sábado, 16 de janeiro de 2010

AVIVAMENTO DE UM CARRO 0 KM





Ao ler um e-mail do site creio.com.br, fiquei chocado com um anúncio de um evento com o nome “Avivamento Total 2010”. O evento é organizado pela Assembleia de Deus do Bom Retiro e conta com preletores como Pr. Jabes de Alencar, Pr. Silas Malafaia, Pr. Samuel Gonçalves, Pr. Silmar Coelho, Pr. Walter Brunelli.

O que me chamou atenção foi o tema: “Avivamento Total 2010”, mas para a minha surpresa, no anúncio do site oferecia aos participantes um sorteio de um carro 0 Km. Isso sim me deixou chocado. Pelo que se sabe, avivamento é para a Igreja. Os avivamentos são para o povo de Deus e não para os ímpios.

Pelas configurações dos preletores, pode-se saber que as mensagens serão direcionadas para ênfase de prosperidade financeira e pelo jeito não poderia dar outra mensagem.

Pelo que entendi do tema do congresso, ali estará tendo um avivamento 2010. Não entendi que estarão buscando esse avivamento, mas entendi que os participantes que estiverem ali estarão diante de um avivamento, mesmo que aquilo os motive seja um carro 0 Km.

Esse episódio é motivo para nós chorarmos, orando a Deus pela igreja. Precisamos pedir a Deus um verdadeiro avivamento. Um avivamento que a principal motivação seja buscar a presença de Jesus Cristo e encher-se de sua Palavra e não ganhar um carro 0 Km ou para qualquer outra motivação, se não buscar a presença de Jesus.

Jesus criticou os judeus porque eles queriam sinais e pães e não o verdadeiro Pão da Vida (Jo 6.26-33). Imagino que esse evento demonstra a situação espiritual da igreja de Cristo. Líderes que pregam o que o povo gosta e não a cruz; cantores-estrela que ao mínimo sinal de não colocarem o primeiro depósito nas suas contas, estão dispostos a cancelar qualquer show, embora que no palco choram levantando as mãos dizendo que é para a glória de Deus.

Realmente, não precisa ser profeta para saber que uma multidão vai estar ali. A minha oração é que essa reunião de negócios e autoajuda se transforme em um verdadeiro avivamento onde a cruz seja pregada; que as pessoas que forem ali e os pastores que organizaram se arrependam; que as pessoas possam ser atraídas nas próximas reuniões não por um carro novo, mas pelo Cristo Vivo no meio de sua igreja.

Choremos e oremos pela igreja para que fuja de uma avivamento pós-moderno e mundano que chama pelo natural e oferece o natural para se obter o espiritual. Nas histórias dos avivamentos as pessoas eram atraídas pela vontade de buscar a Deus e a sua Palavra, eram-lhes oferecido somente a cruz como Paulo falou aos coríntios que buscavam sabedoria, pois ele pregava a Cristo e esse crucificado (1Co 1.22,23).

Portanto, qualquer seita pode fazer esse tipo de avivamento, qualquer palestrante de autoajuda pode obter resultados usando esse tipo de método. Porém, como disse Paulo a Timóteo quando estava falando de Himeneu e Fileto que estavam pregando uma heresia e pervertendo a fé de alguns, “O Senhor conhece os que lhe pertencem” (2Tm 2.17-19).

Que Deus tenha misericórdia de nós e nos dê o verdadeiro avivamento.

sábado, 9 de janeiro de 2010

COMO SURGEM OS DITADORES

.




A história treme ao lembrar de alguns ditadores do mundo como adolph Hitler e Stalin que milhões de pessoas foram mortas em nome de suas ideologias. Na verdade, todo ditador age da mesma forma, pois eles têm que tirar do caminho todos aqueles que parecem ou dão algum vestígio de ameaça ao seu poder.

É importante pensar que nenhum ditador veio por conta própria. Todos eles vieram de uma forma paulatina e simulada. A maioria deles veio com algum apoio, seja popular, seja de alguma autoridade que o colocou.

Hitler é um exemplo clássico de ditadura. Ele era associado ao Partido dos Trabalhadores Alemães, que mais tarde se tornou o Partido Nacional – Socialista Alemão (nazista), conforme a sua biografia no Site de Biografias. Assim afirma o site:

Em 1921, tornou-se líder dos nazistas e, dois anos mais tarde, organizou uma malograda insurreição, o "putsch" de Munique. Durante os meses que passou na prisão com Rudolph Hess, Hitler ditou o Mein Kampf (Minha Luta), um manisfesto político no qual detalhou a necessidade alemã de se rearmar, empenhar-se na auto-suficiência econômica, suprimir o sindicalismo e o comunismo, e exterminar a minoria judaica.
É interessante que ele tinha objetivos louváveis para a Alemanha que estava passando por uma crise em várias áreas e, principalmente, econômica. Seu preço foi alto por isso, pois teve apoio da classe média e dos políticos como afirma o site Diário de Notícias. Hitler foi ao poder e começou cerceando devagar aqueles que o ameaçavam sem perceberem que a democracia estava indo para o espaço, aos poucos.

Segundo o site Diário, Hitler começou a se livrar dos partidos comunistas e depois ele assumiu de vez como presidente do Reich alemão.

Os ditadores são feitos pelo próprio povo. Hugo Chaves, Evo Morales, Fidel Castro, não vieram de qualquer forma. Foi o povo que os colocou. Todos eles chegaram ao poder e de uma forma bem simulada foram dinamitando colunas da democracia como censurando a imprensa, comprando a oposição ou eliminando-as, ameaçando todos aqueles que entrassem no caminho.

O Brasil passou muitos anos na ditadura militar. Muitos aspiravam à democracia, à livre expressão nos meios de comunicação e à plena liberdade da imprensa trabalhar para trazer transparência à população. A democracia chegou. Agora temos o privilégio de escolher os nossos governantes. O problema é se nós vamos ser responsáveis por mais uma ditadura, só que dessa vez não será militar, mas civil.

Parece uma alucinação, mas o Brasil, hoje, no governo do PT tem todo o terreno para instalar uma grande ditadura. Tem um governo que está aos poucos cerceando a imprensa em nome dos direitos humanos; temos um povo que não leva em conta o problema da corrupção do governo e sua “vista grossa” com relação a isso. Temos um poder judiciário duvidoso e muito parcial, já que quem os colocou foram os presidentes ou ex-presidentes.

Temos um governo que faz pré-campanha usando a máquina do governo livremente e sem nenhum problema, mesmo sendo criticado por ministros do judiciário.

Enfim, temos um presidente que pode fazer qualquer coisa que estará sempre no poder ou colocará quem ele quiser, pois a maioria do povo é corrupta e não leva em conta se o governo foi ou não corrupto, mas se foi ou não beneficiado por esse governo.

Temos um país que acolhe e recebe ditadores terroristas como o presidente do Irã foi recebido com honra, como Hugo Chaves e Evo Morales também. Claro que o simples fato de serem recebidos não implica em absorver suas ideologias, mas é para se pensar que os ditadores sejam tão bem acolhidos aqui no Brasil.

Como nunca na história do Brasil a imprensa foi tão criticada, tão cerceada a ponto da Folha de São Paulo ser proibida de colocar alguma coisa dos Sarney. Isso é uma semente para o bom terreno para a ditadura.

Temos parlamentares condenados com vários processos que lideram campanhas, ganham eleição em seus Estados, lideram comissões no senado e câmara. O nosso povo é o mais apto para receber um ditador que existe. Basta saber comprá-los, basta saber a hora certa, basta dominar a imprensa porque o povo não está nem aí para ética, mas sim para sua próxima propina ou bolsa família.

O ditador virá, aos poucos o terreno está sendo preparado, infelizmente.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O SIGNIFICADO DE “OBRAS MAIORES” DE JOÃO 14.12





Comentar um verso polêmico não é fácil. Principalmente quando estaremos discordando de vários eruditos, ou de uma grande maioria, mas quando se tem as regras, não se deve temer, apenas analisar racionalmente se de fato uma interpretação está correta ou não. A Hermenêutica é uma ciência e como tal é observável. Qualquer estudioso pode analisar se de fato uma interpretação está coerente ou não. Basta usar as regras. O problema da Hermenêutica bíblica é que, muitas vezes, os pressupostos são mais decisivos que as regras observáveis de interpretação. De certa forma, todos interpretam com um pressuposto, mas as regras hermenêuticas devem ser decisivas na interpretação, mesmo que lamentemos que tal interpretação seja assim.

O texto de Jo 14.12 é polêmico por vários motivos. Primeiro, por ele desafiar a tradição de alguns eruditos que têm pressupostos cessacionistas e não aceitam que milagres aconteçam nos dias de hoje. Segundo, por ele trazer uma promessa audaciosa do Senhor e Mestre amado Jesus. Na verdade, é um texto, no mínimo, impressionante. F. F. Bruce percebeu isso ao escrever em seu comentário: “isso deve ter causado [aos apóstolos] uma grande surpresa”(1). Saber que Jesus dá uma promessa de fazer obras iguais a que ele fez já é uma promessa audaciosa, quanto mais que ele afirma que os seus discípulos fariam “outras maiores” do que estas. Quaisquer que sejam essas obras, isso nos deixa espantados da graça e da grandeza dessa promessa. Terceiro motivo é devido aos exageros e distorções no meio neopentecostal. Essas distorções, práticas bizarras e absurdas no meio neopentecostal têm colocado muitos eruditos a pender para uma interpretação, mesmo que alguns problemas hermenêuticos sejam esquecidos ou não levados em conta.

Meu objetivo nesse texto é fazer uma análise exegética desse verso e demonstrar que algumas nuanças exegéticas são desprezadas ou despercebidas por alguns eruditos. Pretendo demonstrar que a intenção de Jesus era dizer que a expressão “obras maiores” inclui não somente o avanço do evangelho, mas principalmente milagres e maravilhas, e que retirar esse significado fere a hermenêutica bíblica. Pretendo também analisar essa interpretação à luz das coisas bizarras no meio neopentecostal dando uma palavra de alerta à igreja.

1. Análise Exegética de Alguns comentaristas de Jo 14.12

A maioria dos comentaristas, ao que parece, segue a mesma linha de raciocínio exegético. A diferença entre eles é que alguns interpretam o verso todo apenas para a extensão de conversão. Ou seja, eles interpretam que tanto as obras que Jesus fazia como as “obras maiores” dizem respeito à extensão e alcance do Evangelho. O outro grupo de eruditos interpreta que somente a expressão “as obras que eu faço” é relacionada aos milagres; quanto à expressão “obras maiores” diz respeito ao alcance do Evangelho. F. F. Bruce escreve em seu comentário desse verso o seguinte:
E o que eles [os discípulos] devem ter pensado quando ele continuou dizendo que, já que estava indo para junto do Pai, eles fariam coisas até maiores do que as que o viram fazer? Sua promessa acabou se concretizando: Nos primeiros meses depois da sua morte e ressurreição, mais pessoas tornaram-se suas seguidoras, através do testemunho deles sobre o que ocorrera durante o seu ministério pessoal na Galileia e na Judeia. Os discípulos sabiam muito bem que em si eles eram completamente incapazes de realizar algo desse feitio, mas ele passou a lhes falar da vinda do Parácleto, que os capacitaria e tornaria seu testemunho eficaz.(2)

Note que F. F. Bruce interpreta todo o verso como um alcance maior de pessoas para o Evangelho pelos apóstolos do que Jesus teve. Ele não toca em nenhum lugar do seu comentário em milagres e nem faz nenhuma análise exegética, exceto citando alguns versos sem influenciar em nada sua interpretação por causa deles.

Já William Hendriksen interpreta um pouco diferente. Ele escreve o seguinte em seu comentário:

Como isso pode ser verdade é explicado em 14.16ss. Como resultado de sua partida, os discípulos realizarão não só as obras que Jesus estava realizando durante todo o tempo (milagres no reino físico), mas outras (obras) maiores que essas, ou seja, milagres no reino espiritual. Ver sobre 5.20, 21, 24. As obras de Cristo consistiram em grande parte de milagres no reino físico, realizados principalmente entre os judeus. Quando agora fala de obras maiores, ele está com toda probabilidade pensando naquelas obras em conexão com a conversão dos gentios. Essas obras eram de caráter mais elevado e maiores em escala.(3)
Podemos ver claramente que a interpretação de Hendriksen é diferente de F. F. Bruce. Ele faz diferença e interpreta que a promessa que inclui os milagres é somente para a expressão “obras que eu faço”. Já a expressão “obras maiores”, Hendriksen interpreta como a conversão em grande escala dos gentios. De qualquer forma, Hendriksen já deixa aberto para que milagres estejam na promessa do verso, mesmo que ele não entre em detalhes se eles podem ser realizados até os nossos dias.

Calvino interpreta dessa maneira também. Ele escreve em seu comentário ao evangelho de João:
Muitos estão perplexos com a afirmação de Cristo, que os apóstolos fariam obras maiores do que ele tinha feito. Eu tenho passado por várias outras respostas que foram normalmente dadas com respeito a isso, e satisfaço-me com esta simples resposta. Primeiro, precisamos entender o que Cristo pretende dizer, ou seja, que o poder pelo qual ele prova ser o Filho de Deus, está tão longe de ser confinado à sua presença física, que deve ser claramente demonstrado por muitos e impressionantes provas, quando ele está ausente. Agora, a ascensão de Cristo foi logo depois, seguida de uma maravilhosa conversão mundial, no qual a divindade de Cristo foi mais poderosamente demonstrada que enquanto ele residia entre os homens. Portanto, nós vemos que a prova de sua divindade não foi confinada à pessoa de Cristo, mas foi difundida através de todo o corpo da igreja.(4)

Notemos que apesar de que Calvino não tenha sido mais explícito que Hendriksen, eles possuem a mesma conclusão. Para Calvino, a divindade de Jesus Cristo não estaria confinada à sua presença física, mas seria demonstrada através do que chamou de “impressionantes provas”, mesmo diante de sua ausência. No entanto, Calvino passa a destacar que a divindade de Cristo foi “mais poderosamente demonstrada” pela “maravilhosa conversão mundial” depois da sua ascensão. Aqui, Calvino relaciona as mesmas obras de Jesus Cristo ao que ele chamou de “impressionantes provas”. No entanto, à expressão “obras maiores” ele relaciona à grande conversão depois da ascensão de Cristo, começando no pentecostes.

Outro erudito a comentar de uma forma mais equilibrada, em minha opinião, é Werner de Boor. Ele afirma assim em seu comentário:

De acordo com At 5.16; 9.36-43; 19.11ss; Tg 5.14 os apóstolos também realizam as obras que Jesus realizou, e ainda o fazem em proporção maior do que ele, individalmente, podia fazê-las. Contudo, a verdadeira “obra” de Jesus reside em seu envio como Salvador do mundo. Como era pequeno o sucesso visível destinado à atuação de Jesus! Justamente agora, por ocasião da despedida de Jesus, isso pode ser visto com clareza assustadora. E como isso muda completamente no dia do Pentecostes! Nele Pedro pode realizar uma obra que com os três mil salvos transcende em grandeza a tudo que Jesus fez durante sua permanência na terra.(5)
Boor demonstra em seu comentário que os apóstolos fizeram os mesmos sinais que Cristo fez e ainda maiores e dá as referências, inclusive de At 19.11 no episódio que pegam lenços e aventais de Paulo. No seu comentário ele interpreta que as duas expressões falam dos sinais e maravilhas, mesmo que admita que o maior sinal seja o da conversão da pregação de Pedro no Pentecostes e o alcance dos gentios ao Evangelho.

O que nos chama atenção é que nenhum dos comentaristas citados faz uma análise exegética detalhada para chegar às suas conclusões. Mesmo que se leve em conta que quando se faz um comentário, não se tem a intenção de se deter em um verso apenas, exceto se esse for considerado bem polêmico pelo seu autor e exija mais atenção na sua interpretação. Em minha opinião, isso seria muito importante para esse verso diante de uma promessa tão excelente.

2. Promessa, não ordenança

Antes de entrar na análise exegética propriamente dita do verso, precisamos entender que Jesus não está dando uma ordenança, mas fazendo uma promessa geral. A diferença é que a promessa depende de Deus realizar, a ordenança, somos nós que temos que realizar. A promessa pode ser para alguns ou para um tempo determinado, exceto, se for especificado que é para todos ou demonstrar que é para todas as épocas; a ordenança é para todos em todas as épocas. Quando se trata de um ensinamento de Jesus aos seus apóstolos e discípulos, diz respeito à sua Igreja, pois os apóstolos ensinaram e demonstraram isso. Notemos que no sermão da Montanha Jesus tem por objetivo de ensinar, a priori, seus discípulos (Mt 5.1,2). É um erro grotesco de interpretação se alguém afirma que os ditos de Jesus foram somente para eles sem uma base para tal afirmação. Por exemplo, ninguém precisa ir hoje em dia a algum cenáculo e pegar o primeiro jumentinho que achar porque o contexto deixou claro que aquela ordenança era para aqueles discípulos somente (Mc 11.1,2). Porém, não podemos dizer isso para o Sermão da Montanha e nem para as palavras de Jesus em geral. Principalmente, do capítulo 14 de João. Portanto, todos os ensinamentos de Jesus são preciosos e cheios de autoridade, merecendo a nossa atenção máxima.

No caso do verso de Jo 14.12 trata-se de uma promessa porque Jesus não está usando o verbo grego no imperativo, mas no futuro do indicativo do verbo ποιεω / ποιησει / “fará”. Como promessa e tratando-se de milagres, implica em uma total direção divina para que assim aconteça. Sabemos que essa promessa não se manifestou a todos os apóstolos, mesmo para quaisquer que sejam a interpretação de “obras maiores”. Assim como a promessa de Marcos 16.20 que o verbo está no futuro e que não significa que acontecerá com todos. Nessa expressão, seria como se Jesus dissesse que haveria algumas maravilhas feitas pelos seus apóstolos e sua igreja que ultrapassariam as suas. Jesus reconhece a continuação dos milagres e maravilhas pela sua igreja, mesmo entre aqueles que não eram de fato convertidos quando afirma:

Mateus 7:22 22 Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?

Jesus como o Eterno Filho de Deus falou algo profético que os sinais e milagres ainda iriam continuar na sua igreja. Mateus usou a expressão ου... τω σω ονοματι δυναμεις εποιησαμεν traduzida na RA para “em teu nome não fizemos muitos milagres?” e na RC “em teu nome, não fizemos muitas maravilhas?”. O verso está direcionado pelo advérbio de negação ου demonstrando que eles de fato fizeram isso. A palavra usada por Mateus δυναμεις traduzida para “poderes, maravilhas” é mesma palavra usada para os milagres de Jesus e dos apóstolos (Mt 11.20, 21; 13.54; 14.12; Mc 5.30; At 6.8; 19.11).

Tanto Calvino como Hendriksen admitem que os milagres somente dizem respeito à expressão que Jesus usou “obras que eu faço”, mas isso não deixa de trazer uma dificuldade. Fazer as mesmas obras de Jesus é, no mínimo, algo fantástico. Por isso que Jesus começa esse verso com o famoso αμην αμην / “em verdade, em verdade”. Mesmo assim, esse fazer as obras de Jesus não significa fazer todos os mesmos milagres de Cristo, pois nenhum apóstolo andou sobre as águas e nem transformou água em vinho. Àqueles que interpretam que é apenas a extensão do Evangelho e conversão, precisam admitir que os apóstolos não fizeram todas as coisas que Cristo fez nessa área. É difícil dizer que alguém pregou o evangelho como Cristo (Jo 7.45,46) ou que trouxesse quase uma cidade toda para ouvi-lo sem marketing ou propaganda de qualquer tipo, mas somente pelas suas Palavras (Jo 4.28-30).

Portanto, quando Jesus profere essas palavras, ele quer demonstrar que os apóstolos e a sua igreja farão coisas semelhantes a que ele fez, mesmo que isso não signifique que teriam que fazer todas as mesmas coisas.

3. O que significa a expressão “obras maiores”

3.1. O contexto imediato

A expressão “outras maiores fará” vem da tradução και μειζονα τουτων ποιησει. Na verdade, o adjetivo comparativo μειζονα está na mesma declinação, gênero e número do substantivo τα εργα / “as obras” demonstrando que se refere diretamente a ele. Portanto, esse “maiores” é uma qualificação de obras que foi citada anteriormente. Não há base para afirmar que a qualificação μειζονα, traduzida para “outras maiores” corresponda a outro sentido como Hendriksen afirma claramente em seu comentário. A dificuldade de pensar assim é exatamente porque o adjetivo de comparação corresponde a τα εργα “as obras”. Isso dá a entender que corresponde ao mesmo tipo de obras citadas por Jesus que ele fazia, só que maiores. Para ilustrar, imaginemos uma paráfrase de outra forma: “João fará as coisas que eu faço no meu serviço e maiores que eu ele fará”. Isso implica dizer que João fará maiores dentro do entendimento qualificativo da idéia de coisas no meu serviço que foi dito. Portanto, interpretar separadamente as expressões é esquecer essa nuança exegética simples, diga-se de passagem.

Uma das regras básicas de Hermenêutica é analisar o contexto imediato de um texto. O contexto dessa expressão deixa-nos concluir que Jesus se referia principalmente a obras miraculosas. Notemos que vem de um diálogo entre Filipe e Jesus. Filipe pede a Jesus para mostrar para ele o Pai e isso bastaria (Jo 14.8). Jesus responde que quem o vê, vê também o Pai e evoca que ele faz as mesmas obras do Pai (Jo 14.11). Aqui Jesus está falando de obras miraculosas, pois fica difícil relacionar somente a extensão de evangelização para o Pai. Jesus está falando dos sinais miraculosos e de milagres, principalmente. Essas “mesmas obras” no verso 11 demonstram obras de maravilhas. Isso é afirmado, inclusive por Hendriksen analisando esse verso: “Mas se isso lhes fosse difícil, que então cressem ao menos por causa das próprias obras. Essas obras têm valor comprobatório. Sobre isso, ver [Jo] 9.31-33; 10.37, 38; 11.39-44; 20.30, 31; cf. Atos 2.22; 4.31; 2 Coríntios 12.12”.(6)

Note que as referências de Hendriksen incluem demonstração de maravilhas e milagres. Se as obras do verso 11 são interpretadas como obras miraculosas, fica difícil interpretar o verso 12 diferente, pois existe o artigo definido τα εργα, que demonstra que essas obras já foram faladas anteriormente no verso 11. E se essas obras com o artigo definido correspondem ao verso 11 como milagres, conclui-se, então, que o adjetivo μειζονα / “maiores” corresponde a milagres também. Isso traz um silogismo exegético dessa maneira:

Τα εργα (v.11) => Τα εργα (v.12) => μειζονα (7)

Portanto, o contexto imediato dá-nos base para interpretar que na expressão “obras maiores” estejam incluídas, principalmente os milagres e maravilhas.

3.2. O sentido de εργα / “obras” no evangelho de João

É necessário analisar também que João usa em muitas passagens de seu evangelho a palavra “obras” relacionada no contexto de curas miraculosas, incluindo em algumas passagens, a conversão. Nós podemos ver isso nas seguintes passagens (Jo 5.20; 5.36; 6.20; 7.3; 9.3; 9.4; 10.25; 10.32; 10.37; 14.11; 15.24).

Notemos que em Jo 9.3, 4 o evangelista usa a palavra τα εργα / “as obras” tanto para milagres (v.3) como para no sentido de evangelização (v.4). As obras de Deus que Jesus falou incluíam, principalmente, a cura do cego de nascença, pois logo em seguida Jesus o curou. Mesmo assim teve uma significação de alcance do Evangelho porque Jesus o salvou e demonstrou isso quando ensinou os discípulos nessa ocasião (Jo 9.35-41).

Pela análise das palavras no restante do Evangelho também se pode perceber que Jesus tinha a intenção de falar sobre milagres e maravilhas.

3.3. O sentido de μειζονα / “maiores”

João 5:20 20 Porque o Pai ama ao Filho, e lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis.

João usa a expressão grega nessa passagem com uma semelhança de chamar atenção com esse mesmo adjetivo, com as mesmas classificações sintáticas e morfológicas que usou em Jo 12.14, inclusive qualificando a mesma palavra εργα.

Ο γαρ πατηρ φιλει τον υιον, και παντα δεικνυσιν αυτω α αυτος ποιει, και μειζονα τουτων δειξει αυτω εργα, ινα υμεις θαυμαζητε

Notemos que o contexto é da cura do paralítico do tanque de Bestesda e que Jesus está falando de obras no sentido de maravilhas e curas e não de extensão do Evangelho. Por isso que ele fala que eles iriam se maravilhar com as μειζονα τουτων “maiores que estas” que ele iria fazer. O sentido de μειζονα / “maiores” aqui não é de extensão, mas obras mais extraordinárias, por isso que os discípulos iriam se maravilhar. O verso seguinte também explica que Jesus quer falar é de obras miraculosas, pois fala do Filho do Homem ressuscitar a quem quer (Jo 5.21). Se o sentido em João 5.20 é de maiores em essência de milagres, por que interpretar Jo 14.12 somente como extensão de conversão dos discípulos?

Hendriksen, fazendo uma paráfrase desse verso, escreve:

A operação de milagres – como o da cura do homem no tanque de Betesda – é parte desse plano eterno; e maiores obras do que essas curas de pessoas enfermas ele (o Pai) lhe (o Filho) mostrará – ou seja, ressuscitará pessoas mortas e julgará todas as coisas -, para que vocês, já admirados por causa do milagre do tanque, realmente fiquem maravilhados. Pois assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes comunica vida (ou seja, os que estão espiritualmente mortos, e, também, no dia do julgamento, os mortos físicos), assim também o Filho (que é igualmente soberano) comunica vida a quem quer.(8)
Hendriksen reconhece que Jesus estava falando de milagres maiores e relaciona isso também ao verso posterior. Na verdade, aqueles que advogam essa interpretação não fazem de uma análise exegética, mas por que eles imaginam que é muito difícil alguém fazer algo maior que Jesus fez. Porém, não analisam que fazer qualquer coisa semelhante a Jesus Cristo é uma grande dificuldade e exige fé, mesmo na evangelização, como demonstrei anteriormente. Precisamos entender também que quando acontece esses milagres é o próprio Jesus que está fazendo, como bem escreveu Calvino em seu comentário: “no qual a divindade de Cristo foi mais poderosamente demonstrada que enquanto ele residia entre os homens”(9). Então, não devemos temer.

Portanto, esse texto de Jo 5.20 é muito esclarecedor, em minha opinião. O adjetivo grego μειζονα / “maiores” é usado na mesma forma que é usado em Jo 14.12 e significa maiores em sinais extraordinários e não em extensão de evangelização. Exegeticamente é decisivo e legítimo interpretar esse adjetivo como obras no sentido de maravilhas, principalmente, devido ao contexto imediato e quando se relaciona ao substantivo εργα no todo do livro.

4. O testemunho prático desse verso nos atos dos apóstolos

É importante visualizarmos, agora, se aconteceu de fato o cumprimento dessa promessa nos atos dos apóstolos. Isso é muito importante, pois se não aconteceu com os apóstolos, ficaria difícil entender que poderia acontecer com a igreja depois.

Quanto aos mesmos milagres de Jesus, temos muitos exemplos (At 2.43; 5.16; 6.8; 8.6,13; 14.3; 15.12,19), mas podemos perceber algumas maravilhas e milagres que os apóstolos fizeram que poderíamos dizer que ultrapassou o que Jesus fez:

4.1. O lugar tremeu (At 4.29-31)

Esse episódio é muito interessante. Não há uma única descrição apostólica que algum lugar tremeu depois da oração de Jesus. Houve um terremoto fantástico e todos foram cheios do Espírito Santo. Esse fato, ao meu ver, está acima do que Jesus fez no sentido de oração.

4.2. A sentença da morte de Ananias e Safira (At 5.1-12)

Realmente esse episódio é maravilhoso e cheio de autoridade que Jesus não teve oportunidade de usar na sua humilhação enquanto aqui na terra. Pedro com muita autoridade deu a sentença a Ananias e Safira de morte. Acredito que não houve uma demonstração tão poderosa como essa entre os apóstolos. Por isso trouxe muito temor.

4.3. A cura pela sombra de Pedro (At 5.12-16)

Esse milagre realmente é, no mínimo, novo em toda a Bíblia. As pessoas se colocavam onde Pedro passava e a sua sombra os curava. Isso nunca acontece no ministério de Jesus e realmente é fantástico isso.

4.4. Anjos abrem as portas da prisão (At 5.17-20; 12.6-12)

A operação dos anjos com os apóstolos foi algo fantástico que não aconteceu com Jesus, pois embora que o ministério de Jesus tenha sido bem monitorado por anjos, mas a forma dos anjos agiram com os apóstolos, em minha opinião, foi maior, pois abriram as prisões, falaram claramente e até os guiaram para fora (v.19).

4.5. O arrebatamento de Filipe (At 8.38-40)

Esse episódio é maravilhoso e com certeza deve nos fazer pensar que esse sinal Jesus nunca fez. Filipe foi arrebatado para outro lugar de uma forma milagrosa. Esse episódio é fantástico e muito maior do Cristo fez.

4.6. A cegueira de Elimas, o mágico (At 13.5-13)

Outro sinal fantástico foi exatamente a autoridade de Paulo ao falar a Elimas, o mágico que ele ficasse cego. Essa maravilha foi maior do que Jesus fez, pois isso não aconteceu com Jesus. Sinais, assim, viam-se somente no VT (2Rs 6.17,18). Por isso que o texto afirma que o procônsul ficou maravilhado.

4.7. Os lenços e aventais de Paulo (At 19.11,12)

O próprio texto afirma que Paulo fazia milagres extraordinários. A ênfase no texto grego é grande no verso 11 δυναμεις τε ου τας τυχουσας / “maravilhas jamais encontradas”. O verbo grego τυγχανω traduzido na RA para “extraordinários” está no particípio aoristo. Isso quer dizer que jamais foi encontrado, numa ação que não se repetiu. Eram milagres tão extraordinários que o autor usou uma redundância, pois a própria palavra δυναμεις quer dizer algo extraordinário, mas Lucas ainda colocou que foi jamais visto. O próprio texto afirma que o que estava acontecendo com Paulo era algo que Jesus não fez, pois foram maravilhas jamais encontradas e suplantou o que o Mestre fez.

4.8. Paulo escapou da víbora (At 28.3-6)

Nessa passagem Paulo foi picado por uma víbora. Ao que parece, os habitantes conheciam que Paulo iria morrer em poucas horas, pois esperavam por isso. No entanto, Paulo simplesmente jogou a víbora no fogo. Esse sinal, além de ser maravilhoso e não ter acontecido com Jesus demonstra algo fantástico, pois os habitantes da ilha achavam que ele era um deus.

5. As coisas bizarras das igrejas neopentecostais em relação a esse verso

Temos que admitir que esse verso, como toda promessa de Deus pode ser mal interpretado. Hoje, nós temos vários exemplos de igrejas que encenam coisas estranhas e bizarras. É unção para todo gosto. Unção do Leão, dos quatro seres viventes, do pião, etc. Precisamos admitir que todas as maravilhas que os apóstolos fizeram foram extraordinárias, com uma diferença: Não foram forjadas pelos apóstolos. Nos exemplos das maravilhas, sinais e curas dos apóstolos não há exemplo de que partiu dos apóstolos, mas de Deus. Ou seja, claramente as pessoas se maravilhavam porque viam que foi Deus que tinha feito e não tinha espaço para pensarmos que seria o homem e suas ricas criatividades e influências do seu coração caído (Jr 17.9).

Os exemplos feitos na Bíblia de cenáculo ter um terremoto, pessoas morrerem, Elimas ficar cego, Filipe ser arrebatado de um lugar para o outro não dão espaço em nenhuma hipótese para que pensemos que tenha sido um homem. No entanto, se alguém imitar os animais que os profetas viram como uma visão simbólica, a chamada “unção dos quatro seres viventes” podemos com toda razão duvidar se essas pessoas estão sendo usadas por Deus; ou até mesmo imitar um animal como o leão que foi colocado na Bíblia como um símbolo de Cristo e de Satanás (Ap 5.5; 1Pe 5.8). Essas imitações são completamente duvidosas e dignas de nossa dúvida, já que não vemos uma ação maravilhosa, mas infantil e humana.

Não obstante a isso, precisamos ter todo cuidado em não desprezar as coisas fantásticas que vêm de Deus em nome de uma má análise das imaturidades feitas pela Igreja. Paulo, quando escreveu à igreja de Corinto, ele encontrou uma igreja criança e cheia de divisão por causa dos dons, mas Paulo não negou os dons. Ele escreveu ensinando a Igreja usar esses dons para a glória de Deus.

Vemos nas histórias dos avivamentos coisas extraordinárias que nunca aconteceram como nos avivamentos nas ilhas Fiji e entre os Zulus. Coisas que não se tem como dizer que tenha sido um homem fazer isso. A mesma coisa quando pessoas caíram agarrando-se em colunas pedindo misericórdia a Deus para não irem ao inferno como aconteceu na pregação de Jonathan Edward. Essa ação só pode vir de Deus, pois, pelas Escrituras somente o Espírito Santo pode convencer o homem do pecado. No entanto, se várias pessoas começam a rir num culto e dizem que é uma operação de Deus como chamam “unção do riso”, devemos, com toda razão, duvidar, já que o riso é completamente influenciável e quando estamos diante da presença de Deus, somos convencidos de nossos pecados e insuficiência (Is 6.5).

Portanto, as coisas bizarras não devem nos deixar incrédulos para a promessa de Jesus em Jo 14.12.

CONCLUSÃO:

Meu objetivo foi analisar de uma forma mais profunda o verso de Jo 14.12, pois muitos eruditos interpretam esse verso sem levar em conta alguns princípios hermenêuticos.

Sabemos da grande piedade e zelo de alguns em ter cuidado com respeito aos milagres e sinais; porém, precisamos pensar que se somos mensageiros da Palavra de Deus não devemos procurar agradar a homens, mas a Deus que nos chamou com santa vocação.

Entendemos que a solução para os abusos da igreja não é fugir ao que a Escritura nos diz, mas, ao contrário, devemos buscar uma interpretação correta e ensinar aos líderes cristãos da igreja a sua verdadeira interpretação.

Sola Deo Gloria.

(1) BRUCE, F. F. Introdução e Comentário: João. São Paulo: Vida Nova, 2004, p. 258.
(2) Ibid.
(3) HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 660.
(4) CALVINO, John. Commentary on John - Volume 2. Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library, 1999, p. 50-51.
(5) BOOR, Werner. Evangelho de João II – Comentário Esperança. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2002, p. 88.
(6) HENDRIKSEN, Op. cit., p. 659.
(7) Por causa das limitações de formato de fonte na internet, infelizmente, eu preferi colocar dessa maneira. O ideal seria se colocasse em diagrama exegético.
(8) Ibid., p. 263.
(9) CALVINO, op., cit.