terça-feira, 16 de outubro de 2007

RENOVAÇÃO E DOUTRINA


Falar de sua própria denominação ou de seu próprio seguimento não é fácil. Realmente é como se cortasse a própria carne; porém, nesses últimos anos tenho me preocupado com o futuro de minha denominação e das igrejas neo-pentecostais, chamadas “renovadas”. Antes, gostaria de afirmar que creio na contemporaneidade dos dons, no Batismo no Espírito Santo como uma bênção advinda depois da salvação. Não somente creio como, pela graça de Deus, tenho alguns dons diversos e tenho um texto escrito sobre o dom de línguas falado na igreja. Infelizmente, tenho que começar falando dessa forma para mostrar que não perdi a visão de pregar e crer em todo o conselho de Deus, como disse o apóstolo Paulo.

Outra consideração que gostaria de afirmar, caso esse texto seja lido por incautos e desavisados, é que a palavra “doutrina” quer dizer ensino das Escrituras – didachë. Não falo de usos e costumes como essa palavra significa a alguns grupos.

A renovação veio como um avivamento, como uma roupa nova que estava guardada no guarda-roupa e a Igreja passou a usá-la, pois começaram a crer no Batismo no Espírito Santo, na contemporaneidade dos dons, na expulsão de demônios e na pregação do Evangelho conforme diz Marcos 16.15-20. Não obstante tudo isso, muitas doutrinas estranhas entraram no seio da igreja renovada ameaçando as principais doutrinas da fé cristã, bem como trazendo decepção da vida cristã a muitos por promessas que não se cumprem. Há muito tempo, a igreja renovada deixou a doutrina reformada da “justificação somente pela fé”. Muitas igrejas são semi-pelagianas, pastores negam abertamente a salvação somente pela fé. Para piorar, muitos crêem na palavra positiva, maldição hereditária vinda das palavras e possessão de demônios em crentes, anulando e colocando em xeque a obra de Cristo na cruz. Paulo deixou claro que Cristo se fez maldição em nosso lugar afim de que a bênção de Abraão chegasse até nós e recebêssemos o Espírito prometido (Gl 3.10-14). Paulo usa, no verso 14, os dois verbos gregos no subjuntivo aoristo genëtai / traduzido na RA para chegar até, tornar-se e labömen / receber. Isso quer dizer que é uma vez por todas, como certo e não duvidoso. Cristo fez tudo o que devíamos ter e receber. Por isso que fomos ABENÇOADOS com toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestiais (Ef 1.3). O que vem depois é somente a santificação e ponto final.

As igrejas renovadas não se contentam com a revelação da Palavra de Deus. Partem para especulações e algumas doutrinas são baseadas, unicamente, em experiências. O pragmatismo tomou conta das nossas igrejas e dos chamados “profetas e apóstolos”. Geralmente, as pregações dos pastores renovados são vazias de conteúdo bíblico e contentam o povo com orações por curas e para caírem; mas as pregações são cheias de doutrinas com uma Hermenêutica defeituosa, sem compromisso com a exegese bíblica. Muitos inventam nomes de demônios que jamais a Bíblia falou e jamais ensinou. As palavras na oração de petição, rogar, pedir são trocadas por “eu decreto”, “eu profetizo”; sendo que o próprio Jesus usou rogar, pedir ao Pai. Hoje, a Igreja renovada trocou até a linguagem bíblica por pragmática e vinda da Teologia da Prosperidade dos USA.

Os pastores renovados têm baixo conhecimento exegético e teológico. Até as Assembléias de Deus estão escrevendo comentários bíblicos, aderindo a escritos de Puritanos como Matthew Henry. Porém, quando se procura no evangelicalismo renovado mestres capazes, praticamente não existem. Diante de uma tese que defendo com respeito aos últimos versos de Marcos eu tenho que depender somente de escritos em inglês. Todos eles de mestres e doutores de igrejas históricas. A maioria dos pastores pentecostais não se aprofunda em Teologia, principalmente renovados. Quando vemos no Brasil, há um baixo nível de conhecimento teológico de pastores renovados e aqueles que têm, usam somente quando ensinam nos seminários. Colocam-na, somente, na área acadêmica. Infelizmente, não confio para ministrar em minha igreja, na maioria de pastores renovados, ou quase todos. A razão é porque muitos não têm uma boa análise das Escrituras e são adeptos das doutrinas da palavra positiva, maldição hereditária para crentes, e outras coisas sem base. Não é raro conversar com um desses pastores e ouvir: “tem coisas que a Bíblia não ensina e, por isso, temos que depender das experiências”. Com tristeza de coração digo que esses há muito tempo se distanciaram da igreja reformada e da Palavra de Deus que diz que TODA ESCRITURA É INSPIRADA POR DEUS E ÚTIL PARA O ENSINO, CORREÇÃO, EDUCAÇÃO NA JUSTIÇA (2Tm 3.16). Temos que admitir que a Bíblia não explica tudo; porém, ela nos dá base para tudo que devemos aceitar para o nosso crescimento e vida espiritual. Qualquer coisa que não tenha nenhum respaldo nas Escrituras devemos rejeitar com muito prazer.

A maioria das igrejas renovadas aderiu o tipo de crescimento G-12. Como opção de crescimento de igreja tem suas vantagens e importância, mas tem os seus perigos devido a alguns do Brasil introduzirem doutrinas e coisas que nem na Colômbia existe, onde se começou essa visão de crescimento. A maioria dos pastores de igrejas renovadas aderiu a ensinos que ferem doutrinas principais como, por exemplo: o sacerdócio de todos os crentes. Não é raro ouvir e ler mostrando que os pastores são sacerdotes e que existe o ministério “sacerdotal” para pastores, negando 1Pe 2.9. Muitos usam um broche com o peitoral dos sumos-sacerdotes, mostrando uma certa superioridade ministerial. Muitas igrejas renovadas aderiram coisas estranhas como o toque do shophar antes dos cultos, trazem réplicas da arca da aliança e outras coisas esquisitas ao Novo Testamento. Ensinam a doutrina das alianças de uma forma completamente errada e fogem completamente da teologia bíblica que muitos nem sabem o que é isso. Eles afirmam que as alianças são feitas entre o discipulador e o discípulo fazendo uma submissão perigosa e cheia de exageros, levando a agirem quase como uma seita fanática como cortar os cabelos da cabeça, ficar descalço nos cultos, usar pano de saco literalmente. Realmente, isso envergonha àqueles que tenham um mínimo conhecimento sistemático das Escrituras.

O que falar do louvor? Claro! Se as nossas igrejas estão falidas de mestres e de teologia, não se poderia esperar muito para o louvor, já que as letras são baseadas na Bíblia. A maioria das letras modernas, vinda de igrejas e comunidades renovadas ferem doutrinas sérias da Cristologia, dos atributos de Deus e da Soteriologia. As letras que deveriam falar da cruz e da glória ao Criador, Senhor e Pai foram trocadas por letras eróticas como apaixonar, beijar, tocar, etc. A coisa ficou tão séria, que nenhum corinho é tocado na minha igreja, se não passar por mim para análise da letra. Muitas são rejeitadas, infelizmente. O ápice do culto não é mais a ministração da Palavra, mas a do louvor com um som bem alto e uma palavra rasa e superficial.

Creio que um dos fatores para chegar a isso foi a tendência de pensar que alguém que crê nos dons não pode se aprofundar em teologia ou em exegese por que pode ficar frio. Por outro lado, aqueles que estudam teologia caem no mesmo erro em pensar que não podem buscar e crer nos dons por que, se não, ficam pentecostais. Tudo isso vem de uma má compreensão das Escrituras em mostrar que devem vir juntos o poder e a palavra. Jesus disse aos fariseus: “errais não conhecendo as Escrituras e nem o poder de Deus” (Mt 22.29). O poder sem palavra vira fanatismo e perigoso; a palavra sem o poder se torna dificultoso àquele que a usa, já que é o Espírito que convence, sendo a sua espada.

Os cursos e ministérios “para-eclesiásticos” de batalha espiritual têm feito transtornos a alguns quando ensinam que o crente pode ficar endemoniado e ser um suposto satanista. O julgamento é totalmente subjetivo e muitas igrejas têm tido problemas com pessoas que começam a julgar os irmãos, simplesmente dizendo que “Deus revelou que fulano é satanista”.

Portanto, precisamos de uma reforma novamente. Hoje não precisamos tanto de renovação, mas de reforma. Reforma no sentido de uma volta às Escrituras; reforma no sentido de uma volta aos fundamentos do Evangelho do Cristo e este crucificado. Precisamos de uma reforma entre os pastores em gastar tempo na preparação de estudos e em preparar-se para estarem prontos contra as forças das trevas, invadindo a igreja com doutrinas sutis e perigosas. O pior disso é que estão entrando pelas portas, vinda de pastores que se dizem renovados e igrejas não passam de um grupo de pessoas que dançam, pulam, choram (sinceras até); mas sem nenhum conhecimento teológico e doutrinário. Precisamos voltar. Creio que estamos indo para um caos. Se não voltarmos às Escrituras, estaremos diante de uma igreja nominal, medieval e voltaremos à chamada “Idade das Trevas”. Só que dessa vez, falando em línguas.

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