os cultos, mas de acordo que a necessidade exija. Da mesma forma, se não tiver um instrumento no louvor, o culto ainda não perde a sua característica, mas se tiver, esse deve fazer parte dos elementos, pois devemos louvar o Senhor com instrumentos e os instrumentos eram chamados por Davi de “instrumentos de música de Deus” (1Cr 15.16; 16.42; Sl 150.4). Por isso, podemos pensar da mesma forma com o pão e o vinho (ou suco de uva), pois eles fazem parte dos elementos do culto por estarem acompanhando a ceia. Como cantar ao criador dos céus e da terra sem instrumentos, se foi ele que deu a inteligência para tal coisa e ordenou que se faça isso? Talvez por isso a ordem de Deus nos salmos. Portanto, os instrumentos são elementos também como também as danças.

Quando alguém louva a Deus com palmas, essas fazem parte do culto e tornam-se elementos também do culto. Da mesma forma, a Palavra de Deus precisa ser pregada, seja com microfone ou não. Caso tenha, este faz parte do culto como seu elemento também, pois através dele as pessoas estão ouvindo.

No entanto, alguns podem refutar baseado no conceito do próprio Dr. Nicodemus que elemento do culto é aquilo que é essencial no culto e as circunstância, não. Porém, quem é que diz o que é essencial no culto, se não a própria Palavra de Deus? A Bíblia coloca os instrumentos como parte do culto (qualquer que seja a interpretação do Sl 150.4). Como dissemos, se alguém tem microfones, instrumentos para louvor e não os usa, não deixa de prejudicar os elementos do culto, conforme essa interpretação, logo esses objetos são essenciais ao culto. Para ilustrar isso é só lembrar que Deus exigiu objetos na construção da tenda fazendo parte da plena adoração a Deus. Claro que hoje não precisamos dos objetos ritualístico do VT, mas precisamos entender que Deus vê os objetos como essenciais ao culto, se esses podem melhorá-lo, assim como aconteceu no VT. Qual pregador poderia pregar para uma multidão sem um microfone ou uma música que não fosse melhor cantada e ministrada sem um instrumento?

Alguém poderia objetar que os apóstolos não tinham, mas havia as técnicas daquela época e o barulho era inferior ao de hoje com energia elétrica e carros. Seria difícil usar essas técnicas nas nossas cidades cheias de barulho.

No entanto, o que Paulo deixa bem claro é a prioridade do culto, que deve ser a doutrina, sem fazer essa separação entre elementos e circunstâncias. Ele escreveu:

Coríntios 12:28  28 A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.

Afinal de contas, podemos separar elementos e circunstâncias nesse texto? Claro que não. Seria um erro gravíssimo, pois Paulo afirma que Deus estabeleceu na igreja todos. Embora que Paulo coloque como prioridade os apóstolos, profetas, que se referiam à própria Palavra de Deus na época, porém, os mestres, os operadores de milagres, dons de cura e variedade de línguas devem fazer parte também do que Paulo disse sobre o que Deus estabeleceu na igreja.

No entanto, a variedade das línguas não acontece em todos os cultos, os socorros, as operações de milagres. Mesmo assim, não deixa de ter culto se elas não tiverem, mas caso tenham, a prioridade é a Palavra de Deus. Não porque um é elemento e os outros são circunstâncias, mas porque desses elementos, a Palavra tem prioridade, acima mesmo dos louvores. Portanto, quem tem autoridade para dizer que o que Deus ordenou ou estabeleceu na igreja não é elemento do culto?

Portanto, os elementos do culto segundo as Escrituras eram tudo que dizia respeito à Palavra, oração, louvor, dons espirituais. Isso inclui pão, vinho, instrumentos, danças, microfones, bancos, dons espirituais, pois algumas coisas somente seriam feitas bem feitas fazendo uso destas, pois “quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31).

O que podemos notar é que o culto a Deus era muito diversificado cabendo cada igreja a agir com bom senso dando prioridade à Palavra de Deus, não porque era usada nas sinagogas, mas porque a própria Escritura a coloca como prioridade. No entanto, a forma de louvar a Deus ficaria para o bom senso das igrejas, louvando a Deus de forma que o glorifique segundo as Escrituras do VT e NT (infelizmente, temos que ser redundantes enfatizando os testamentos)

Portanto, diante disso, pergunto: como alguém pode ter a coragem de afirmar que os princípios nos Salmos não são para ser usados na igreja cristã dos nossos dias no que diz respeito à forma do culto? Com base em que alguém pode afirmar isso? Com qual base do NT podemos dizer que as danças no culto não são mais para hoje? Realmente, é difícil uma pessoa que tenha um mínimo conhecimento de hermenêutica e de Bíblia aceitar essas afirmações sem questionar.

2.     Análise do Salmo 150

Precisamos analisar o Salmo 150, pois devido a clareza que o autor escreve sobre as danças, muitos tentam anulá-lo ou agem de uma forma completamente desonesta traduzindo a palavra “danças” para “flautas”.

2.1. Significado da palavra קדש qodesh no texto

Comecemos pelo significado da palavra קדש qodesh “santuário, coisa santa”. O Dr. Nicodemos afirmou o seguinte:

Mas, na verdade, não é certo que o Salmo 150 esteja falando de danças no templo. Em primeiro lugar, a palavra “santuário” mencionada no verso 1 nem sempre significa o local da adoração em Jerusalém, onde o culto determinado por Deus era realizado de acordo com todos os seus preceitos. A palavra b’kadoshu, significa literalmente “em seu santo”. Logo, sua tradução primeira seria “em seu santuário” e não “em seu Templo”. Precisamos, portanto, considerar a possibilidade de que o santuário de Deus aqui referido não é o local físico do templo, mas o local da sua santa habitação, ou seja, os céus.

Segundo o Dr. Nicodemus, a palavra קדש qodesh que foi traduzida para “santuário” não pode ser usada para o templo de Israel. Ele argumenta que a palavra não dá espaço para afirmar que é para o templo físico e traduz a expressão בקדשו b’kadesho como “no seu santo”. Por isso, não seria o local físico mas seria o céu.

O Dr. Nicodemus seguiu a interpretação de Calvino que afirmou no seu comentário do Salmo 150:

Este salmo, em geral, exalta o culto espiritual de Deus, que consiste em sacrifícios de louvor. Para a palavra “santuário” há pouca dúvida de que o seu significado seja o “céu”, como é frequentemente usado em outros lugares.[3]

Para Calvino, portanto, a palavra “santuário” não corresponde ao templo, mas o lugar de habitação de Deus, embora que ele não se aprofundou para chegar a essa conclusão.

No entanto, com todo respeito à erudição e piedade de Calvino e do Dr. Nicodemos, essa exegese foi completamente precipitada, abrupta e digna de maior análise da palavra discutida.

O substantivo קדש qodesh é muito usado para santuário referindo-se ao templo físico e tem tantas passagens que é de acreditar que não houve pesquisa suficiente sobre esta palavra da parte de Calvino e do Dr. Nicodemus.

Apenas vamos citar algumas de várias: Lv 5.15; 6.23; 7.6; 10.17; Nm 7.9. Em todas essas passagens o substantivo קדש qodesh “santuário” se refere ao templo físico. Portanto, quando se interpreta que o salmista se refere ao santuário do templo, é perfeitamente legítimo e mais coerente exegeticamente, pois Davi confirma esse salmo quando ordenou que os levitas cantassem e tocassem no templo (2Cr 5.13; 7.6).

O dicionário internacional de Teologia do Velho Testamento afirma que a palavra קדש qodesh pode perfeitamente ser usada para objetos sagrados, que no caso seria o templo. Ele afirma o seguinte:

Via-se aquilo que era dedicado a Deus como algo que entrava no domínio do “sagrado”. Isso incluía os vários elementos da adoração levítica denominados “coisas sagradas” (Lv 5.15,16), o fruto da terra (Lv 19.24), bens pessoais (Lv 27.28) e despojos obtidos em ação militar (Js 6.19). Os sacrifícios que deviam ser comidos apenas pelos sacerdotes eram denominados “santos” em virtude de serem totalmente dedicados ao domínio do sagrado, o qual era representado pelo sacerdócio (Lv 19.8).[5]

John Gill no seu comentário do Salmo 150 escreve: “Louvai a Deus no seu santuário; no templo, a casa do seu santuário como está no Targum e R. Judah”[7]. Apesar de que Gill reconheça que pode haver um sentido para os céus também.

Não obstante a tudo isso, essa interpretação é mais inteligente, pois ninguém toca instrumento no santuário de Deus nos céus e a ordem é para que louvássemos com instrumentos de cordas.

O Dr. Derek Kidner, em análise do salmo 150 no seu livro de comentário dos salmos escreve:

O Saltério de Coverdale (PBV) tem “louvai a Deus na Sua santidade” que é uma tradução viável; a linha paralela, no entanto, “no firmamento do seu poder” (ARC), sugere que “santidade” aqui tem o seu sentido secundário: seu santuário (ARA). Desta forma, a chamada é dirigida aos adoradores de Deus na terra, encontrando-se no seu lugar escolhido, como também à sua hoste celestial.[4]

O Dr. Derek demonstra que a palavra “santuário” corresponde ao lugar da habitação de Deus que era o lugar que Deus escolheu de manifestar a sua glória, que é o templo no VT, embora que ele admita que inclui o céu também.

Na verdade, a ordem do salmista é que Deus seja adorado no santuário que estava no templo. Essa é a interpretação mais natural que se pode dar ao salmo 150.1. Um judeu não teria uma visão do santuário-habitação de Deus como os apóstolos tinham no NT. Isso veio com a revelação apostólica do NT (Hb 8.1,2; 9.1-9).

Quando alguém afirma que o salmista quis afirmar “santuário” ou “coisa santa” como a habitação de Deus no céu erra com anacronismo de mais alto grau, porque isso veio somente com a revelação dos apóstolos. No entanto, podemos aplicá-la para isso sabendo que o autor aos Hebreus escreveu que era uma “parábola para época presente” (Hb 9.9), pois agora os verdadeiros adoradores adorariam não mais em um lugar, mas em espírito e em verdade (Jo 4.23).

O que se pode notar na ordenança do salmista é que deveríamos louvar a Deus no seu santuário (no templo) e que lá está o “firmamento do seu poder” (assim está no original hebraico que a ARC traduziu muito bem). O salmista estava convocando que Yahweh fosse louvado no templo que é o lugar da sua santidade e do “firmamento do seu poder”. Seria lá que a sua glória encheria e a sua promessa se cumpriria em atender a oração do seu povo (2Cr 5.14; 7.12-16).

2.2. Análise da palavra “danças” do verso 4

Psalm 150:4  4 Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.

ומחול בתף הללוהו “Louvai com adufe e dança”

A análise da palavra מחול machol “dança” é fundamental na interpretação desse salmo porque se de fato a palavra diz o que ela quer dizer, a dificuldade aumenta àqueles que advogam que não se pode dançar nos cultos, pois Deus ordena que o louvem com danças.

Algumas traduções traduzem a palavra מחול machol “dança” para “flautas” em uma total desonestidade, na minha opinião, pois mudam o que o texto realmente quer dizer.

Os tradutores também traduziram o Salmo 149.3 da mesma forma colocando a palavra מחול machol “dança” para flauta. O problema disso é que a palavra מחול machol não tem nada a ver com flauta. Essa palavra, segundo Strong, vem de uma raiz que quer dizer “torce-se, revirar-se”. Daí vem a palavra dança.

Por isso que os rabinos que fizeram a LXX entenderam exatamente o que a palavra hebraica quer dizer: “dança”. Em todas essas passagens, os rabinos da LXX colocaram a palavra χορός choros “dança” e essa palavra também não tem nada a ver com flautas.

Os rabinos de língua portuguesa também entenderam a palavra como מחול machol como dança. Veja como os rabinos traduziram numa versão judaica dos salmos para a língua portuguesa o verso 4 do Salmo 150:

Louvai-O com melodias e ritmo, louvai-O com a música de órgãos e flautas.[6]

Notemos que os rabinos traduziram para ritmo, pois a palavra quer dizer movimentação em danças e tiveram a sensibilidade de não repetir a palavra “flauta” como alguns tradutores fizeram de uma forma infeliz.

A Vulgata também coloca em todas as passagens desta palavra hebraica o vocábulo latino chorus “dança”, com exceção do Sl 30.12 que traduziram para gaudium “alegria”. Mesmo assim. Fica implícito nessa palavra regozijo em danças.

A maioria das traduções brasileiras e inglesas foi honesta nessa palavra. As traduções brasileiras que têm danças para o Sl 150.4 são: ARA, ACF, BRP, SBP, NTLH, TB, NVI, BV. Ficando somente a tradução da ARC traduzindo para a palavra “flauta”. Já as versões em inglês, que foram honestas, tem a maioria também: CSB, ASV, BBE, CSB, DBY, ERV, ESV, GWN, KJV, NET, NIB, NKJ, NLT, YLT, NRS. Ficando somente as versões DRA que traduz para “organs” e GNV que traduz para “flute”. (Pode até haver uma ou outra versão que complete as listas, mas as principais e mais lidas são essas).

Portanto, facilmente notamos a desonestidade dos tradutores. Notem que מחול machol “dança” é usada apenas seis vezes no VT. Três nos salmos (Sl 30.12; 149.3; 150.4) e três nos profetas (Jr 31.4; 31.13; Lm 31.5). Por que os tradutores traduziram somente nos Salmos para “flautas”, “folguedos” e não “danças” como foi traduzido nos profetas? Somente há uma resposta: a tentativa de desviar o que o texto diz de uma forma clara.

Porém, existem muitas outras incoerências se traduzirmos a palavra מחול machol “dança” para “flauta”. A primeira é que a palavra flauta se repete no mesmo verso fazendo da poesia um pleonasmo patético. Notemos: Louvai ao Senhor com adufe e flauta; louvai com instrumentos de cordas e com flautas. O salmista seria seriamente questionado de sua capacidade poética, devido a redundância e inutilidade da segunda palavra “flauta”, já que já tem a ordem para louvar com flauta no começo do verso.

A outra dificuldade é como separar a ordem de louvar com adufe e a ordem de louvar com danças no culto público. Ou seja, as danças não podem, o adufe como instrumento pode. Realmente isso não é inteligente.

Há aqueles que afirmam que o salmo é uma demonstração que a dança não é pecado em si, mas não dá base para dançar no culto público. Existem vários problemas com essa afirmação. Primeiro é que o salmo é falado no contexto de louvor e adoração, não num contexto de balada ou de uma dança romântica como afirmam esses intérpretes, pois a ordem é para louvar ao Senhor; cantando e dançando para ele, não com mulheres e nem para outras finalidades.

Segundo problema é que o texto afirma claramente quem é o objeto desse louvor. O texto afirma que devemos louvar a Deus “louvai-O com adufes e danças”. Se dissermos que esse texto é para afirmar que danças não são pecado, então como interpretar a ordenança de louvar objetivamente com instrumentos de cordas? As danças seriam para dançar com a namorada e os instrumentos de cordas, seriam para quem? Para as “serenatas”?  Será que alguém desviaria completamente a objetividade do louvor desse salmo para os homens? Realmente não existe interpretação mais patética e desajeitada que essa e digna de total rejeição dos que creem na Bíblia.

Portanto, o Salmo 150 é ainda hoje para a igreja e sempre será, com a única diferença: nós não precisamos ir ao Santuário para louvar a Deus, hoje, porque todas cerimônias se cumpriram em Cristo, mas louvemos com instrumentos, danças, pois é ordem do Senhor e em nenhuma passagem do NT ensina que não deveríamos mais tocar com instrumentos ou deixarmos de dançar. Qualquer desvio disso é erro, pois desmente o próprio Deus que ordena na sua Palavra para louvarmos com instrumentos e com danças.

3.     Outros textos que confirmam o Salmo 150.4

Uma das regras básicas de Hermenêutica é que a Bíblia explica a si mesma. Então perguntamos: existe alguma analogia de outros textos em relação a danças no restante das Escrituras para fundamentarmos o Sl 150.4? A resposta é sim.

Primeiramente precisamos ver que Miriam dançou na presença de Deus (Ex 15.20,21). Miriã era profetiza e ela, para louvar a Deus pelo livramento, dançou com as outras mulheres dizendo: “Exodus 15:21  Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.

Alguns afirmam que o que Miriã fez não é base para fazermos no culto cristão, pois o motivo era apenas por causa da libertação do Egito. No entanto, Cristo é considerado o nosso Cordeiro Pascal (1Co 5.7) e, da mesma forma que Israel saiu do Egito, fomos libertos para Deus (1Co 10.1-4). Portanto, é perfeitamente legítimo alegrar-nos em Deus dançando e louvando o seu nome pela nossa libertação do juízo de Deus em Cristo Jesus.

Segundo: precisamos ver que Davi dançou em pleno ritual de adoração (2Sm 6.12-22). Notemos que Davi estava diante da arca de Deus. Reverência e respeito eram essenciais àqueles que se aproximavam dela. Não é à toa que Davi sacrificava bois e carneiros em cada seis passos (v.13). Também, Davi trazia a estola sacerdotal demonstrando que era um momento sagrado e especial. No entanto, Davi dançou com todas as suas forças diante do Senhor (v.21).

Portanto, vem a pergunta: podemos dançar no culto cristão como Davi dançou diante da arca? Precisamos analisar as Escrituras para eliminar o que não precisamos mais. Não precisamos mais dos holocaustos e sacrifícios que Davi fazia nesse episódio (Hb 10.9-19); não precisamos mais  de levar a arca, pois a presença de Deus está já em nós pelo Espírito Santo de Deus (1Co 3.16); não precisamos mais de uma estola sacerdotal nem de sacerdotes porque Cristo já nos fez sacerdotes reais (1Pe 2.9; Ap 1.6). No entanto, perguntamos: haveria alguma objeção sobre as danças no NT para que não as façamos, sendo que em todas as épocas sempre as danças fizeram parte das músicas e danças dos povos, inclusive do povo judeu? É claro que não.

Outro texto é o profeta Jeremias 31.4; 11-13. Esse é mais claro e, na minha opinião, elimina qualquer dúvida se as danças são para o culto cristão:

Jeremias 31:4  4 Ainda te edificarei, e serás edificada, ó virgem de Israel! Ainda serás adornada com os teus adufes e sairás com o coro dos que dançam.

Jeremias 31:11-13  11 Porque o SENHOR redimiu a Jacó e o livrou da mão do que era mais forte do que ele.  12 Hão de vir e exultar na altura de Sião, radiantes de alegria por causa dos bens do SENHOR, do cereal, do vinho, do azeite, dos cordeiros e dos bezerros; a sua alma será como um jardim regado, e nunca mais desfalecerão.  13 Então, a virgem se alegrará na dança, e também os jovens e os velhos; tornarei o seu pranto em júbilo e os consolarei; transformarei em regozijo a sua tristeza.

Notemos que quem está falando é o próprio Yahweh. Não é o escritor Jeremias, mas o próprio Deus através do profeta. Ele chama Israel de virgem e que sairá adornada com os que dançam. Deus que quer que ela saia com os que dançam toda adornada e preparada ao seu Noivo que é o próprio Yahweh.

Usemos a lógica agora: Se o próprio Deus chama Israel demonstrando que ele quer que ela dance com os adufes, como negar que as danças não são para o culto cristão se esse momento é somente para ele? Notemos que esse verso segue o que o Sl 150.4 ordena: louvai com adufes e danças, pois ela sairá com os adufes e com o coros dos que dançam, confirmando assim o salmo 150.4.

Notemos que em Jr 31.11-13 é o Senhor que motivou as danças de sua noiva, Israel, e é ele que fará Israel se alegrar nas danças. Portanto esses textos nos profetas confirmam o Sl 150.4 como Deus ordenando-nos a usarmos as danças para ele.

No NT, há um texto muito interessante no episódio da parábola do filho pródigo:

Lucas 15:25  25 Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.

Podemos perguntar o que esse texto tem a ver com danças na adoração pública? Se pensarmos que o que Jesus contou tinha um propósito e que os apóstolos que eram inspirados por Deus entenderam isso, precisamos entender que ali estava a comemoração da volta daquele filho perdido à comunhão com o seu Pai que era Deus. Portanto, Jesus deixou claro que as danças eram legítimas naquela ocasião.

É verdade que não podemos nos apegar aos detalhes das parábolas, mas é difícil não perceber isso quando temos Miriã que dançou no episódio da libertação do Egito, Davi diante da arca da Aliança celebrando a graça de Deus na sua vida e a ordem do salmista que louvássemos com adufes e danças, pois Jesus queria mostrar que a comunhão com o Pai e o filho perdido era celebrada com danças e muita alegria. Até porque, a palavra que Lucas usou é a mesma usada na LXX –  χορός choros “dança”.

4. Exageros e coreografias nos cultos públicos

Precisamos admitir que existem muitos exageros. No entanto, os erros ou as distorções da verdade não podem eliminá-la. Temos que admitir que algumas coreografias tiram o objetivo central que é concentrarmos em Cristo e somente nele esperarmos. Isto quer dizer que Cristo tem que ser o centro do culto. Existem coreografias de homens que se arrastam como mulheres e mulheres que são jogadas no ar como se fosse um balé num teatro. Claro que isso não é adequado às igrejas.

No entanto, assim como existem coreografias exageradas, também existem pregações superficiais e com pouca base bíblica e heréticas; assim como existem também louvores que exaltam mais o grupo em si que o Cristo que cantam. Da mesma forma as cantatas, elas podem perfeitamente tirar o foco central que é Cristo e o grande objetivo ou a prioridade do culto que é a Palavra de Deus. Existem cantatas que são extensas e tomam muito tempo que deveria ser para a pregação da Palavra de Deus.

Portanto, precisamos entender que os exageros e desvios podem existir em todos os elementos do culto.

Na minha opinião, as danças deveriam ser espontâneas no culto público, pois a ordem no Sl 150.4 é para todos e não somente para um ministério. Precisamos também entender que dança profética não existe, pois isso não tem nenhuma base bíblica.

Portanto, quero convidar a todos a louvar a Deus com instrumentos de cordas e com danças, pois o próprio Deus ordenou para louvá-lo com adufes e danças.




[3] Calvin John. Commentary on Psalms. Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library, 1999, p. 199.
[4] KIDNER, Derek. Salmos 73-150: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1975, p. 495.
[5] HARRIS, R. Laird; ARCHER, Gleason L; WALTKE, Bruse K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1322.
[6] FRIDLIN, Vitor; GORODOVITS, David; FRIDLIN, Jairo. Salmos com tradução e transliteração. São Paulo: Editora Sefer, 2003, 3a ed.
[7] GILL, John. Bíblia On Line. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil.