segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A DITADURA IDEOLÓGICA DA SOCIEDADE ECLÉTICA



Parece contraditório que o filósofo que mais defendeu o questionamento das ideias morra na cidade que foi o berço da democracia por acusação de desrespeitar os deuses do Estado e de corromper os jovens. Sim, Sócrates foi condenado a morrer envenenado por questionar o oráculo de Atenas que tinha afirmado ao seu amigo Querofonte que ele era o “mais sábio dos homens”. Como Sócrates ensinava que a sabedoria vinha pelo conhecimento da total ignorância, ele questionou o oráculo por indicá-lo como um dos homens mais sábios. Isso trouxe consequências graves levando à morte um dos homens mais inteligentes da sua época.

Se Atenas foi onde se instalou a primeira democracia, onde havia o livre pensamento das idéias e das ciências, já que a Filosofia foi praticamente a mãe das ciências, por que Sócrates morreu por expressar o seu pensamento e seus questionamentos a alguém que o chamou de “o mais sábio dos homens”? A resposta está numa simples questão: uma cultura eclética pode ser uma ditadura ideológica. Ou seja, Quando proibimos que outros defendam os seus pontos de vista ou que expressem os seus pensamentos contraditórios, mesmo em nome do respeito da ideologia do outro, estamos quebrando a democracia e o livre direito de expressão. No caso, isso não é democracia de ideias, mas uma ditadura do pensar.

A falta de tolerância do contraditório é o primeiro sinal de uma ditadura ideológica ou de uma ameaça à liberdade do livre pensamento. A famosa máxima de Voltaire é muito válida para essa questão: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. A beleza de uma ideologia é que ela passe pelo contraditório, se houver.

Segundo Karl Popper, uma teoria precisa passar pelo teste da falseabilidade. Isto demonstra que o contraditório é importante para autenticar até a própria ciência, segundo Popper. Quando se fecha para o contraditório, fecha-se para novas ideias e para a real defesa da própria ideologia; evita-se também que a ideia amadureça ou que se estude mais alguns aspectos desta.

O Brasil caiu nessa síndrome. Em nome do respeito às religiões e ideologias, proíbe-se qualquer pessoa de expor seus pensamentos e de contrapor comportamentos e práticas.

A PL 122/2006 defendida por alguns deputados que proíbe a livre expressão de ideias sobre o homossexualismo é um exemplo. A PL 122 confunde discriminação e preconceito com opiniões contrárias. Claro que qualquer pensamento contrário ao meu poderia ser chamado, erroneamente, de discriminação, pois eu poderia entender que aquela pessoa fala de mim incluindo o que eu defendo. Porém, eu posso perfeitamente discordar de alguém sem discriminá-lo; eu posso perfeitamente afirmar que sua ideologia está errada sem ter preconceito para com a pessoa. Eu posso perfeitamente discordar da religião de uma pessoa sem discriminá-la. Eu posso perfeitamente usar a máxima de Voltaire, pois caso não aconteça essa máxima, com certeza há discriminação.

Eu posso discordar da prática homossexual, por basear-me na Bíblia e não discriminar um homossexual. Jesus criticava os fariseus, chamava-os de hipócritas e sepulcros caiados (Mt 23.27), mas quando era convidado a comer com eles, ele estava sempre pronto para ir a casa deles (Lc 7.37). Jesus pode nos dar um excelente exemplo de discordar sem ter preconceito e discriminação.

A mesma coisa acontece com a teoria da evolução e o design inteligente. Há uma celeuma muito forte de ambas as partes que uma ou outra não deveria ser ensinada na sala de aula. Porém, se há pesquisas científicas de ambas as teorias, por que não ensiná-las juntas trazendo as dificuldades e as pesquisas genuínas que não são fraudes, pois existem muitas fraudes evolucionistas em livros didáticos. Por que temer o contraditório?

Portanto, por causa da forma errada de exigir respeito à ideologia ou prática do outro, podemos ser verdadeiros ditadores ideológicos. O respeito deve estar no direito de defender e de expor os argumentos, não na proibição de expor o argumento em si, pois isso foi o que aconteceu com Sócrates em Atenas.

Espero que a nossa sociedade seja intelectual a ponto de saber discernir os argumentos do direito de expô-los. Precisamos defender até o fim o direito de todos defenderem os seus argumentos, mesmo que não gostemos, ainda que tenhamos um bom motivo de gastarmos tempo com os nossos, mas é assim que se faz a cidadania e a verdadeira democracia. 

2 comentários:

  1. ótima reflexão Mário, porém, acho que o avanço do homossexualismo como também da violencia são proféticos, não podemos fazer nada para evitar isso. Jesus disse que na sua vinda, o mundo estaria como "nos dias de Ló" e "nos dias de Noé". Não estou propondo a apatia à igreja; devemos salvar o maior número de pessoas possíveis. Mas acho que ficar fazendo guerra pra evitar leis contrárias à nossa ideologia evangélica é enxugar gelo. Afinal, é pelo jurídico e pelo político que vai se instaurar o governo do Anticristo. Um abraço.

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  2. Entendo seu comentário. Apenas quis mostrar uma realidade em todas as esferas, inclusive, o povo de Deus pode se fechar para ouvir outro. Não toquei no aspecto se é ou não para acontecer. Existem países que podem até aceitar essas práticas, mas dão livre curso ao contraditório. Entende?

    Mesmo assim, não devemos esquecer que no livro de apocalipse, diante de todas as catástrofes vistas por João, a igreja é retratada como o candeeiro. Deve ser a luz nesse momento crítico. Obrigado pelo comentário.

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