quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

LENÇOS, AVENTAIS E COPOS D’ÁGUA



Facilmente o povo de Deus interpreta mal as suas maravilhas e os seus feitos extraordinários caindo em idolatria. No VT o povo idolatrou a serpente de bronze que Deus tinha mandado Moisés fazer para que o povo fosse salvo das picadas das serpentes (Nm 21.7-9). O povo não entendeu que Deus queria passar apenas uma mensagem de expiação: eles teriam que ter um substituto que se tornaria pecado no lugar do povo (Jo 3.14,15; 2Co 5.21). A serpente já trazia uma imagem de tentação e pecado demonstrado por Moisés em Gênesis e alguém deveria ser punido substituindo aqueles que olhassem para a cruz com fé à semelhança da serpente de bronze.

Segundo o texto de 2Rs 18.4, os israelitas passaram a adorá-la dando-lhe até um nome de Neustã. Além deles não entenderem a mensagem de Deus, adoraram a própria mensagem, pois apesar de que Deus tenha mandado fazer a serpente de bronze para ser um meio de cura das picadas das serpentes, isso não os deu base para fazerem da própria serpente um meio de cura, nem para lhe darem um nome adorando-a, pois aconteceu isso num episódio especial.

Algumas igrejas nos nossos dias têm caído na mesma confusão, só que dessa vez é uma má interpretação de um episódio que aconteceu numa única vez com Paulo em Atos:

Atos 19:11-12  11 E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários,  12 a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se retiravam.

Com base nesse texto, pastores, bispos e apóstolos distribuem toalhas e lenços nos cultos, mandam colocar copos de água encima da TV para que sejam curados, ungem celulares e até lubrificantes íntimos (por incrível que pareça). Afirmam que, assim como aconteceu com Paulo, as pessoas deveriam esperar a mesma coisa dos objetos que forem abençoados por esses obreiros. Já vi depoimentos de pessoas na TV que andam com a sua toalhinha para qualquer imprevisto, fazendo desta um tipo de talismã. Já fui pessoalmente a uma principal igreja que oferece toalhas e lenços. Fiquei impressionado que essas toalhas são vendidas e aquelas que são distribuídas são para aqueles que ofertam uma quantia limite. Dizem eles que não é uma venda, mas uma gratificação àqueles que ofertam a quantia que falam. Isso apenas tem servido para que igrejas aumentem suas finanças em nome desses “lenços sagrados” tendo um objetivo financeiro e desviando a glória de Cristo para esses objetos.

Precisamos interpretar esse texto com muita cautela, percebendo qual a intenção de Lucas ao escrever essa passagem. Concordamos perfeitamente que Lucas tinha intenção doutrinária, mas o livro de Atos é escrito na forma de uma narrativa e precisamos ter todo cuidado ao interpretá-lo. Por exemplo, diante de uma narrativa precisamos ver vários aspectos importantes, respondendo algumas perguntas do texto:

1. O que o contexto e a análise textual poderiam nos dizer sobre essa passagem?


O contexto é de que Deus operava maravilhas através das mãos de Paulo jamais vistas e demonstradas. A expressão que a Bíblia RA traduziu como “extraordinários” é uma expressão que literalmente quer dizer “[milagres] jamais encontrados” “ou tas tychousas” (no particípio aoristo - passado completo). Essa expressão dirige a qualificação da palavra “milagres” dynameis, sendo uma característica de Lucas, pois além dele ser o que mais usa esse verbo, ele é o único que o usa no particípio.

A ênfase de Lucas desse episódio como algo extraordinário foi muito grande. Além de escrever a palavra “dynameis” (poderes, milagres), ele os qualificou “jamais encontrados”. A própria palavra em si dynameis já demonstra algo sobrenatural e maravilhoso. Mesmo assim, ele enfatizou ainda que esses milagres eram “jamais encontrados”. Isso quer dizer que Lucas queria enfatizar uma ação extraordinária de Deus. Sendo uma ação extraordinária e específica de Deus, não é base para repetir como uma liturgia na igreja. Da mesma forma que o pedido de Pedro para que o coxo olhasse para ele não é base para que alguém seja curado olhando para os nossos olhos nem que façamos o “culto da sombra” para curas, já que a sombra de Pedro também fazia maravilhas (At 5.15). Da mesma forma também devemos ver a unção de Jesus com lodo nos olhos do cego de nascença. Ela não é base para nós fazermos a mesma coisa, programando o culto da unção com lama, da sombra ou do “olhar de Pedro”. Essas ações foram extraordinárias e o todo da Bíblia não dá base para usarmos como liturgia.

2. Lucas e Paulo tiveram a intenção de fazer desse texto uma liturgia de cura para a igreja?

Precisamos notar que algumas passagens de Atos são apenas descritivas por não haver base no contexto do próprio livro de Atos ou em outras passagens da Bíblia, já que uma regra básica de Hermenêutica é que a Bíblia explica a própria Bíblia. Por exemplo: a escolha de Matias usando sorteio (um tipo de bingo da época) (At 1.23-26) não demonstrou que fosse uma forma que a Igreja deveria ter para escolha de presbíteros ou líderes. Lucas demonstrou que foi somente naquela ocasião, pois em outras passagens ele afirma que Paulo fazia eleição de presbíteros (At 14.23) e ensinou a Timóteo que houvesse critérios objetivos sem ao menos falar em sorteios (1Tm 3.1-7). Por isso, essa passagem não demonstra que a igreja deva fazer a mesma coisa.

Outra observação importante é que tanto no caso de Paulo como no de Pedro nenhum dos dois teve a iniciativa de fazer isso, mas foram as pessoas que tiveram a iniciativa de pegar os lenços da cabeça de Paulo ou o seu avental de fazer tendas, ou de ficarem na sombra de Pedro. Isso significa que não foi uma ação planejada, forjada, preparada pelos apóstolos Pedro e Paulo. No entanto, isso é totalmente diferente que os obreiros de algumas igrejas fazem hoje em dia.

 3. A Bíblia traz alguma outra passagem que demonstre que a igreja deva usar essa prática?

Precisamos observar que em nenhuma outra passagem da Bíblia ensina ou insinua que os apóstolos ou cristãos faziam isso como uma forma de Deus agir para curar ou fazer outra coisa.

De uma forma diferente, a unção dos enfermos com óleo que Marcos registrou nos evangelhos: “expeliam muitos demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6.13) pode ser confirmada como uma prática na igreja porque Tiago ensinou que se devia usar: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor (Tg 5.14). O texto de Tiago dá base hermenêutica para que a igreja use em oração por enfermos, mas mesmo assim não dá base para se vender vidrinhos de azeite como sagrados. O texto afirma que é na igreja diante dos presbíteros.

4. Por que Paulo não ensinou isso às igrejas, principalmente, quando falou dos dons?

Outro fator importante é se essa prática fosse para ser usado na igreja, Paulo teria falado dela quando ensinou sobre os dons de cura ou maravilhas. Porém, Paulo entendia que o que aconteceu foi uma maravilha extraordinária (assim quer dizer o original) e que não era um princípio para que a igreja fizesse novamente.

Na verdade, por trás dessas unções de lenços, toalhas e copos d’água está um profundo espírito de avareza e aproveitamento da fé dos incautos. Fazem isso como uma forma de chamar pessoas à igreja e receberem ofertas, pois a toalha ou o lenço somente são dados àqueles que ofertam. Deus pela sua misericórdia tem demonstrado seu poder mesmo assim, mas isso demonstra uma baixa espiritualidade, tanto daqueles que promovem como daqueles que usufruem deixando cada vez mais as pessoas ao engano dos seus corações.

Outro problema é que quando isso acontece como uma prática litúrgica na igreja o desvio da fé em Cristo é desviado para o objeto como a serpente de bronze. A pessoa não confia que será Deus que fará o milagre, mas a toalha ungida, o copo d’água que foi abençoado. Com isso, Deus é apenas um detalhe. O centro é o apóstolo, bispo, pastor que ungiram ou oraram ou o próprio objeto. Daí as pessoas não precisam ter o compromisso de arrepender-se de seus pecados, buscar a presença de Deus porque eles já têm a toalhinha abençoada, o lenço ou um copo d’água que o espera encima da TV abençoados pelos obreiros.

Mas alguém pode argumentar que podemos ter isso também para o óleo quando Tiago afirma que os presbíteros devem ungir os enfermos. O óleo como um símbolo da unção do Espírito Santo traz uma obediência demonstrando que a cura é uma ação divina na igreja ordenada por ele. O centro é o Espírito Santo e foi ele que inspirou a sua Palavra. Todavia, Tiago não falou em abençoar o óleo como sendo um talismã, mas teriam que chamar os presbíteros para que orassem ungindo os enfermos. Diferente do copo d’água ou qualquer outra coisa que Deus não ordenou, ficando o peso sobre aqueles que oram.

Portanto, quero terminar dizendo que não há base para essa onda de superstição de lenços, toalhas e aventais ungidos. Precisamos ter cuidado com aquilo que a Bíblia não ensina e não promete para que não haja frustração. Depois, cuidado com o copo d’água, pois ele pode cair e danificar a sua TV.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

ESTÁ CERTO DIZER: “O DIABO ESTÁ DEBAIXO DOS NOSSOS PÉS”?





            É muito comum ouvir essa expressão: “o diabo já está debaixo dos nossos pés”. Geralmente, quando se canta algum tema sobre batalha espiritual, ouve-se exatamente isso.
            Essa expressão implica numa vitória final e absoluta sobre o inimigo. Era uma prática dos reis vencedores colocarem os seus inimigos como tapete e pisá-los para humilhá-los. Eu gostaria de analisar essa expressão à luz das Escrituras, tentando levar-nos a pensar de uma forma crítica e levando em conta a Hermenêutica e a Exegese. Isso é importante porque se interpretarmos as Escrituras erroneamente poderemos ter conseqüências sérias porque Deus tem compromisso é com a sua Palavra e não com as suas distorções.
            Portanto, o meu objetivo nesse texto é analisar essa expressão e as conseqüências de sua distorção. Pretendo analisar a posição de Satanás diante de nós na batalha espiritual, depois fazer uma análise exégetica de Ef 1.20-23 e Lc 10.19 onde muitos se baseiam para essa expressão e, no final, o que consiste a nossa vitória sobre Satanás.

1.      A posição de Satanás diante de nós

A Bíblia nos alerta que estamos diante de uma luta espiritual e ela não demonstra que esse adversário está debaixo de nossos pés, no momento presente, mas como se estivéssemos numa luta corporal frente a frente. O apóstolo Paulo ensina aos efésios:

porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes (Ef 6.12).

      Paulo usa o substantivo grego palë para luta na expressão “porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne”. Segundo Thayer´s Greek Lexicon esta palavra era usada para uma espécie de luta corporal que um dos adversários venceria quando derrubasse o outro. O que chamamos de uma luta livre. Torna-se óbvio que a posição de Satanás não é debaixo de nossos pés, mas numa posição de uma luta que precisamos estar alertas e em vigilância.

Calvino comenta essa palavra em seu comentário de efésios demonstrando exatamente isso numa nota de rodapé:

Plutarco nos fala, (Symp. 1. 2., Page 638,) que a luta livre era a mais hábil e sutil de todos os jogos antigos e que o nome dela palë era derivado de uma palavra que significa derrubar um homem no chão por um golpe armado e habilidade. Está claro que pessoas que praticam esse esporte precisam usar de muitas investidas, voltas e mudanças de postura, os quais eles fazem uso para vencer e derrubar seus adversários. E é com grande justiça que um estado de opressão é comparado com isso; desde que são muitas as artes, levantamento de terrores do mal mundano, o amor natural que os homens têm para vida, liberdade, fartura e os prazeres da vida por um lado; por outro lado, que o diabo faz uso de enganos e armadilhas.[1]

      Para Calvino, o texto demonstra que o diabo está em plena atividade tentando nos derrubar em suas armadilhas e investidas numa luta livre, pois é isso que o texto quer dizer. Isso demonstra que o diabo não está debaixo de nossos pés. Essa expressão demonstra um término de uma batalha em vitória. Ao contrário disso, o diabo está numa posição de luta livre conosco palë. Cara a cara. Não estamos numa posição de conforto contra o diabo. Se fosse assim, Paulo não aconselharia a usarmos a armadura de Deus (Ef 6.13) e que deveríamos embraçar o escudo da fé contra as setas inflamadas do Maligno (Ef 6.16).
      O apóstolo Pedro demonstra que o diabo não está debaixo dos nossos pés, mas numa posição contínua de ataque ao nosso redor como um leão:

8 Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar;  9 resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. (1Pe 5.8,9)

      Pedro, primeiramente adverte que devemos ser sóbrios e vigilantes Nëpsate gregorësate. Ele fala o motivo por que deveríamos estar assim: o diabo, que é o nosso adversário, anda em volta como um leão. O verbo grego peripateö é usado para um andar em volta. A idéia é de um animal que fica em círculos procurando uma oportunidade para o ataque. Isso quer dizer que o apóstolo Pedro afirma que estamos sendo observados por um inimigo feroz e astuto procurando uma oportunidade para o ataque. Por isso, não estamos numa posição confortável, mas precisamos resisti-lhe firmes na fé. O verbo grego anthistëmi, traduzido para “resistir, opor-se” quer dizer novamente uma resistência em uma disputa perigosa, pois é contra alguém que ele identificou como um leão. A mesma palavra que Tiago usou para “resistir ao diabo”:

Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. (Tg 4.7)
           
            Howard, em seu comentário exegético desse texto faz uma relação com alguns textos da LXX e afirma:

A comparação de inimigo de almas a um leão é sugerido por várias passagens nos Salmos (Sl 7.2; 10.9; 22.13). A última destas é provavelmente a referência na mente do escritor, hös leön ho harpazön kai öryomenos. In peripateö nós temos uma reminiscência da descrição de Satan em Jó 1.7; 2.2.[2]

O professor Howard demonstra que a descrição de Pedro sobre Satanás é uma relação direta aos Salmos que descrevem esses inimigos em plena atividade, assim como o diabo que está contra nós. Portanto, podemos notar pelo texto de Pedro que o diabo está em plena luta conosco como os inimigos estavam contra Davi.
            Outro texto que precisamos levar em conta é que Paulo ensina que o diabo será pisado por nós no futuro. Ele escreve aos romanos:

E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus seja convosco. (Rm 16.20)

      Paulo demonstra que isso acontecerá no futuro. Tanto o adjunto adverbial en tachei (em breve) como o verbo Suntripsei (esmagará) no futuro demonstram que Satanás não está, no momento, debaixo de nossos pés, mas isso acontecerá no futuro. A ênfase está no verbo e não na preposição hypo. A preposição lidera o sentido adverbial que é regido pelo verbo. Portanto, Paulo afirma que isso acontecerá na vinda de Cristo e não agora.

2.      Análise de Efésios 1.20-23

20 o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais,  21 acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro.  22 E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja,  23 a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas. (Ef 1.20-23)

Mas o que dizer desse texto de Paulo aos efésios? Esse texto é usado para demonstrar, por essas pessoas, que Satanás está debaixo de nossos pés nesta era. Afirmam por inferência dessa interpretação: se todas as coisas estão debaixo dos pés de Cristo como os demônios, potestades e anjos, pois a expressão demonstra que são tanto seres angelicais como todo ser existente; então, estão debaixo de nossos pés também, já que somos o corpo de Cristo e ele foi dado à Igreja como foi escrito no v.22,23. A lógica é a seguinte: se Cristo é a cabeça de todas as coisas e todas as coisas foram colocadas por Deus debaixo dos pés de Cristo e se somos o seu corpo, então, os demônios estão debaixo de nossos pés.
Pesa ainda nessa interpretação que estamos sentados com Cristo nas regiões celestiais conforme Paulo escreveu:

6 e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; (Ef 2.6)

            Se nós estamos sentados com Cristo nas regiões celestiais, fica óbvio que os demônios estão debaixo de nossos pés, concluem alguns.

            Essa interpretação tem um problema hermenêutico que, se não tivermos cuidado, poderemos entrar numa distorção séria. Por exemplo, precisamos analisar que o texto afirma que todas as coisas estão debaixo dos pés de Cristo, pois ele assumiu toda a autoridade (Mt 28.18). O texto não afirma, em hipótese alguma, que Jesus está pisando Satanás definitivamente, embora que o venceu na cruz. Porém, o texto não afirma isso. O texto afirma que Cristo tem o domínio absoluto e autoridade sobre todas as potestades. Mesmo assim, essa vitória completa de Cristo sobre Satanás ainda não se manifestou, embora que ele o tenha vencido uma vez por todas na cruz (Cl 2.14,15). Por isso o apóstolo aos Hebreus escreveu:

7 Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos, de glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre as obras das tuas mãos.  8 Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas; (Hb 2.7,8)

Esse texto explica o texto de Efésios 1.22,23. Ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas porque será no futuro, na sua vinda.

            O apóstolo Paulo ensinou exatamente que será no futuro:

E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus seja convosco. (Rm 16.20)

24 E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder.  25 Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. (1Co 15.24,25)

            Paulo ensina aos coríntios que isso acontecerá quando todo principado e toda potestade forem destruídos. No episódio da sua vinda, pois então se cumprirá o Salmos 110.1.

O apóstolo aos Hebreus ensinou a mesma coisa:

2 Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus,  13 aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. (Hb 10.12,13)

            Outro perigo hermenêutico que precisamos ter muito cuidado é com essa inferência de corpo de Cristo. Quando Paulo afirma que Deus colocou todas as coisas debaixo dos pés de Cristo, não implica que todas essas coisas estejam da mesma forma diante da igreja, pois isso implica em total soberania e domínio. Claro que isso é um atributo somente divino. Jamais a igreja terá o domínio absoluto igual ao de Deus. Temos o privilégio de estar assentados com ele nas Regiões Celestiais, mas esse assentar-se não nos dá o atributo de soberanos.
Da mesma forma, não podemos fazer uma inferência da afirmação de Cristo: “toda autoridade me foi dada nos céus e na terra” (Mt 28.18) para afirmar que temos essa autoridade porque somos o corpo de Cristo. Com base nessa inferência, alguém poderia dizer: ora, se Cristo recebeu toda autoridade e a igreja é o corpo de Cristo, então a igreja tem toda a autoridade nos céus e na terra também. A falácia desse silogismo está em que o corpo de Cristo é relacionado à comunhão da igreja, da identificação dos sofrimentos de Cristo e da honra na vitória de Cristo (confira: 1Co 10.16,17; 1Co 12.26,27; Ef 4.12; Cl 1.24; 2.17; 3.15) e não nos seus atributos que só pertencem a Deus. Nenhuma passagem das Escrituras é colocada para o corpo de Cristo no sentido de usarmos os mesmos atributos de Deus.
Paulo tinha a intenção de dizer que Cristo tem o domínio e Deus deu esse Cristo à igreja. Claro que Paulo usa um pronome relativo indefinido hëtis para afirmar que de qualquer forma essa igreja é o corpo de Cristo. Na verdade a estrutura gramatical grega não faz uma relação Cristo como cabeça da igreja diretamente, embora que se possa inferir. Paulo usa o substantivo kephalë como um aposto do objeto auton, que é Cristo e afirma que Deus o deu à igreja. O objeto indireto é a igreja të ekklësia. A ênfase é que Cristo é a cabeça de todas as coisas e Deus deu esse Cristo-cabeça à igreja, que é o seu corpo.
William Hendriksen em seu comentário desse texto escreve:

Nas epístolas gêmeas – Colossenses e Efésios –, a figura cabeça-corpo surge pela primeira vez nas epístolas de Paulo, para indicar a relação entre Cristo e sua Igreja. É verdade, sem dúvida, que aqui em Ef 1.22, 23 não se diz que Cristo de fato é a cabeça da igreja, senão antes que Ele é a “cabeça, sobre todas as coisas, à igreja... seu corpo”. Porém, esta maneira de expressar-se simplesmente realça a beleza do simbolismo. A significação, pois, é esta: já que a igreja é o corpo de Cristo, com a qual Ele está organicamente unido, seu amor por ela é tão grande que faz uso de seu poder infinito para que o universo inteiro, com tudo que nele existe, coopere em benefício dela, seja de bom grado ou não.[3]


Hendriksen demonstra exatamente que a ênfase de Paulo não é trazer uma relação direta Cabeça-corpo da igreja, mas demonstrar que o Cristo como cabeça de tudo foi dado à sua igreja. Essa igreja é o seu corpo onde ele preenche e dá sentido, cuidando e agindo em amor para com ela.
Portanto, não podemos fazer essa inferência para a igreja em Ef 1.20-23, pois o verso 23 demonstra o porquê que Paulo escreve sobre o corpo, pois Cristo o preenche e completa-o. Isso quer dizer que se Cristo é soberano e Senhor de principados e potestades, a sua igreja estará segura, mesmo que no momento ainda esses principados não estejam debaixo de seus pés totalmente. Somente no porvir (Rm 16.20; 1Co 15.24,25; Hb 10.12,13)

  1. Análise de Lucas 10.19

Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano.

            Precisamos admitir que esse texto pode levar alguém facilmente a aderir que Satanás esteja debaixo de nossos pés. Primeiro, por causa dos tempos verbais gregos “dar” e “pisar” que estão no presente didömi / patein que demonstra um tempo continuo. Esse tempo usado por Jesus nos evangelhos demonstra uma certa autoridade nas palavras. Depois, as expressões serpentes e escorpiões demonstram que se referem aos demônios, pois na segunda parte do verso Jesus afirma sobre todo o poder do inimigo. Portanto, temos que admitir que Jesus está dando uma promessa à sua igreja através dos seus discípulos, pois os evangelistas tinham uma intenção doutrinária ao escrever os seus evangelhos. Se alguém não aceita esse texto para igreja, fica difícil aceitar os da grande comissão, pois todos foram dirigidos aos apóstolos especificamente também.
            O que precisamos notar é que esse pisar em serpentes e escorpiões não são a mesma coisa de afirmar que Satanás está debaixo dos nossos pés, pois isso acontecerá somente depois (Rm 16.20). Esse pisar significa que Jesus nos deu autoridade sobre o poder das trevas e, por isso, podemos resisti-los sem nos causar danos (Tg 4.7; 1Pe 5.9).
Essa expressão de Jesus precisa ser interpretada segundo o Salmo 91.11-13, onde afirma:

11 Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos.  12 Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.  13 Pisarás o leão e a áspide, calcarás aos pés o leãozinho e a serpente.

            Os próprios discípulos foram abatidos diante de um demônio em um jovem, mesmo recebendo a autoridade de expulsá-los:

Tendo Jesus convocado os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para efetuarem curas. (Lc 9.1)

39 um espírito se apodera dele, e, de repente, o menino grita, e o espírito o atira por terra, convulsiona-o até espumar; e dificilmente o deixa, depois de o ter quebrantado.  40 Roguei aos teus discípulos que o expelissem, mas eles não puderam. (Lc 9.39,40)

            Jesus ainda disse que certas castas somente saem com oração e Jejum (Mt 17.21). Isso demonstra que a batalha não é tão simples como pensamos, mas apesar de termos poder e autoridade para pisar nas investidas do maligno, precisamos entender que ele ainda está em plena batalha contra nós como um adversário num ringue e como um leão (Ef 6.12; 1Pe 5.8).
            Esse pisar não é a mesma coisa do que Cristo fará. As imagens são diferentes. Uma diz respeito a resistir os adversários e seu poder sob o poder de Deus, a outra, diz respeito a pisar o inimigo em uma batalha definitiva. Uma é temporária e que até podemos ser abatidos, a outra é definitiva e decisiva. A segunda ainda não aconteceu. Anthony Hoekema, falando dessa passagem em seu livro A Bíblia e o Futuro, escreve: “Resta dizer que essa vitória sobre Satanás, embora decisiva, ainda não é final, uma vez que Satanás continua ativo durante o ministério subseqüente de Jesus (Mc 8.33; Lc 22.3 e 3.1)”[4].

  1. Em que consiste a nossa vitória sobre Satanás

Vem uma pergunta imediata diante do fato que Satanás ainda esteja em plena guerra conosco, frente a frente e rugindo como um leão: afinal de contas, em que consiste a nossa vitória em Cristo?
O apóstolo João afirmou por duas vezes no mesmo contexto que temos vencido o Maligno:

13 Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo, porque tendes vencido o Maligno.  14 Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais, eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno. (1Jo 2.13,14)

            Precisamos responder essa pergunta observando nas Escrituras em que consiste a nossa vitória sobre Satanás, já que o tempo verbal para vencer nikaö usado por João é o perfeito. Portanto, tem o sentido extensivo de resultado. Isso demonstra uma vitória que aconteceu no passado e estende-se até agora. Na verdade, a nossa vitória sobre Satanás aconteceu na cruz, mas ainda não se manifestou totalmente, pois ainda temos que lutar contra o poder de Satanás. Então em que consiste a nossa vitória sobre Satanás no momento?

4.1.Não somos mais manipulados ou possuídos por ele

O apóstolo Paulo ensinou bem claro que a manipulação extensiva e a possessão são daqueles que ainda não foram redimidos.

nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; (Ef 2.2)

            Paulo afirma que “outrora, antes” andastes pote periepatësate – aoristo indicativo demonstrando que aconteceu uma vez por todas. Antes, tínhamos as nossas vidas segundo os demônios. Os espíritos operavam em nós que éramos chamados de “filhos da desobediência”. Eles nos dominavam, seja de uma forma direta ou indireta, mas em Cristo, fomos livres dessa ação demoníaca. Embora que se tenha que admitir que Satanás possa usar ainda um crente (Mc 8.33; 2Tm 2.25,26), mas isso não é contínuo ou que chegue à possessão, pois Paulo ensina que fomos selados pelo Espírito Santo da Promessa e que ele habita em nós (Ef 1.13; 4.30; 1Co 6.19).
            Muitos usam o texto de Ef 4.27 para comprovar a possessão de crentes, mas o substantivo grego topos quer dizer não somente lugar, mas oportunidade (At 25.16 [no original topon te apologias laboi Peri tou enklëmatos “que receba oportunidade de defesa da acusação”]; Rm 12.19; 15.23; Hb 12.17). Paulo está deixando claro que podemos dar oportunidade para que o diabo nos ataque nas áreas exortadas e sejamos abatidos na batalha, desmoralizados, desanimados ou anulados no avanço do Evangelho, pois no verso 30 Paulo afirma que fomos selados uma vez por todas esphragisthëte (aoristo passivo). Portanto, não é base para a possessão de demônios na vida de um crente.
            Precisamos notar que podemos ser abatidos num determinado combate por Satanás, seja por oportunidade ao diabo que damos, seja porque estamos diante de uma situação que exigirá mais oração, jejum e perseverança.
            Paulo não negou que podemos ser abatidos. Ele afirma:

perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; (2Co 4.9)

            Paulo usou o verbo kataballö usado na LXX para batalha entre inimigos e povos rivais. Paulo admite que podemos ser abatidos, mas não destruídos. Notem que Paulo foi impedido de ir a determinado lugar por Satanás:

Por isso, quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho. (1Ts 2.18)

            O verbo para barrar é enkoptö era usado para impedir estradas e o caminho de alguém. Paulo afirma que ele foi impedido mais de uma vez de ir a Tessalônica por Satanás. Não sabemos os detalhes e nem por que ele foi impedido, mas ele teve o discernimento e registrou isso inspirado pelo Espírito Santo. Se Satanás estivesse debaixo dos pés de Paulo, seria difícil pensar que Paulo fora abatido por Satanás e impedido por ele, principalmente que era para pregar o Evangelho.
            Outro exemplo é a carta que Jesus mandou à igreja de Esmirna:

Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. (Ap 2.10)
           
            Quem está escrevendo é o próprio Jesus que venceu e tinha sido louvado pela sua vitória como o Cordeiro que tomou o livro e abriu os seus selos. Porém, aqui Jesus escreve que terão alguns que Satanás prenderá para serem provados e teriam uma tribulação de 10 dias.

A mesma coisa na igreja de Pérgamo:

3 Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. (Ap 2.13)

Antipas, apesar de ser uma fiel testemunha, por habitar no que Jesus chamou de trono de Satanás, foi morto e abatido, mas não destruído porque Jesus o recebeu depois.
Portanto, podemos ser abatidos como numa batalha, pois Satanás ainda não está destruído totalmente porque o Senhor não o pisou definitivamente. Isso acontecerá somente na sua vinda em glória e poder (1Co 15.24,25; Hb 10.12,13; 2Ts 2.8; Ap 20.10).

4.2.Suas acusações não têm mais valor por causa da redenção de Cristo

A Bíblia afirma que Satanás é o nosso acusador (Ap 12.10). O seu outro nome é chamado de diabolos, que quer dizer “aquele que lança em rosto ou aquele que acusa”. Éramos, antes, escravos das acusações de Satanás devido os nossos pecados e nossa natureza. Paulo ensina que fomos livres de toda acusação e condenação.

Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.  2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. (Rm 8.1,2)

33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.  34 Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. (Rm 8.33,34)

4.3.Autoridade de expulsar os demônios

A vitória de Cristo nos deu autoridade de expulsar os demônios e enfrentá-los no poder do Espírito Santo. Jesus tinha dado essa autoridade aos seus discípulos:

19 Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. (Lc 10.19)

Jesus deu autoridade aos seus discípulos que se estende à sua igreja, confirmado na sua subida aos céus:

17 Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; (Mc 16.17)

Essa autoridade implica na vitória de Cristo na cruz que os despojou e os humilhou, dando-nos autoridade para expulsá-los e resisti-los em oração e jejum (Cl 2.14,15).

  1. O Já e o Ainda-não do Reino

A Igreja precisa entender e viver consciente dessa grande tensão entre o que Hoekema chamou de “a tensão entre o já e ao ainda-não”. Ele escreve em seu livro A Bíblia e o Futuro o seguinte:

Vimos que aquilo que caracteriza especificamente a escatologia do Novo Testamento é uma tensão subliminar entre o “já” e o “ainda-não”. O crente, assim ensina o Novo Testamento, já está na era da escatológica mencionada pelos profetas do Antigo Testamento, mas ainda não está no estado final. Ele já experimenta a presença do Espírito Santo em si, mas ainda espera por seu corpo ressurreto. Ele vive nos últimos dias, mas o último dia ainda não chegou.[5]

            Hoekema demonstra essa tensão entre o Reino que se manifestou e o Reino que se consumará na vinda de Jesus Cristo. Assim também, com respeito a Satanás. Ele já foi vencido uma vez por todas na cruz, mas ainda não consumou essa vitória totalmente. Ele ainda age com sagacidade, ferocidade e ardis. A Igreja precisa entender que o diabo ainda não foi destruído totalmente que acontecerá quando Jesus vier em sua glória e poder (2Ts 2.8).
            A tensão do Já e o Ainda-não precisa ser levada a sério, porque Satanás ainda pode nos abater e deixar-nos no chão, mesmo que já sejamos vitoriosos em relação à salvação. Podemos perceber isso nos ensinos de Paulo aos coríntios:

em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor,  5 entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus. (1Co 5.4,5)

            A igreja ainda não tem Satanás debaixo dos seus pés, embora que ele já foi humilhado e derrotado por Cristo na cruz. A posição de Satanás é de linha de frente guerreando com toda a sua fúria para nos abater e frustrar os desígnios de Deus.

CONCLUSÃO

            A vitória de Cristo não nos exclui da batalha diária contra a força das trevas e dos demônios que tentam nos abater lançando suas setas inflamadas.
            Satanás não está ainda debaixo de nossos pés, embora que Jesus nos deus autoridade para expulsar os demônios, mas poderemos ser abatidos se dermos oportunidade topos ao diabo ou se estivermos numa situação de conflito maior com demônios como Antipas que foi morto num lugar que Jesus chamou “Trono de Satanás”.
            A consequência de não levarmos em conta isso é o descuido da vigilância e da batalha espiritual. Se Satanás está debaixo dos nossos pés, por que vigiar e cuidar para não ser abatido? Se ele está debaixo de nossos pés, resta-nos agora descansar, pois não temos o que temer ou vigiar.
            Jesus ainda não pisou a Satanás definitivamente, como foi mostrado. Isso acontecerá somente na ocasião da sua vinda em glória e poder.
            Portanto, a posição de Satanás não é debaixo de nossos pés, mas à nossa frente, pronto para nos derrubar ou como um leão pronto para nos atacar. Devemos vencê-los firmes na fé, conscientes que é maior aquele que está em nós do que aquele que está no mundo e o domínio está nas mãos do nosso Deus (1Jo 4.4; 1Pe 5.11).
           





[1] CALVIN, John. Commentary on Galatians and Ephesians. Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library, 1999, p. 202
[2] MASTERMAN, Howard B. The First Epistle of S. Peter (Greek text). New York: The Macmillan Company, 1900, p. 169.
[3] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Efésios. São Paulo: Cultura Cristã, 1992, p. 130.
[4] HOEKEMA, Anthony. A Bíblia e o Futuro: A doutrina bíblica das últimas coisas. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 59.
[5] Ibid., p. 83.

O BRASIL ESTÁ REFÉM





O Brasil está refém da corrupção, do Sarney, do Lula porque o Brasil é um país de corruptos. Claro que há exceções como tudo na vida, mas essas são quase imperceptíveis diante da maioria esmagadora de corruptos brasileiros.
A prova é que, apesar de várias denúncias de corrupção desse governo, ainda tem 80% de popularidade. Os corruptos colocam como desculpa que todos os candidatos são corruptos e, por isso, continuam a votar no mesmo governo. Mas, não é verdade, sempre há um candidato que se pode, pelo menos, dar um voto de confiança até a próxima eleição, o problema é que esses corruptos querem uma desculpa para despejar suas barganhas e privilégios pessoais sem ver o todo da população.
O Brasil é um refém do tráfico das favelas, pois o governo não tem moral e nem capacidade para fazer nada, exceto colocar alguns policiais, pais de família só para fazer um “H”. Todos estão ilhados diante da tamanha corrupção que existe no país.
Os intelectuais do Brasil são ingênuos e de intelectualidade não tem nada. Intelectual é aquele que pensa, sabe discernir imparcialmente devido ao conhecimento filosófico e outros; mas o que nós vemos no Brasil são cantores e poetas, até inteligentes, que são verdadeiros patetas. São patetas porque, ao invés de darem exemplo de reflexão e discernimento, se conformam com o todo, achando que estão ainda em nome da esquerda. Que imbecilidade! Esses são patetas de fato.

O livro “Honorários Bandidos – um retrato do Brasil na era Sarney” de Palmério Dória é um retrato realmente do Brasil, pois o senador Sarney está lá porque foi votado, é presidente do senador porque foi votado, os governistas o absolveram de ser punido na comissão de ética do senador porque foi votado (embora que se saiba que a comissão de ética do senado é uma “Zorra Total”). Enfim, esse livro retrata a situação do Brasil.

Enquanto isso, os meios de comunicação somente passam o pré-sal e esquecem as pessoas morrendo nos hospitais, as escolas sem estruturas, professores e a educação falidos como afirmam vários especialistas e pesquisas na área.

O Brasil é um país corrupto e está refém do próprio povo que é corrupto. Por isso, merecem o País que tem, merecem o Maranhão que tem, pois o Maranhão está no comando do país no senado.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

CAIM SEGUNDO JOSÉ SARAMAGO



O autor português, prêmio Nobel de literatura de 1998, José Saramago lançou, recentemente, um livro chamado “Caim”. Com base nesse livro, ele afirma: “o Deus da Bíblia não é de se confiar, é má pessoa e vingativo”. Ainda afirma: “Não absolvo Caim, mas acuso Deus de ser o responsável do assassínio ao recusar a oferenda dele. Que diabo de Deus é este que para enaltecer um irmão despreza o outro?". Mesmo diante das várias críticas, o autor ainda escreve em seu blog chamado “caderno.josesaramago.org” vários artigos que tocam no nome de Deus como um dos artigos chamado “Um terceiro deus” que ele afirma que mais um deus precisa ser criado para trazer equilíbrio e paz, já que os deuses do cristianismo e islamismo foram apenas criações humanas e que trouxeram somente crises culturais, afirma ele.

Facilmente, pode-se ver a insensatez de um ateu. Um ateu sempre pensa que está sendo um gênio, mas traz rastros de estupidez e ignorância. Não é à toa que a Bília afirma que um ateu é um insensato (Sl 14.1). Um ateu pode ser considerado uma pessoa insensata até sendo um prêmio Nobel de literatura. Isso acontece porque o ateu se fecha para a lógica e para a reflexão, embora que eles juram de pés juntos que eles são racionais. Mas se alguém analisar qualquer obra de um ateu com atenção, verá um rastro claro de insensatez.

José Saramago entrou num terreno que não é dele, tratou de um personagem da Bíblia que está num livro que deve ser interpretado devidamente com uma hermenêutica e exegese corretas, dentro de um conhecimento mais amplo de suas teologias. Coisa que, ao que parece, ele é completamente ignorante.

Pena que esse texto não chegue ao prêmio Nobel, pois ele aprenderia, pelo menos a ser mais humilde quando se trata de um texto que ele não tem conhecimento.


O site RTP de Portugal afirma numa gravação que Saramago disse que deveriam fazer críticas ao seu livro pelo seu valor literário e não pelos temas. Ora, mais uma insensatez. Como alguém analisa o valor literário sem analisar a relevância e coerência do tema exposto na obra, principalmente, quando se trata de uma acusação gratuita a Deus que ele afirma que não existe? Quando se distorce a realidade em nome de uma literatura medíocre, com razão essa literatura deve ser alvo de crítica, qualquer que seja ela.

José Saramago desconhece que Deus não tinha a obrigação de receber a oferta de Caim, pois toda a humanidade estava sob a maldição da condenação de Deus. Por causa de Adão, todos estavam separados do Criador. A partir dali, Deus somente receberia uma oferta vinda de fé (Heb 11.4). Tenho certeza que virá a pergunta: mas o que tinha os demais homens a ver com Adão? Toda a raça humana estava representada em Adão. Isso significa que quando Adão transgrediu a Lei de Deus, a condenação veio a todos, pois qualquer pessoa faria a mesma coisa a partir dali (Rom 5.12). Bem, eu sei que para um ateu é difícil entender isso, então eu espero que quem esteja lendo seja mais inteligente.


Segundo, Saramago não levou em conta nem o contexto do texto sobre Caim. Para mim, comprova uma mediocridade literária obtusa das piores. No texto de Gênesis 4.6,7 Deus chama Caim e adverte-o sobre o que ele intentava fazer. Deus estava ensinando que as ofertas deveriam ser oferecidas através da fé, ou seja, através da confiança da salvação providenciada por Deus que seria o Messias. Depois, Deus o chama quando matou seu irmão (Gen 4.9,10). Não foi falta de oportunidade de arrependimento para Caim para deixar o seu intento.

Outro erro de Saramago, como sempre, é achar que Caim e Abel foram os únicos e que Adão não teve mais filhos nesse ínterim. Ele afirma que Caim estava certo em querer evitar a propagação da raça que estava muito má. Quando fala da morte de Caim e Abel no livro de Gênesis, Adão e Eva já tinham outros filhos, pois não se sabe quando aconteceu esse episódio porque os homens viviam muitos anos naquela época.

Portanto, esse livro demonstra uma falta de conhecimento demonstrando muita bobagem e tenho que afirmar(minha língua está coçando para dizer, sinto muito) não passa de um livro de um português.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

É PROIBIDO SER HETEROSSEXUAL NO BRASIL


Eu li uma notícia que fiquei impressionado de como está a moralidade do nosso mundo. Uma psicóloga foi punida por tratar de homossexuais que queriam ser heterossexuais (http://noticias.bol.uol.com.br/brasil/2009/07/31/ult5772u4824.jhtm). Notem o que vou repetir: uma psicóloga foi punida por tratar de pessoas que queriam deixar de ser homossexuais e desejavam ser heterossexuais, ou seja, a psicóloga foi punida porque se colocava à disposição de alguns que estavam em crise com a sua sexualidade e queriam deixar de cometer a prática homossexual.

O que impressiona é que ela corre o risco de ter o registro cassado como afirma o líder do ABGLT, Toni Reis: “Precisamos que essa senhora pare de atuar. Já temos, inclusive, notícias de outros profissionais que têm atuado de mesma forma que ela, principalmente ligados a religiões”. A resolução do CFP de 1999 proíbe os psicólogos de tratarem a homossexualidade como doença, distúrbio ou perversão. Com base nisso, eles já tinham feito uma censura pública à psicóloga.

Isso é impressionante, pois não se sabe até onde isso vai chegar. Isso não deixa de ser uma proibição a ser heterossexual. Uma vez que alguém se decida a ser heterossexual, segundo esses senhores, não se pode mais buscar ajuda de ninguém, não se pode buscar um psicólogo. Seria um crime quem se prontificasse a ajudá-los.

É interessante que isso não acontece no lado oposto. Com base nisso, para ser justo, todo médico que se prontificasse em mudar o sexo de alguém, deveria ser punido. Todo farmacêutico que vendesse algum hormônio masculino ou feminino para alguém que quisesse parecer com o mesmo sexo deveria ser punido, todo dono de loja que vendesse vestidos a travestis deveria ser punido. Afinal de contas, todos não são iguais perante a lei? Até o ato de ter um líder de movimento homossexual já é uma discriminação.

O que vemos é uma sociedade homossexual que abre a principal avenida do país para o desfile do orgulho gay, onde há um verdadeiro show de mediocridade, imoralidade, devassidão e sujeira. É impressionante que a nossa sociedade puna quem quer tratar alguém que deseja voltar à normalidade da sua sexualidade. Notem que as letras da sigla dos homossexuais estão aumentando. Antes era ABGL. Depois colocaram um T de “transexuais”. Depois vão colocar um P de “pervertidos” para completar. Sim, porque o que vemos nas passeatas gays são pessoas em total perversão de valores familiares, morais e espirituais. Existem muitos homossexuais que estão em crise existencial, moral, psicológica e, principalmente, espiritual. Muitos vieram de um abuso sexual na infância, muitos vieram de uma crise de identidade. Portanto, se tem alguém que deveria ser tratado é um homossexual.

Portanto, a punição da psicóloga traz um temor: hoje é proibido tratar dos homossexuais, amanhã será proibido tratar daquelas mulheres que abortaram, daqueles que são necrófilos, que fazem sexo com animais, pedófilos. Basta ter um líder. Claro! Se não há base moral para dizer que o homossexualismo é errado, qual a base para se dizer que essas outras são?

Cuidado! Quem é heterossexual, fique uma vez por todas, pois é proibido ser heterossexual no Brasil, mas quem quiser ser homossexual, fique à vontade, pois, segundo a nossa sociedade homossexual, alguém pode mudar de sexo para o homossexualismo, pode até falar com líderes homossexuais para dar uma ajudazinha, mas é proibido fazer alguma coisa para ser heterossexual no Brasil.

A CRÔNICA DOS BICHOS


A CRÔNICA DOS BICHOS

Aconteceu, numa floresta bem distante, um grande problema no reino animal. O Rei desse reino era um Leão chamado Lelu; seus assistentes eram os lobos, hienas, raposas e macacos, mas a maioria era composta de lobos, hienas e raposas.

Houve uma crise no reino depois que souberam que alguns lobos comeram algumas aves da propriedade da Sra. Tartaruga. O principal acusado foi um perigoso lobo que trabalhava no Reino do Leão Lelu. Esse lobo foi visto por um macaco pegando as aves da propriedade da Sra. Tartaruga e então esse lobo contou tudo que sabia aos papagaios, responsáveis pelas notícias na floresta. Com isso, por causa da grande repercussão na Floresta, foi sugerido abrir uma comissão de sindicância no parlamento do Reino do Leão Lelu. O Rei Lelu, junto com os outros bichos começaram a agir para que não tivesse essa comissão. Começou-se a ver benefícios a alguns bichos para que votassem contra, porém, por causa da grande repercussão dos papagaios, até os lobos, hienas e as raposas aceitaram.

Foi aberta a CPF (Comissão Parlamentar da Floresta). O problema era que no parlamento do Reino do Leão Lelu havia macacos, alces, renas; mas os lobos, que eram a maioria, queriam dirigir a própria CPF. Alguns macacos, que eram da oposição, diziam: “como pode isso?” Os lobos julgarem os próprios lobos? Isso não deu resultado. Escolheram para presidir a CPF lobos e como relatores, raposas. Os poucos macacos choravam de ver tanta disparidade e mediocridade, mas os lobos passavam a língua nos focinhos e as hienas riam do restante da bicharada. Foi que um lobo disse tudo que sabia, inclusive envolvendo o Rei Lelu. Enquanto isso, o rei Leão Lelu viajava pelo Reino, rindo para os burros e cavalos que não podiam pensar muito. Os burros e jumentos faziam passeata protegendo o Leão Lelu e a sua popularidade estava ainda alta.

O problema disso foi que, para surpresa de alguns bichos, o Leão Lelu não era bem um Leão, mas um lobo também vestido de Leão, pois as denuncias deram a entender que o Leão Lelu, pelo menos aceitou os outros lobos comerem as aves da Sra. Tartaruga.

Bem, o Reino ficou um caos de moralidade. Os papagaios falavam todo dia sobre a CPF que os lobos presidiam e, enquanto isso, os burros e jumentos, que eram muitos, prometiam votar ainda no Leão Lelu. O problema é que, antigamente, o reino era governado por uma Raposa e ela quase acabou com as árvores do Reino e então, a bicharada escolheu um Leão, mas no fundo era um lobo.

O Resultado é que a CPF, como se espera, foi um fiasco. Os lobos acusados fazem chantagem aos outros lobos e raposas buscando sair da punição do STF (Supremo Tribunal da Floresta), composto de Corujas, mas existiam também Urubus, pois estavam dando Habeas Corpus àqueles que eram acusados para falarem o que quiserem na CPF.

Diante desse desespero, o Leão Lelu pediu ajuda a Tigre Dente de Sabre e a um famoso Mamute, os animais mais antigos e ferozes os quais tentaram defender o Rei Leão Lelu.

Afinal, a bicharada não espera nada dessa CPF, mas pelo menos que os burros e cavalos saibam em votar, pois o Leão Lelu diz que vai se candidatar a Rei novamente junto com alguns lobos, crocodilos ou até mesmo entre na disputa uma leoa.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

VOAR DE AVIÃO É UMA ROLETA RUSSA



Dizem que o avião é o meio de transporte mais seguro que existe. Segundo a reportagem da revista Veja sobre o Voo 447 da Air France, 13 milhões de pessoas viajam a bordo de jatos comerciais. A revista afirma ainda que esses 13 milhões de pessoas estão mais seguros que estivessem parados na esquina noturna do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Afirmam que quem voa corre menos risco que quem cuida de abelhas, já que mais pessoas morrem a cada ano de picadas de abelha que acidente de avião.

Eu gostaria de questionar algumas coisas sobre isso. Primeiro, não quero ser um pessimista, trazendo medo às pessoas, mas ser realista diante de uma verdade que não se pode negar. Depois, precisamos entender que na vida sempre estaremos diante de riscos, seja de qualquer forma. Há casos de morte de ciclistas, quedas dentro da própria casa etc. Portanto, quero apenas ser um pensador e como alguém que de vez em quando anda de avião também.

Primeiro precisamos pensar que nem todas as pessoas ficam paradas numa rua do Rio de Janeiro ou de São Paulo, nem todas as pessoas são criadores de abelhas. Portanto, essa comparação de segurança não vale para um bom número de pessoas. Isso parece simplista da minha parte, mas apenas quero desfazer essa falácia de um silogismo mal feito. É como se eu dissesse que acertar na loteria é tão fácil como se acertasse a trave de futebol com a bola 2 vezes com apenas dois chutes como o Ronaldinho gaúcho faz. Todos sabem que se houver essa comparação é falaciosa, pois nem todos chutam como Ronaldinho Gaúcho. Portanto, comparar o voar de avião com o estar em um determinado lugar específico sem que muitos não podem estar, constitui uma falácia.

Mesmo que se tenham percentagens pequenas de acidentes para o número de aviões, não se pode esquecer do outro percentual que pode acontecer a qualquer momento. O problema não é o número, mas quando acontecerá. Pode-se ter 1% de possibilidade de alguém ser picado por uma cobra na cidade, mas quando e quem será depende da ocasião. Isso mais ainda constitui uma roleta russa.

Voar de avião é um risco porque a segurança sempre dependerá da perícia e perfeição humanas de projeto e trabalho na máquina, coisa que é impossível. Todos devem saber se existe um só homem, pode haver falhas. O voo 447 da Air France tem comprovado exatamente isso, pois um avião com tecnologia de última geração que estava em plena legalidade de revisão e de uso, tendo feito vários voos cruzando o oceano e o mundo foi alvo da maior tragédia do nosso século, até agora, onde 228 vidas morreram em minutos. Esse acidente, juntamente com outros que aconteceram em pouco tempo no Brasil, demonstram que voar de avião é participar de uma roleta russa. Um dia será alguém.

Um dia será alguém porque toda máquina dá defeito, toda fabricação tem falhas, todo ser humano se engana, mesmo com toda a perícia e destreza em fazer a máquina. A revista traz na reportagem que para corrigirem um problema no reverso dos jatos, precisou ter vários acidentes graves na aviação. Ela afirma que em 1991 aconteceu um grande acidente com um Boing 767 depois que os reversos se abriram em pleno voo de cruzeiro. Daí, fizeram os reparos de engenharia chegando a falhar em outro grande acidente da TAM em São Paulo. Olha que não se está nem levando em conta o caos dos aeroportos e dos técnicos que são responsáveis pelas informações dos voos aos pilotos e tripulantes.

A comparação que alguém corre mais risco indo ao aeroporto de carro que viajando de avião não convence. Não convence porque se o motor de um carro parar, temos plena condição de sobrevivermos; agora, se o motor de um avião parar, as chances estarão no nível dos milagres. Se faltar combustível em um carro, temos plena condição de sobrevivência, mas num avião, as chances são remotas como aconteceu no voo da Varig que pousou na floresta amazônica exatamente por falta de combustível.

Portanto, quem voa de avião, deve aprender a orar e ser bem resolvido com o porvir. Um dia será alguém. Espero que não seja ninguém que esteja lendo esse texto, pois voar de avião é uma roleta russa. O revólver pode disparar sem que a bala saia, mas ela sempre estará no pente. Sempre a máquina esperará o dia em que gritará com toda a força que não passa de uma máquina e que somente os pássaros voam com segurança.